SAINDO DO CONTROLE

761 153 50
                                    

Lyontus

Assim que adentro na Sala Branca, Caelestis me olha de forma repreensiva. Não interessa que eu seja seu superior,  ela odeia que entrem nesse lugar sem o devido protocolo.  Sua vida de estudos e experimentos estão nesses tubos de ensaios e nessa I.A. que ela mesma inventou. Se por um lado, sou o supremo ancião de uma civilização,  ela se iguala em status por toda evolução tecnológica e científica que tem nos proporcionado.

— O que você aprontou,  Lyontus?! — seu olhar se torna ainda mais duro ao observar a fêmea inconsciente em meu colo e com fluídos manchando nossas roupas.

— Ela está tendo uma reação ao implante…

— Eu avisei sobre isso! — bateu impaciente na mesa — Por que não tiraram ainda?! Quantas vezes precisarei repetir para aquelas crianças que o implante tem um tempo autolimitado em humanos?! Mesmo assim continuam a brincar com esses seres como se fossem seus deuses?! — sua irritação é crescente.

— É para o bem do nosso povo! — tento justificar aquilo que ela já sabe.

— Eu tenho tudo sobre controle! Vocês não precisam abusar de outras espécies! Só vamos tirar deles o necessário! — aponta a cama à minha frente,  onde ponho a pequena em meu colo — E por falar nisso, já localizaram a nave que atropelamos ao chegar?! Havia um ser vivo a bordo, conseguiram fazer o resgate?! — questiona sem me olhar diretamente.

Houve esse incidente na nossa chegada. Utilizamos a tecnologia de salto para facilitar nossas viagens, mas assim que irrompemos nesse espaço,  um módulo arcaico vindo da terra estava em rota de colisão e por muito pouco conseguimos desviar. Pelas leituras que tivemos, se tratava de uma fêmea à bordo, porém não conseguimos rastreá-la depois disso, o que era, no mínimo,  estranho, já que se tivesse se desintegrado,  acharíamos fragmentos e ela, simplesmente,  desapareceu como se nunca houvesse estado lá. Foi o que expliquei para Caelestis.

— Temos consciência que isso foi um incidente lamentável, não é?! Mas, e isto? — Ela aponta a fêmea na cama — Ela está morrendo, Lyontus! Mesmo tirando o implante,  não há mais retorno! — avisa.

— Dê seu jeito! — Dou a ordem sem me incomodar com o quanto ela se empertiga ao me ouvir falar assim — Temos tecnologia para esse fim, a estrutura humana é bem fácil de ser reconstituída,  diferente de nós.  Se acha que lhe devemos algo, acrescente alguns "bônus" e nossa dívida estará paga. — Explico calmamente.

— Hum, são nossos animais de laboratório agora? — Há um brilho afiado em seu olhar e dou graças aos deuses por essa fêmea ser minha irmã,  do contrário meus fluídos já estariam espalhados nesse chão imaculado e ela o pisoteando como lixo.

Ter irmãos é algo raro para o meu povo, mas não impossível,  então eu poderia me considerar um ser extremamente abençoado. Somos filhos do mesmo pai, mas com mães diferentes. Ser da nobreza tinha seus privilégios e meu pai fizera bom uso deles, principalmente no que tange a gerar descendentes. Se para a maioria,  compartilhar fêmeas para sobreviver era algo natural,  ele pôde manter duas só para si, pois assim que minha mãe me gestou, fora necessário buscar outra para manutenção de sua vida; essa a mãe da minha irmã.

Se por um lado éramos em maior número,  por outro, isto não era suficiente para nos fazer menos suscetíveis aos humores dos nossos pares. Nossas fêmeas costumam se tornar violentas e eficazes máquinas de matar quando seus interesses são ameaçados. Não é atoa que posso sentir a intenção assassina vindo do ser esguio em minha frente, mesmo quando aparentemente minha presença é ignorada. Mesmo enquanto suas mãos ágeis buscam caminhos no corpo da fêmea humana,  rasgando tecidos e introduzindo finas cânulas em suas veias, com a precisão que conheço bem.

A VERDADE ESTÁ LÁ FORA जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें