VIPER [JJK]

Capítulo 12: Estranhos

Harin encarou a porta pela quinta vez em vinte minutos, faltava pouco para o fim de seu expediente e Jungkook não tinha aparecido. Nos últimos dias, ele sempre aparecia um pouco antes do horário dela acabar, algumas vezes sentava numa das mesas e observava Harin de maneira discreta.

   — Seu namorado se atrasou hoje — Wonjun parou na entrada da cozinha segurando um pacote de frango congelado.

  — Ele não é meu namorado.

   Não negava que sentia desejo por Jungkook, embora confessar isso bêbada tenha sido um erro, ele não se aproveitou disso. Tudo continuava do mesmo jeito, platônico. Seguro. Conversar com Jungkook ajudava a espairecer a mente e ele melhorou bastante na cozinha. Todo dia os dois sentavam em pontas opostas do sofá e liam três capítulos de Drácula. Infelizmente Harin não conseguia ler mais do que isso sem começar a ser levada pelo cansaço.

  — Nunca vi um amigo tão dedicado, todo dia ele vem te buscar.

   Ela também se questionava sobre isso, Jungkook não tinha a obrigação de ir buscá-la todos os dias e mesmo assim o fazia. Harin preferia não perguntar, com medo de que ele parasse. Não admitia e voz alta mas, ter a companhia de Jungkook tornava o trajeto menos cansativo.

   — Ele deve ter os motivos dele.

  Harin terminou de limpar a bancada e repôs os guardanapos das mesas. Fez tudo até um pouco mais devagar, mesmo assim Jungkook não apareceu e seus ombros pesaram. Bateu o ponto e retirou o avental suspirando pesadamente. Não deveria se incomodar mas era inevitável pensar no motivo para que Jungkook não estivesse ali.

   Assim que chegou ao ponto de ônibus tirou o celular do bolso, Jungkook tinha lhe dado seu contato mas os dois só mandavam mensagem sobre coisas importantes. Dois dias atrás choveu muito e Jungkook mandou mensagem dizendo para que Harin esperasse do lado de dentro porque ele levaria um guarda-chuva. Algumas vezes ela mandava mensagens para lembrá-lo de tirar a carne do congelador ou levar o lixo pra fora. Nada muito pessoal.

  Encarou a tela por alguns segundos, os dedos pairando sobre o teclado mas sem digitar nada. Será que soaria chata? Não tinha direito de cobrar nada. Se algo tivesse acontecido, Jungkook avisaria, não é? Melhor deixar pra lá.

Assim que o ônibus chegou, Harin correu para dentro e sentou no assento vago ao lado de uma senhora de cabelos quase completamente brancos. Os pelos em sua nuca se arrepiaram quando um homem loiro entrou no veículo, não haviam mais lugares disponíveis então ele ficou em pé segurando-se no apoio acima da cabeça. Os olhos afiados focaram nos dela e Harin teve a sensação de já tê-lo visto mas não lembrava onde.

  Suas roupas destoavam do ambiente; blusa azul marinho de botões, calça de alfaiataria e sapatos muito bem lustrados e com um salto quadrado de pelo menos 5 cm. As mãos dele brilhavam cheias de anéis nos dedos curtos e Harin engoliu em seco quando ele umedeceu os lábios cheios.

   Desviou o olhar para a janela, algo naquele homem a desconcertou. Sentia o olhar dele queimando sua pele e os pelos eriçados em alerta.

  No meio do trajeto a velhinha desceu e Harin pulou para o assento da janela, gostava de ficar observando a rua. O lugar ao seu lado logo foi ocupado pelo homem loiro e ela se encolheu desejando poder fugir. História de assédio em transporte público eram comuns e ela não queria fazendo parte de mais uma. Cogitou descer no próximo ponto mas ele poderia segui-la e estaria ainda mais indefesa num beco escuro.

   Ele cheirava a cedro, musk e shampoo de frutas vermelhas. Harin apostava que o cara comprava perfumes caros e frequentava os bares mais engomadinhos da cidade.

   — Vai se machucar assim — ele falou numa voz melodiosa. O olhar recaiu sobre a unha de Harin que cutucava o canto do dedo. — A noite está quente, não acha?