11.

18 3 9
                                    


Aviso: Este capítulo aborda temas sensíveis, tais como: depressão, transtorno bipolar e menção a suicídio. Caso seja um gatilho para você como leitor, sugiro que não siga com a leitura.

Sam

Um pedaço de madeira trincado no canto superior da única janela em seu quarto. Era isso que Sam encarava por sabe se lá quantas horas. Ele pensava que nunca reparou naquele pedaço de madeira antes. Será que sempre esteve trincado? Ou será que foi ele mesmo quem fez aquilo em algum momento da sua vida e a sua mente simplesmente apagou a memória? Uma grande incógnita. Desde que ele se reconhece como pessoa, aquele quarto foi dele. E pela primeira vez aquele pedaço de madeira trincado lhe chamava a atenção. Mas por que será que ele nunca conseguiu ver aquilo antes? E se fosse só um delírio e aquele pedaço de madeira na verdade estava intacto? Se ao menos ele tivesse forças para se levantar e ir até a janela, tocar naquele exato local, e se certificar do que seus olhos enxergavam. Falta de vontade não era, ele queria muito. Sempre foi uma pessoa que buscou respostas, sejam elas quais fossem. Mas naquele momento, ele mal tinha forças para fazer as perguntas. Que horas eram? Que dia era? Foda-se. Provavelmente seu celular descarregou de tanto que tocou com ligações e mensagens de pessoas que ele nem se deu ao trabalho de verificar.

Sua mãe apareceu por ali algumas vezes, levou comida e retirou os pratos de outras refeições praticamente intocados. Fez carinho em seus cabelos. Disse algumas palavras que ele não ouviu. Ou melhor, ele ouviu, mas não escutou. Era como se a voz dela estivesse longe, ou como quando ele era criança e saía da piscina com o ouvido tampado pela água, e a única coisa que ouvia eram ruídos longínquos. Mas agora, não havia água em seus ouvidos, era só como se ele não conseguisse focar em suas palavras, como se seu corpo estivesse ali, mas sua mente, em uma outra dimensão.

Além das visitas de sua mãe, pensou em ter ouvido em algum momento algumas batidas na porta, que poderiam ser de David. Provavelmente eram dele. Mas ele jamais o arrastaria para esse buraco em que se encontrava. David era luz, sorrisos, honestidade, serenidade, leveza, pureza, inteligência, graça e mais uma sinfonia de coisas boas que provavelmente ele jamais experimentaria na vida. O melhor que ele poderia fazer naquele momento era permanecer o mais longe possível.

Ele tinha a tendência de estragar tudo que acontecia de bom em sua vida. Se sabotar era sua especialidade. Mas por que ele não conseguia parar de fazer isso? Por que caralhos ele era assim? Quando era criança achou que a razão era pela separação de seus pais. Na adolescência achou que era pelo seu despertar bissexual tão precoce. Agora adulto, de acordo com sua terapeuta, pode ser a soma de todos os seus traumas, além de seu diagnóstico é claro.

xxx

4 anos atrás

— Sam Lawson! – exclamou uma voz feminina no final do corredor.

Sam encarou sua mãe como quem dizia: — "Você pode me acompanhar?" — e apertando sua mão ela lhe respondeu também com o olhar: — "Eu estarei sempre contigo!"

Ambos se levantaram e seguiram pelo longo corredor até adentrarem em uma sala com uma placa na porta que dizia: Dra. Jane Harrison.

Assim que acessaram a sala, já avistaram uma mulher, devidamente trajada com seu jaleco branco numa postura impecável. Estava sentada em dos sofás do local, com algumas folhas na mão e os esperando.

— Entrem! Fiquem à vontade para se sentar nesse sofá, por favor. — e apontou para o que estava logo à sua frente.

Sam se direcionou para o local ainda meio acanhado e sua mãe o acompanhou após fechar a porta atrás de si.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 01 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

The GuestOnde histórias criam vida. Descubra agora