CRAWLING BACK TO YOU

16| Cecilia

Dias atuais...

   — Eu te odeio - Vincent resmunga enquanto termino de passar o creme no rosto dele. Ele está encostado no batente da cama, os olhos fechados e o rosto de uma careta que me faz querer rir.

   — Odeia nada. - Sorrio mas, por uma pequena fração de segundo, meu sorriso se esvai. Eu não sei dizer se Vincent me odeia. Não sei responder isso no momento e não saberia responder há onze anos atrás.

   — Por que essa merda é gelada?

   — É o efeito refrescante, fica quieto e para de enrugar a testa, vai ficar parecendo uma uva passas antes dos 30.

   — A comida vai esfriar.

   — Vai nada. Pronto, já acabei. - Sorrio ao ver seu belo rosto completamente tomado pelo meu creme rosa. Mal consigo conter meu sorriso mas tento manter a pose. Vincent não faz nem ideia do quão ridículo ele está.

   — Posso tirar?

   — Não! Tem que deixar fazer efeito!

   — Mas que merda, Cecilia.

   — Vem, vamos comer enquanto seu rosto fica aí de molho. Quer assistir alguma coisa?

   — Não gosto de filmes chineses.

   — Ah não, aí você me magoa... Vamos, não pode abrir um hotel na China sem conhecer a arte do cinema chinês. - Pego o controle e ligo a TV, procurando algum aplicativo com filmes enquanto Vincent abre as sacolas com nossa comida. Encontro o que desejo e então coloco o filme na tela, mudando a legenda para inglês.

   — Que filme é esse? - Vincent senta ao meu lado na cama. Ele usa um dos travesseiros nas costas e outro no colo, apoiando o prato.

   — Esse, meu amigo, é simplesmente o melhor filme que você assistirá na sua vida. Se chama "O grande mestre" conta a história do Yip Man, o homem que treinou o Bruce Lee, essa é a versão do filme de 2008, que é a melhor.

   — Hm.

   — Shiu, já começou. - Sussurro

   — Eu não disse nada. - Ele murmura

   — Cala a boca e assiste. - Sussurro de volta.

   É a cena final e já passa da meia noite mas não pregamos os olhos. Eu já havia assistido esse filme algumas vezes mas já fazia um tempinho desde a última vez que o assisti. Quando a tela de créditos aparece, olho para Vincent, o rosto, ainda muito rosa, sendo iluminado pela TV e então ele me encara.

   — Que foi?

   — O que achou?

   — Não é ruim... - Ele diz com desdém.

   — Eu sabia! Você gostou!

   — Eu não disse isso.

   — Tem mais três filmes.

   — Tem?

   — Você gostou!

   — Eu não achei ruim.

   — Pelo amor, Vincent, só diz que gostou do filme.

   — Vou tirar essa merda do rosto. - Ele acende a luz do abajur da cabeceira e se levanta, indo até o banheiro. Vou logo atrás, não quero perder a cara dele. — O que está fazend- A cara dele. Eu juro que nunca vou esquecer essa imagem. Ele se olha no espelho e é o auge, não consigo me segurar e estouro na risada mais sincera que já dei na vida. — Cecilia!