_ Pegou suas roupas, seus tênis que você não tira do pé e seus óculos de grau? - Eu odiava usar óculos, por isso estava sempre de lente de contato.

_ Confere, confere e confere.

_ Pegou papel higiênico? - Oxi, não é que mãe pensa em tudo mesmo.

_ Mãe, porque eu precisaria de papel higiênico? - Perguntei perplexa e fiquei até com vergonha do motorista que entrou no carro para fingir que não estava rindo da minha cara.

_ Para limpar a bunda, Isadora. Para o que mais seria? - Respondeu como se fosse óbvio, enquanto o motorista se matava de rir dentro do carro.

_ Peguei mãe, não se preocupe. Agora eu preciso mesmo ir, porque já estou atrasada. - Respondi dando mais um abraço nela. A verdade era que não tinha pegado papel higiênico nenhum, mas já estava atrasada para pegar, então ia sem mesmo.

_ Tabom meu amor, faça uma boa viagem e não se esqueça de me ligar quando chegar lá.

_ Pode deixar mãe, te amo. - Me despedi dando um beijo em seu rosto e entrando no carro.

_ Se cuida meu amor, também te amo. - Falou me jogando um beijo e joguei outro.

_ Tchau, mãe. - Falei antes do motorista sair com o carro.

Agora não tinha mais volta, eu estava mesmo fazendo aquilo, não sabia o que me esperava lá em Madrid, mas espero ter menos estresse do que no Brasil.

Encostei minhas costas no banco do passageiro atrás e observei pela última vez as ruas do meu bairro.

Eu não morava em um bairro de gente rica, mas também não éramos tão humildes assim, digamos que eu estava na meia fase, sempre tínhamos o que comer e era por isso que era grata todos os dias da minha vida.

Em pensar que havia pessoas que nem tinham isso, por soberba das outras pessoas, me causava um nó no estômago.

Por que existia tanta desigualdade, uns tinham muito e outros não tinham nada, isso sim era uma injustiça.

Talvez seja por isso que nunca me dei bem com pessoas ricas, sempre se achavam superiores do que as outras. Um exemplo claro foi o que me fez ser expulsa da escola aos treze anos, eu almoçava sozinha no refeitório da escola quando vi uma garota sofrendo bullying por comer uma maçã e não um lanche como as garotas que tinham dinheiro para comprar faziam.

Me lembro de ter levantado da cadeira em que estava sentada, ir até a garota que fazia bullying e de puxar seu cabelo como se aquilo dependesse para que eu vivesse, me lembro de ter batido sua cabeça na mesa e de ter escorrido sangue do nariz dela, também me recordo quando a diretora me segurou e me levou para a diretoria, acredito que a menina tenha precisado de reparos médicos, mas se de uma coisa eu tinha certeza, era que ela nunca mais faria bullying com ninguém.

Após esse pequeno ocorrido, fui transferida para outra instituição, desde então meu pai mudou comigo, ele já não era a mesma pessoa, e digamos que isso tenha me causado alguns traumas de infância.

Mas enfim.. agora eu não podia mais olhar para o que aconteceu no passado, afinal eu não podia mudar ele, só tinha que focar no meu presente e no meu futuro que ainda era incerto.

Resolvi deixar tudo de ruim para trás e focar no hoje, por isso fechei meus olhos para aquele lugar e visualizei como que seria minha vida daqui para frente, eu pelo menos esperava que fosse melhor.

Não demorou muito para o motorista chegar ao aeroporto, embora tivesse trânsito, o mesmo cortou pelo acostamento, não era muito fã de pessoas que iam contra a lei, mas se ele não o tivesse feito, talvez eu não chegaria no horário, então relevei naquele momento.

Country on fire - Jude BellinghamWhere stories live. Discover now