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- Pretinho - Chamo Jobe, acho que devo ensinar umas palavras a ele, já que o mesmo não entende o mínimo do português.

- Pre... O que? - Ele tenta repetir a palavra com sotaque me fazendo rir.

- Pretinho, tipo um baby aqui sabe? É um apelido carinhoso - Tento explicar a ele que me olha confuso.

Ainda estamos dentro do carro, pela manhã Jobe tem estado em quase que um estado catatônico.

Olhando sempre pra frente enquanto dirige, o que é o certo, mas sei lá.

Parece distante, não sei bem o que ele tá pensando, essa habilidade de imaginar é totalmente dele.

- Ah, mas eu gosto do Jobezinho - Ele diz, foi uma palavra que ele demorou um pouco pra aprender também.

- Qual você prefere? - Pergunto perdendo minha marra.

- Cara, parem de ser melosos, pelo amor de Santo Cristo - Jude que já não aguenta mais nos ouvir reclama pela centésima vez.

- Eu prefiro o que você quiser me chamar - Jobe como sempre muito bom na arte de ignorar o irmão.

- Então tá meu pretinho - Falo rindo.

O resto do caminho até o aeroporto foi calmo, conversei um pouco com Jude sobre uma colega que achei que faria totalmente o tipo dele.

Jude sempre ficou com minhas colegas, até que algumas garotas na escola começaram a descobrir que eu era amiga dele e passaram a se aproveitar de mim pra ficar com ele.

Mas como um belo amigo ele sempre dava um chega pra lá nas garotas que eu falava pra ele que não era papo certo.

Diferente do Jobe, que é um tanto quanto influenciável.

Ele é inocente, caiu num papo de querer ser popular na escola e eu não o culpo.

Quando crianças, o bullying comia solto, éramos os únicos negros na escola e por isso muito descriminados pelos coleguinhas loirinhos.

Poucos pessoas nos acolheram e depois que Jobe começou a jogar futebol e o irmão dele ficar famosinho na escola por isso, eles pararam de andar comigo. Apesar dos esforços do mais velho.

E depois de tudo aquilo eu também não tentei muito ir atrás.

Que história triste né?

Mas eu sempre fui otimista, apesar de querer muito que Jobe finalmente me conte o que diabos aconteceu com ele naquela época.

- Chegamos, finalmente não aguentava mais vocês dois - Jude corta meus pensamentos.

Saímos do carro e posso ver Jobe pensativo, tipo assim, parecia que tudo que estivesse em volta não importasse, somente o que ele estava pensando.

A expressão fácil era calma e dócil, mas ao mesmo tempo um pouco triste. Era difícil de olhar pra ele desse jeito, já que sempre foi um menino muito animado.

- Ai meu filhinho - A mãe dos irmãos fala.

- Marca muitos gols pra gente lá filho - O pai de Jobe fala pra Jude, já que não iríamos entrar no aeroporto só ficar na porta mesmo.

- Tchau gente, vou sentir saudades - Jude fala, sempre foi um menino meloso.

- Tchau Jude, se cuida lá hein, nada de chegar em casa tarde - Jobe fala um dos seus vários conselhos super concientes que ele gostava de dar.

- Pode deixar criancinha, use camisinha - A última frase Jude fala sussurrando entre meu ouvido e de Jobe.

- Se cuida Jude, vamos sentir sua falta - Resolvo ignorar a piadinha do mais velho e só desejo sorte pra ele.

Todo esse tempo | Jobe BellinghamOnde as histórias ganham vida. Descobre agora