— Eu não sei, ela saiu pra algum lugar. — Digo cada frase como se estivesse sussurrando. 

Ele vai ao sofá para se sentar. 

— Senta aqui, vamos conversar. Botar o papo em dia? É assim que os jovens da sua idade falam hoje em dia? — Ele pergunta sorrindo. 

— Não. 

— Sério? Preciso me atualizar então. 

— Não, eu não vou me sentar com o senhor. 

Seu olhar de repente muda para uma imagem mais séria. 

— Eu vou pro meu quarto. — Digo isso e começo a andar em direção às escadas. 

— Jungkook. — Ouço ele chamar o meu nome, o que me faz parar de imediato. — Eu passei anos afastado de você e é assim que sou recebido? 

Me viro na sua direção — Afastado?... eu achei que o senhor estava morto, como o senhor esperava que eu reagisse a isso? 

— Tudo bem, eu entendo que deve ser um choque pra você, mas vou explicar tudo, então desse aqui pra gente poder conversar. 

— Não, você não entende nada. — Volto a subir as escadas que me levam em direção ao meu quarto, assim que passo pela porta a tranco, e finalmente deixo que os meus sentimentos me controlem.  

Sentado no chão abraçado aos meus joelhos eu libero a minha dor. 

Eu não entendo o que está acontecendo, como ele pode estar vivo? Como isso pode ser real? E porque justo agora que eu me lembro de tudo? Eu não queria sentir ódio do meu próprio pai, não era assim que eu queria me lembrar dele. 

Levo minhas mãos até os meus fios de cabelo e os aperto com força. — Por quê seu cérebro idiota, porque você teve que me fazer lembrar de tudo?... Eu quero esquecer as memórias dolorosas, elas me machucam demais. Eu quero… — Minha fala é interrompida pelo meu soluço. — Eu quero o pai que eu achava que era real de volta, não o homem que me batia. — Começo a dar socos contra minha cabeça e em seguida arranhar o meu rosto. — Eu quero que isso desapareça! Some, some, some, some, vão embora lembranças malditas, eu não quero lembrar de nada disso, eu não quero!

Minha respiração descontrolada faz meu soluço ser mais alto, eu tento me controlar ao máximo porque não quero ter falta de ar outra vez, então aos poucos vou me acalmando e minha respiração vai normalizando. 

Alguns minutos se passam. Decido levantar e ir até a minha cama, pego o meu celular e encaro a foto de papel de parede. Me pergunto porque nunca tive coragem para trocá-la. Seguro o celular firme entre meus dedos, eu não tenho ninguém para quem ligar… não posso ligar para Jimin, muito menos para Yoongi. Todos que estiveram ao meu lado antes, agora não estão mais aqui… nem mesmo a senhora Choi. 

E mais uma vez uma onda de tristeza me atinge. — Como eu preciso da senhora aqui agora, senha Choi. Estou me sentindo tão perdido outra vez, o que eu devo fazer? — As lágrimas quentes que dessem sobre minha pele servem como alimento para a minha dor que a cada minuto só aumenta. 
— Porque a senhora teve que ir tão de repente? Eu não pude estar junto da senhora, não pude segurar sua mão, eu não pude fazer nada. Me perdoa senhora Choi. — Não importa quanto tempo passe, eu nunca vou me perdoar por não estar ao seu lado nos seus últimos momentos. 

O que acontece quando se pensa em mil coisas ao mesmo tempo? Quando se concentrar em algo positivo é impossível, já que todos os seus mil pensamentos são tão sombrios que sempre te levam à ruína. Como escapar de uma prisão com grades invisíveis, mas que a cada dia só se fortalece? Aos poucos vejo o meu mundo desmoronando à minha volta, eu já não sei mais quem sou, nem mesmo me lembro de quem eu era, sinto que estou cada vez mais me perdendo em ruas desconhecidas, e então meus pés travam, e eu não sei mais que rumo devo seguir. Será que algum dia eu irei encontrar o caminho de volta ao meu eu de antes, ou terei que vagar eternamente em direção ao fim? 

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