[9] A primeira recaída.

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Murphy fora um filha da puta certeiro quando dissera que, se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, provavelmente dará.

Momo estava atrasada. E, até aí, aquela era só mais uma quarta-feira comum em Seul, o lugar onde todo mundo sempre está atrasado. Ela esperava, do fundo do coração, que a mulher que conduziria sua entrevista de emprego também estivesse ou, pelo menos, levasse isso em consideração. A platinada não podia fazer os carros andarem mais rápido, e eles pareciam estar todos fazendo com ela o caminho.

Olhando pelo lado bom, ela ainda tinha alguns minutos para ensaiar as suas respostas para as perguntas clichês de entrevista. Claro que, dentre elas, pouquíssimas condiziam com a realidade, porque ninguém nunca na história conseguira um trabalho contando a verdade.

"Qual é o seu maior defeito?"

Eu sou impaciente e pouco tolerante com a burrice alheia.

"Como você lida com situações estressantes?"

Deito na minha cama e escuto minha playlist de rock no volume máximo até os problemas irem embora sozinhos.

"Por que quer trabalhar aqui?"

Porque preciso muito do dinheiro, senhora.

"O que você sabe sobre nossa empresa?”

Que vocês pagam bem, que o VR é excelente e que a melhor agente administrativa de Seul trabalha aqui.

E esse é o porquê de a sinceridade dificilmente ser uma boa opção.

Ser uma assistente pessoal estava bem longe de ser a profissão dos sonhos de Momo, mas Lim yoon-a compunha o time de agentes do departamento editorial da STARts e, por mais que Momo fosse trabalhar a 5 andares de distância dela, algo a fazia acreditar que, de um jeito ou de outro, isso a deixava inevitavelmente mais perto de conseguir sua atenção.

Já tinha o plano arquitetado desde que a desconhecida deu o papel, a vaga surgira na newsletter semanal, Ela trabalharia como assistente por alguns meses, enquanto se aproximaria de Lim yoon-a, até ficarem bastante amigas, então a convenceria a ler seu livro, que seria vendido para uma das maiores editoras do país. Logo, ela se transformaria na escritora de suspense mais comentada da Ásia, com direito a traduções pelo mundo e adaptações visuais para as plataformas de streaming; e nunca mais precisaria passar pelo tormento que era se preparar para uma entrevista de emprego.

Quando, quinze minutos mais tarde. Ela parou na calçada para admirar o letreiro da STARts que ficava acima da portaria principal do edifício. Uma estrela rosa-choque acompanhava o nome da empresa em letras minimalistas. O prédio tinha uns 40 metros, espelhado e em forma de torre, com a mesma estrela rosa-choque decorando o topo. Cafona, mas imponente, como uma árvore de Natal. Momo nunca entrará lá, mas sabia que, em algum lugar do prédio, encontraria uma piscina de bolinhas e mesas de sinuca para os funcionários aproveitarem o pouco tempo livre que tinham.

Incapaz de tirar os olhos da estrutura magnificente, Momo deu alguns passos na direção das escadas da porta de entrada. E antes que pudesse alcançar o primeiro degrau, sentiu o corpo colidindo com o de outra pessoa, e depois uma sensação molhada e gelada em seu peito.

Então, o cheiro inconfundível de frappuccino caramelo do Starbucks21. Fantástico.

Um banho de café era tudo que ela precisava naquele momento.

Ajustou o campo de visão para, do alto dos seus um e setenta, enxergar uma mulher de cabelos castanhos longos e bem mais baixa com um dos rostos mais bonitos em que Momo já havia colocado os olhos; o que deixava as coisas ainda mais constrangedoras, porque a mulher estava ensopada pelo bege grudento da bebida.

Angel fallen by love • DahmoWhere stories live. Discover now