09| Cecilia

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Antes

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Antes...

  Eu queria que as paredes fossem mais grossas. Ou que eu ainda fosse inocente o suficiente para não entender os barulhos do quarto ao lado. 

   Tudo começou com a neve. 

   Mamãe odiava a neve mas  meu pai e eu? Nós amávamos ela. Fazíamos absolutamente qualquer tipo de atividade lá fora, só para aproveitar melhor essa época do ano. Eu amava as guerras de bolas de neve e meu pai amava esquiar. Naquele dia, nós acordamos cedo, minha mãe já tinha feito nosso chocolate quente favorito, tínhamos cookies também. As malas estavam no carro e estávamos todos muito bem agasalhados, indo para as montanhas. 
  Papai e eu brincamos de guerra de bola de neve. Eu ganhei. Ele se despediu e então foi esquiar. 
  Eu amava as guerras de bolas de neve e meu pai amava esquiar...

  Naquele dia, papai esquiou pela última vez.  

     Tudo terminou com a neve. 

    Minha mãe ficou arrasada. Nosso mundo tinha sido destruído. Então tudo mudou. Nunca mais houve chocolate quente ou cookies, muito raramente eu tinha alguma comida de verdade. Tivemos que nos mudar. O bairro era perigoso, os vizinhos me davam medo e o cheiro era horrível. Eu tinha apenas sete anos então não entendi todos aqueles homens na minha casa, nem os barulhos do quarto ao lado. Mas agora, sete anos depois, eu sei  que eles significam e eu os odeio mais do que já odiava antes. 

   Os barulhos ficam cada vez mais alto e eu me recuso. Abro a janela do meu quarto e saio pela escada de emergência grudada na lateral do meu quarto. Eu nunca saio do quarto pela porta principal quando tem gente em casa, tenho medo do que eles podem tentar fazer comigo. 

   Quando chego ao térreo, sinto uma pontada de alívio mas mantenho meus sentidos em alerta. As escadas dão para o beco esquerdo do prédio, onde as latas de lixo ficam e às vezes alguns usuários se escondem. Meu estômago ronca, lembrando que minha última refeição foi um pão torrado no café da manhã. Olho para cima, para a janela onde fica o quarto da minha mãe. Sei que depois desse programa talvez ela tenha dinheiro, talvez ela tenha drogas, e, muito improvavelmente, teremos comida em casa. 

   Olho para as latas de lixo e suspiro. Não será a primeira vez que irei remexer lixo em busca de alimento e, com certeza, não será a última. 
  Tiro meu casaco para que ele não fique com cheiro de lixo, é o único que eu tenho e não quero aparecer na escola com o casaco cheirando pior do que ele já cheira agora. Levanto a tampa da primeira lixeira e logo descarto ela. O cheiro do vômito predomina tudo, azedando em meu nariz. Na segunda lixeira, pareço ter mais azar ainda quando o cheiro parece como se algum animal tivesse morrido e sido descartado nela... Bom, espero que tenha sido algum animal...  
  Estou prestes a abrir a terceira lixeira e escuto passo vindo da escada de emergência. Quando olho para cima, vejo um garoto que aparenta ser da mesma idade que eu, ou então um pouco mais velho. Eu o vejo descer carregando uma sacola, ele está prestes a entrar pela janela do primeiro andar e então ele parece finalmente me notar. 

   — Não vai ter sorte com essa aí também. - Ele diz, voltando para as escadas e apontando com a cabeça para a lixeira.  

   Fecho os olhos e suspiro. Talvez eu vá procurar nas lixeiras dos outros prédios... Os passos voltam a ecoar e vejo o garoto descendo as escadas em minha direção. 

   — Aqui. - Ele abre a sacola e tira um pão de dentro dela. — A senhora do quarto andar fez compras hoje. 

  — Por isso estava nas escadas de emergência? 

  Ele dá de ombros. 

  — Ela deixa a janela aberta. Vai querer ou não? - Ele continua com a mão estendida em minha direção. Apenas aceno com a cabeça. 

  — Obrigada. - Murmuro quando pego o alimento. 

   — Vincent. - Ele diz e presto mais atenção aos detalhes do rosto dele. Ele é bonito. Talvez o garoto mais bonito que já vi na vida, com os olhos mais azuis de todos e um cabelo loiro escuro completamente revolto. 

   — Cecilia. - Ele parece me estudar do mesmo jeito que eu o estudo. Eu vejo a dor nos olhos dele, vejo a raiva e vejo brutalidade. Nos meus ele deve ver fragilidade, vulnerabilidade e cansaço. 

   — Vem comigo. - A voz dele é gentil. 

   Ele estende a mão para mim novamente e eu coloco minhas mãos sobre as dele.  Vincent me guia novamente para a escada de emergência e, quando passamos pela janela do primeiro andar, vejo uma mulher debruçada sobre um colchão no chão vomitando um líquido esverdeado.  

   — Essa é a minha mãe. - Ele suspira. 

   Quando passamos pelo quarto andar, há os gemidos. Felizmente a janela está fechada. 

   — E essa é a minha.  - Murmuro envergonhada. Eu nunca disse a ninguém sobre minha mãe, mas ele me falou sobre a dele... Pareceu justo contar sobre a minha. Vincent também compartilhou comida, ele não tinha que fazer isso mas fez. 

   — Vida fodida. - Ele olha para mim e sorri de lado. Foram sete anos escondendo a verdade de todo mundo e então esse garoto aparece. Com uma vida tão ruim quanto a minha... Talvez eu finalmente tenha alguém para compartilhar toda essa merda. 

  — Vida fodida. - Respondo. 

   Continuamos subindo e subindo até chegarmos ao telhado, eu nunca estive aqui antes.

   — Péssimo momento para dizer que tenho medo de altura? 

   — Não vamos chegar tão perto da borda, ok? 

  Assinto. Com sua mão ainda segurando a minha, ele me leva para perto a borda, mas não tanto. 

   — Não olha para baixo, só olha para frente. 

   É o que eu faço e então perco o fôlego. A vista do sol se pondo por entre os prédios, os tons de laranja e rosa no céu e a cidade... 

   — É lindo... 

   — É sim... 

  Mais um capítulo pra vocês, espero que tenham gostado ♡   Sofro muito com o passado desses dois 🥺  Outra coisa

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  Mais um capítulo pra vocês, espero que tenham gostado ♡
  Sofro muito com o passado desses dois 🥺
  Outra coisa... Tô querendo muito mudar os modelos que escolhi como meus personagens, principalmente o Vince, não consigo olhar aquele cara e ver o Vincent, sei lá kkkkk Se eu mudar já sabem kkkkk

 Tô querendo muito mudar os modelos que escolhi como meus personagens, principalmente o Vince, não consigo olhar aquele cara e ver o Vincent, sei lá kkkkk Se eu mudar já sabem kkkkk

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CRAWLING BACK TO YOUWhere stories live. Discover now