O FIM QUE ESCOLHI

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Lyontus

Ter minha irmã a cada fração de hora checando meus sinais vitais não estava me ajudando em nada. Estávamos cortando a galáxia numa velocidade acima do recomendado para nossa nave e tudo que ela se preocupava era com se eu ainda conseguia respirar e não com o fato de que as forças atuando sobre nós pudesse nos destroçar. Realmente sua aparente calma divergia do semblante dos outros tripulantes na ponte. Imagino que nenhum deles desejava morrer numa missão suicida, ainda assim continuavam comigo, mesmo com o perigo eminente de meu atual descontrole os afetar.

Tudo que eu conseguia pensar era em resgatar Lúcia ilesa. Salvar minha própria pele sequer fora cogitado durante esse tempo de perseguição. Havíamos perdido contato visual com a nave fugitiva há muito, estando, inclusive, fora dos nossos radares, porém o dispositivo de rastreamento funcionou como previsto. Sabíamos que estavam se dirigindo para a parte mais longínqua no quadrante 5, o que não representava qualquer surpresa; estávamos cientes do que tinha ali, o que me fazia temer o que estava por vir. A estação de Zephyrus era a única conhecida nesse quadrante por sua imensa gama de trabalhos e produtos ofertados. Era o ponto de comércio mais próspero de que se tinha notícia e também o ponto de encontro de toda espécie catalogada.  Zephyrus era o dono do lugar, porém, como numa grande civilização, haviam muitos serviços ali, portanto comerciantes, mercadores, compradores e afins, que pagavam como tributo ao dono uma pequena parcela de seus lucros e tudo que ele podia fazer como dono de um império, era manter a ordem para que tudo fluísse sob os estatutos da lei que ele criou para o lugar.

O que eu mais temia era o fato de saber que fêmeas de outras espécies eram comercializadas ali como produtos caros em suas prateleiras e se o destino final dos raça cinzenta era aquele local, o motivo não estava encoberto; eles pretendiam negociar sua preciosa carga recém adquirida. Quando conseguimos interceptá-los, já estavam saindo da estação. Após um breve confronto soube que as fêmeas foram deixadas na área de venda e foi para lá que segui, mas não antes de explodir a nave desses bastardos, com eles dentro.

Ao adentrar o lugar por um dos acessos de emergência, fomos direto para a ala onde as fêmeas são comercializadas, mas tudo que encontramos foi um cenário caótico; semblantes assustados à nossa volta, das fêmeas nas jaulas e nenhuma delas era a minha e um  “cinzento” jazia ao chão, com a cabeça esmagada, o que me levava a crer que algo saíra muito errado para ele.

— Vocês são realmente rápidos! — Zephyrus aparece atrás de nós e ao encará-lo percebo seu semblante provocativo — a humana não mentiu! — a afirmação flui por seus lábios como algo sombrio enquanto seu olhar pousa sobre mim.

— Onde elas estão?! — indaguei sem me ater a protocolos, mesmo sabendo sua linhagem. Se ele está se dando ao luxo de me provocar, certamente sabe a razão da minha vinda.

— Eu pretendia libertá-las, mas fui mal interpretado… não se preocupe, já mandei que fossem encontradas e trazidas de volta em segurança. — fala tranquilamente e parece nos sondar, um por um, até seu olhar se deter no humano ao meu lado — Interessante! Achei que não procriavam com outras raças! — seus olhos cintilavam e eu podia ver a acusação nas entrelinhas.

— Cada espécie faz o que precisa para sobreviver! — minha irmã parece tão impaciente quanto eu ao dizer essas palavras.

— É claro! Acompanhem-me! — fez sinal para que nós os seguíssemos.

Fomos através do corredor vazio e sem atrativos, até entrar numa área restrita.

— O que está acontecendo?! Para onde o grandalhão está nos levando?! — Samuel questiona.

— É melhor não fazer perguntas! Ele não é alguém que possamos ofender livremente! — Caelestis o exorta.

A caminhada durou apenas alguns minutos, até estarmos numa sala ampla e com todos os requintes para atender a um soberano. Porém,  não foi isso que chamou minha total atenção, mas o fato do rei de Alfa-Centauri estar ali, e mais que isso, ao seu lado estavam as duas fêmeas responsáveis por essa incursão. Uma tremia sentada no canto do assento, com os joelhos junto ao corpo e os braços os abraçando, formando quase uma bola e a outra de pé, consolando-a; era a minha Lúcia.

A VERDADE ESTÁ LÁ FORA Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon