[11] Quente, assim como o inferno.

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Entrei correndo, sorrindo e elétrica, no quarto de minha mãe. Devia ter ficado fazendo minhas tarefas na mesa da cozinha, ao lado da cozinheira, a única adulta da casa, mas consegui escapar de seus olhos ocupados e agora eu estava puxando vários vestidos de mamãe dos cabides.

Eram tão lindos.

Eu achava minha mãe uma princesa quando usava aqueles vestidos.

Peguei o mais lindo de todos, um dourado, cheio de coisinhas penduradas e passei o melhor que pude por meu corpinho pequeno. O vestido ficou gigantesco em mim, claro, mas era divino.

A porta do closet se abriu e fui flagrada por mamãe e papai, que me olhou furioso.

-- Que merda você está fazendo aqui, Dahyun?

-- Agola eu sô uma pincesa.

Rodei, mostrando aos dois minha beleza, mas, ao terminar minha volta, senti o tapa estalado em meu rostinho de quatro anos.

-- Dahyun! -- Ouvi minha mãe gritar, enquanto eu caía no chão.

-- Tire esse vestido agora, menina! Você sabe quanto essa merda custou?

Eu só chorava.

-- E cale a porra dessa boca!

Eu não conseguia calar. Meu rosto doía e eu sentia braços me apertando ao tirar o vestido à força de mim.

-- Eu vou fazer você chorar com gosto.

-- Leeteuk, não...

-- Vou cuidar dela e venho cuidar de você depois, Kim.

Ele me levou arrastada até meu quarto, puxou o cinto da calça e dois estalos doloridos queimaram minhas perninhas.

-- Nunca mais mexa nas roupas da sua mãe, ouviu bem?

Eu não conseguia responder. A dor era demais.

Mais uma fisgada cortou minhas costas e Leeteuk saiu do quarto, batendo a porta. Em segundos, ouvi gritos vindos do quarto da minha mãe e imaginei que ela também estava de castigo. Mas se ela não pudesse usar as próprias roupas, o que ela usaria?

Aquela foi apenas a primeira das muitas
vezes que Leeteuk me bateu ao longo da nossa vida familiar. E como minha mãe nunca fez nenhum esforço para me amar, frente às ameaças dele, ela sequer tentou me defender de seus ataques, que ficavam cada vez mais severos.

Consegui me arrastar aos poucos até meu quarto, lembrando-me de quando consegui controlar o pânico e aliviar a dor.

Eu estava com nove anos e, como a família deixava claro que não se importava se eu estivesse com eles ou não, aproveitava que eles curtiam a piscina para ficar desenhando. Era a coisa que mais me deixava feliz, no mar de tormento que era viver naquela casa. Para piorar, meus avós estavam conosco naquele domingo, então me isolar era o melhor que poderia fazer.

Resolvi me esticar no sofá da sala enquanto finalizava um desenho. Eu me esforçava muito e me achava muito boa naquilo. Vários professores elogiavam minha arte e isso me incentivava a continuar. Concentrava-me, passando a caneta nanquim no contorno da ilustração, quando Daniel pulou em minhas costas e a caneta deslizou para fora do papel, fazendo um enorme risco preto no sofá branco.

Meus olhos se arregalaram com terror quando vi o risco e gritei com meu amigo de doze anos.

-- Daniel, veja o que me fez fazer!

Ele saiu correndo, chorando para o lado de fora da casa e eu saí em disparada para a cozinha, tentando achar algo para limpar o sofá. Voltei com um pano limpo, apenas úmido de água e, quando tentei limpar o nanquim, ele se transformou em uma mancha negra no sofá imaculado.

Angel fallen by love • DahmoWhere stories live. Discover now