-- Eu só estou dizendo que se você usa óculos, o mínimo que se espera é que enxergue. -- A voz irritante de Sana ecoa em meio às prateleiras. Elas estão agarradas ao mesmo livro, cada um puxando-o para mais perto de si.
Momo quer ler "O que é a vida?", de Erwin Schrödinger, para a sua pesquisa sobre a filosofia da biologia, muito mais importante do que o motivo de Sana: completar a sua lista de leitura inútil dos físicos mais influentes do século XX.
-- Que original, me zoar por causa dos meus óculos. -- Ela fala, dando um sorriso afetado. -- Me avise quando for fazer o show de stand up, não quero que meus pais tenham que passar por esse trauma sozinhos.
-- Rá! Eu não vejo meus pais há dois meses, você vai ter que passar por esse trauma sozinha. -- Momo junta as sobrancelhas, intrigada com o tom vitorioso de Sana. Isso é meio triste. — Е eu não estou te zoando por causa dos óculos, mas por ainda ser cega usando eles.
-- Ah, agora você está zoando cegos? Sinceramente, Sana. -- Sana balbucia e pisca repetidamente. O cabelo loiro despenteado, o blazer desleixado e o relógio mais caro que ela já viu na vida estão acompanhados de olhos arregalados e bochechas coradas. Momo quer rir, adora quando consegue fazer a garota perder as palavras.
-- Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. -- Uma veia da mão dela salta quando puxa o livro com mais força.
-- Não sei, não.
-- Só solta isso logo. -- As palavras saem altas entre sopros de ar.
-- Fala baixo, você vai fazer a gente ser expulsa da biblioteca...-- Momo sussurra agressivamente. -- De novo!
-- Foi você que derrubou tudo aquele dia. -- Sana também sussurra, mas com tanta raiva que as palavras saem praticamente em um som normal.
-- Porque você me empurrou.
-- Eu já disse que foi sem querer!
-- Muito conveniente para você.
Sana vira a cabeça para o lado, inconformada, e revira os olhos como se não soubesse exatamente do que Momo está falando. Ela puxa com mais força e o livro escapa da mão de Momo.
Sana volta o rosto para ela e sorri, se afastando.
-- Ei! -- Momo parte para cima.
Sana a segura com um braço e mantém o livro o mais alto possível com a outra. Momo faz investidas, mas aparentemente Sana é mais forte. Elas ficam indo para frente e para trás conforme disputam o objeto.
-- Quem vê de fora pode achar que é uma dança muito esquisita, ou se já as conhece, só mais um dia normal. Para fora. -- O bibliotecário está de braços cruzados na ponta do corredor. Tem o cenho franzido e encara elas com cansaço. É uma cena peculiar. Momo com uma mão afastando o rosto de Sana e a outra esticada. Sana segurando o tronco de Momo e o livro na outra extremidade.
Ao notarem a presença do homem, elas naturalmente se afastam, como quando crianças são pegas fazendo algo errado e fingem que nada aconteceu. Momo limpa as roupas com batidinhas e diz:
-- De novo. -- Nenhuma delas tenta argumentar.
Sana deixa o livro no lugar e, trocando olhares recriminatórios, elas seguem o bibliotecário até a saída.
-- Vocês tardam, mas não falham. -- Hwasa diz quando está levando as duas para a coordenação. Ela tem o cabelo ondulado caindo pelos ombros e parece nova demais para trabalhar ali. Momo não entende exatamente qual o cargo dela no colégio. Sabe que ela faz um pouco de tudo e sempre está de mau humor. Além de sempre estar presente quando elas se metem em enrascadas, é óbvio. -- Eu sei que é pedir muito, mas se na próxima vez vocês puderem brigar de manhã, eu ficaria muito grata. Nesse horário eu tomo café com o porteiro. Ele se sente meio sozinho.
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Angel fallen by love • Dahmo
Random"Hirai Momo, uma umbandista desencantada pela vida após ser abandonada pela mãe devido ao preconceito religioso, embarca em uma jornada de autodescoberta ao se mudar para uma nova cidade. Seu mundo colide com o de Dahyun, uma evangélica e filha de u...