VIPER [JJK]

Capítulo 1: O bote da víbora

 A morte era o momento mais feliz da vida de um Jeon.

Jungkook terminou de amarrar a gravata e sorriu para seu reflexo no espelho, os cabelos negros como a noite foram penteados para trás num topete estilo Ceo que o fazia parecer mais velho do que realmente era. Desde o terno italiano feito sob medida até os mocassins pretos tão lustrados que reluziam, nada foi deixado fora do lugar. Se iria dar seu último suspiro então o faria em grande estilo.

É de se estranhar que estivesse tão feliz com o fato do próprio coração parar de bater, mas o que lhe alegrava era saber que quando as batidas retornassem ele seria oficialmente um membro do clã Jeon, destinado a viver por séculos.

A família Jeon influía respeito e admiração na Coréia do Sul há gerações, seus membros ocupavam capas de revista, as pessoas faziam de tudo para receber um convite a suas festas; eventos de gala, muitas vezes cobertos pela imprensa e sempre bem avaliados. Ser um Jeon vinha atrelado a poder, status e um segredo pelo qual muitos matariam.

— Está animado? — a voz de Chaeyoung o pegou de surpresa.

A garota usava um vestido azul marinho que ia até pouco acima do joelho, os cabelos negros cortados num channel lhe faziam parecer ainda mais nova. Chaeyoung poderia facilmente se passar por irmã de Jungkook; os dois tinham os mesmo olhos arredondados e os dentinhos que lembravam os de um coelho fofo.

— Esperei por essa noite por toda a minha vida.

Quando criança sempre perguntava aos pais o que eram os jantares que apenas os adultos da família recebiam permissão para atender, a resposta era sempre a mesma: um dia você vai entender. Conforme foi crescendo, Jungkook foi aprendendo mais sobre o segredo da família, sua história e a importância de manterem o inestimável presente deixado pelos antepassados a salvo.

Por muitos anos sonhou com qual seria a sensação de finalmente atravessar as enormes portas de ferro e conhecer o salão de cerimônias do clã Jeon, construído sob a propriedade principal da família. O casarão erguido séculos atrás passou por reformas ao longo do tempo, paredes mais grossas, piso de melhor qualidade e um painel que ia do teto ao chão escondendo o portão de entrada da sala de reuniões.

— Será que a vovó me deixa participar? Eu já sou crescida o suficiente — protestou com um bico, crescida ela diz — e não vou contar a ninguém.

— Você conhece as regras, Chae — Jungkook ajeitou o colarinho da camisa branca.

Apenas adultos que já passaram pela cerimônia e novos membros na noite de iniciação entravam no salão. Qualquer outro era estritamente proibido, também não se podia levar celulares ou qualquer aparelho capaz de gravar som e imagens. O segredo da família era protegido com unhas e dentes.

— Bem que eles poderiam nos deixar fazer antes — seus olhos brilharam como o céu noturno.

— Sabe que precisa atingir a idade certa, não quer ter cara de criança para sempre, quer?