Capítulo 28

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Luiza Catarina

Voltei para casa e logo me deparo com a Jéssica, a mulher que antes era minha mãe e agora é apenas mais uma suspeita. Quando ela me vê, olha assustada.

-O que vo... você quer? - Ela se afasta um pouco mais de mim.

-Está com medo de mim? - Dou um passo na direção dela.

-De você? - Ela solta uma risada forçada. - Não, eu tenho medo do macho que você anda dando.

Olho bem para ela, que está com roupas largas, e observo seu pulso com um hematoma gigante, que julgo ser resultado de algo que a estava prendendo.

-Quem fez isso? Foi o Fernando? - Aponto para o braço.

-Quem você acha? Tudo isso porque, segundo ele, eu te machuquei. - Ela me olha com nojo. - Ele gostou tanto de te possuir que está disposto a matar qualquer um.

-Ele te machucou muito? - Pergunto sem um pingo de preocupação.

-Ele me amarrou e me bateu. Ele fez o serviço, coisa que raramente acontece. Sabe o que é pior?

-Não faço ideia.

-Ele falou que a cada vez que você estiver triste ou chorando, ele vai arrancar um dedo meu! - Ela fala claramente triste, e isso me faz dar um sorriso.

-Vou agradecer ao Fernando por isso. Ver você sofrer para mim é gratificante. Sendo bem sincera, não é nem a metade do que você me fez passar, então cuidado, só uma lágrima já faz perder um dedinho. - Mando um beijo para ela e vou para o meu quarto.

Não consigo ter empatia por ela, não depois de tudo que ela me fez passar. Não quero que ela morra, e sim que ela sofra, e que sofra muito para que a morte pareça ser a melhor opção.

Pode parecer cruel, mas depois de apanhar tanto dela, esfregar minha cara no vômito quando eu estava doente, dela me fazer de escrava e ainda falar o que ela falava, é realmente complicado. Eu tentava ignorar tudo que eu passei, mas ela sempre fazia algo para me fazer odiar ainda mais ela.

Eu tentei ser uma boa filha para ela, eu juro que tentei, mas depois de um tempo, eu cansei, cansei de ser sempre errada, cansei da falta de gratidão dela, eu simplesmente cansei.

Acabo caindo no sono.

-Pai? - Chamo ele baixinho, mas ele não escuta; está falando com a visita.

-Você é um cara jovem, Fernando, tem que ser esperto. - Um homem fala para o Fernando, que parece bem mais jovem.

Ele está sem barba, seu corte de cabelo está diferente, e seu semblante é cansado.

-Poisé, não caia nessa de ser pai jovem, é furada. - Meu pai fala sorrindo. - Mas eu garanto pra você que é a melhor sensação do mundo. Minha filha é o motivo de eu voltar todos os dias para casa.

-Não sei se quero ser pai! - Fernando fala.

-Eu sou pai, e minha filha é um poço de ganância e arrogância. - Dessa vez eu reconheço a voz; é a voz do pai da Bia.

-A Bia não é assim! - Digo e logo coloco a mão na boca.

-Luiza, filha. - Meu pai se estica para me ver. - Vem aqui, deixa eu te apresentar pros amigos do papai.

Entro na sala, tentando não olhar para ninguém.

-Boa noite, pessoal. - Falo de cabeça baixa, com vergonha.

-Sua filha é uma gracinha, ela parece ser da mesma faixa etária da minha. - O pai da Bia fala.

Olho para ele e depois para o Fernando, que me encara com um semblante muito diferente do que ele me mostra hoje em dia.

"Será que o Fernando lembra de mim? Quando eu era pequena?"

-Papai te ama muito, filha. - Meu pai me abraça, e tudo fica preto.

Eu acordo em uma cama totalmente diferente da minha. Olho em volta e vejo o Fernando de pé, mas agora é o Fernando mais velho.

Tento me levantar, mas estou presa na cama. Vestindo um vestido extremamente curto, com meias nos braços me prendendo, minhas pernas estão aprisionadas. Esforço-me para me mexer, mas é impossível.

- Qual é, Fernando, me solta! - Falo, e ele se aproxima.

- Nunca, você é minha! - Ele pega duas cápsulas da bolsa e se aproxima. - Vamos morrer juntos. - Segurando meu rosto, ele me força a engolir a cápsula e, em seguida, ele também toma, abraçando-me. - Bom descanso, meu bem.

Num pulo, acordo assustada e suada. Olho pela janela e percebo que está amanhecendo.

- Só queria entender por que esses sonhos são tão lúcidos. - Falo para mim mesma, abraçando minhas pernas.

Ouço vozes na casa e, como boa fofoqueira, tento escutar.

- O que ela está investigando? - Uma voz masculina pergunta.

- Eu não sei. - Jessica responde, seguida por um som de tapa.

- Presta atenção, a dona Késia quer saber o que ela está investigando e se o Fernando está no meio. Se vira pra descobrir! - Escuto passos e a porta se fecha.

- Que merda... - Murmuro.

A cada dia fica mais difícil saber quem é o culpado, mas tudo leva a Késia, minha "mãe".

Não sei mais o que pensar, minha mente está cansada disso. Quanto mais procuro, mais confuso fica.

Começo a andar de um lado para o outro, esperando que isso me traga alguma solução.

- Se a Késia matou o meu pai, por que ela faria isso? - Murmuro ainda andando de um lado para o outro. - Eu não consigo! - Falo indignada por não conseguir achar nada.

- Se a Fabiana era obcecada pelo meu pai, ela realmente seria capaz de tudo para tê-lo? O Fernando fala que me mataria se eu ficasse com outro e, ao mesmo tempo, diz que não quer me ver mal. - Paro de andar. - Ela foi capaz de mentir que o meu pai abusou dela...

Volto a andar, procurando mais motivos para ela ter matado ele, mas só consigo pensar na obsessão.

- O César pode ter descoberto que eu era filha da Késia com o meu pai, que era seu amigo, e por isso pode ter matado meu pai? Poderia ser isso? Mas... Mas o César não parece ser do tipo de pessoa que faria isso... Pelo pouco que vi, ele é um cara legal.

Paro de andar novamente e olho para a janela. Abro-a, esperando que um pouco mais de claridade possa clarear meus pensamentos.

- Mas o que tudo isso tem a ver com o pai da Bia? - Me sento na cama. - Por que eu sinto que ele tem alguma coisa a ver com tudo isso.

Pego meu celular e começo a mexer na intenção de esquecer toda essa confusão, nem que seja por um minuto.

Vejo a Bia me ligar e atendo.

- Oi Bia? - Pergunto assim que atendo.

- Hoje vai ser o jantar de comemoração da minha formatura. Você vem?

- Tá meio em cima da hora. Não tenho roupa.

- Desculpa não ter avisado, eu também não sabia. Minha mãe ia te ligar para você vir com seu namorado, mas ela não teve tempo.

- Peraí, peraí, namorado?

- Ah, o Fernando. Eu vou conversar com ele. Venha com alguma coisa que você tenha. Vai ser o jantar formal, mas pode vir mais simples. Eu também vou estar simples, só a minha mãe que vai estar toda arrumada para chamar a atenção do meu pai. - Sorri por saber que nesse momento ela está revirando os olhos.

- Tá bom, amiga. Eu vou no jantar por você.

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Pode conter erros ortográficos.

Os capítulos vão ser postados semanalmente.

Todos os capítulos tem mais de 1100 palavras, mas breve pretendo aumentar.

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