Sentimentos Confusos

Capítulo 29

Depois de alguns meses nessa nova rotina minha, as coisas não têm sido tão difíceis, igual no início. Hoje Vinícius me chamou para ir em uma audiência no tribunal com ele. Provavelmente é algo envolvendo a faculdade, então decido colocar uma roupa mais formal para acompanhá-lo. Mando mensagem falando que estou pronta e saio de casa para ir ao seu encontro. Assim que entro em seu carro, ele me cumprimenta com um sorriso curto. Noto a diferença em sua expressão.

— Tá tudo bem? — Pergunto.

— Por quê? — Ele tenta disfarçar com um sorriso -Você nunca foi em uma audiência? — Ele foge da pergunta.

— Não. Tô ansiosa para ver como é. Só vejo essas coisas em filme. — Ele ri de mim.

Enquanto dirigia, Vinícius me explicou um pouco como funciona uma audiência. Ao entrarmos na sala, encontramos lugares discretos para observar o processo. Assim que audiência começou, noto a tensão no rosto de Vinicius, mas ele optou por não mencionar detalhes no início. Conforme os argumentos se desenrolavam, Vinicius parecia mais sério. Assim que o juiz declara que o Criminoso recebeu liberdade condicional, Vinicius abaixa a cabeça apoiando em suas mãos.

— Vinicius? — Toco em sua costa. — O que ta acontecendo? — Ele demora alguns minutos para responder.

— O cara que matou a minha irmã acabou de ser solto. — Assim que escuto essas palavras, sinto uma pontada em meu coração.

— Sua... irmã?

— Lembra daquele dia na igreja? Era disso que eu estava falando. Eu queria que esse homem sentisse toda a dor que minha irmã sentiu naquele dia -Ele lacrimeja -Eu não aceito que ele seja solto depois do que ele fez. É exatamente por isso que quero ser advogado, faria de tudo para ver ele morrer na prisão.

— Eu sinto muito, Vini. Eu não fazia ideia. — Falo em choque vendo que ele está trêmulo.

— Eu preciso sair daqui -Ele se levanta saindo do auditório e eu o sigo.

O silêncio e a melancolia se instalou assim que entramos no carro. Olho para Vinícius que está encarando a rua e segurando suas emoções. Respeito seu momento ficando ali ao seu lado sem falar nada.

— Desculpa, Daphne -Ele diz em tom baixo.

— Não precisa se desculpar. Você precisa conversar sobre isso com alguém. Quer ir para outro lugar?

— Eu não consigo dirigir no momento.

— Vem, troca de lugar. — Abro a porta e mudo de lugar com Vinícius. Decido ir para a praia, pois é um lugar aberto e calmo para esvaziar a cabeça — Chegamos. — Desço e observo o mar calmo e o vento forte. O sol já está se pondo, o que faz o lugar ter uma linda visão. Assim que Vinicius sai do carro, ele permite que o vento bata contra seu corpo. Vinicius senta um pouco longe da água e encara o mar, faço o mesmo respeitando seu silêncio.

— Eu deveria ter te avisado, me perdoa. — Ele diz

— Tá tudo bem. Você vai me contar o que aconteceu?

— O nome dela é... era Olivia. Ela era a garota mais engraçada e inteligente que eu conhecia. Um dia, ficou no meu pé para eu ir com ela ver um filme que ela estava doida para assistir. Até que decidi ir, e foi ótimo. Mas quando saímos do cinema, ela estava a fim de um sorvete de morango, então sugeri irmos numa sorveteria ali perto. Ela estava tão animada que nem se deu conta de que havia sirenes de polícia por perto. — Vinicius faz algumas pausas — Quando ela atravessou a rua, um carro bateu em cheio nela. No mesmo instante eu corri até ela e comecei a gritar seu nome. Segurei seu corpo tirando o cabelo de seu rosto que estava coberto de sangue. Ela não abria os olhos e isso me deixava mais desesperado ainda. Eu abracei ela, mas foi a primeira vez que ela não me abraçou de volta. Como tinha polícia no local, eles me afastaram de minha irmã e eu não podia fazer nada. Me senti tão impotente e culpado pelo que aconteceu — Lágrimas caem de seus olhos e ele limpa rapidamente — Acho que ele ficou nervoso e bateu o carro. Quando eu vi a polícia tirando ele do carro, eu fui para cima dele, eu queria matá-lo, mas a polícia me impediu. Até hoje me culpo pelo que aconteceu. Se eu tivesse prestado mais atenção, se fosse eu no lugar dela... Tudo seria diferente.