Segredos Da Elite

CAPÍTULO 22 - NA SACADA DO MEU QUARTO

JUDY

Os meus olhos ainda permaneciam levemente molhados mesmo depois de horas. Depois que o Freddie me deixou em casa o agradeci brevemente e corri direto para o meu quarto. Toda aquela situação me machucou internamente, muito. Os insultos de James sobre eu ser uma vadia ainda ecoavam na minha cabeça e não me deixavam dormir. Eu já havia tomado um banho quente para tentar relaxar, mas os músculos do meu corpo continuavam tensos. A disposição que eu tinha para enfrentar as aulas amanhã era a mesma do Bilbo Baggins no início de O Hobbit. Chegava até ser engraçado a minha patética comparação; ele era apenas um preguiçoso que até então, estava satisfeito com a vida que levava, já eu tinha um coração partido.

Um ruído foi ouvido na sacada do meu quarto, mas eu continuei deitada de costas. Provavelmente devia ser o vento. Quando o ruído se tornou mais forte eu percebi que não se tratava do vento, havia alguém na sacada. Me virei na cama com receio de quem poderia ser. Por que alguém pularia os muros para vir aqui a essa hora da noite? Apenas uma pessoa já fez isso antes, e era ela quem estava lá.

Perdi o ar por alguns instantes. Não estava preparada para vê-lo outra vez, não depois de tudo que se passou hoje. Do outro lado James fez sinal para a fechadura na porta, enquanto eu permanecia de pé, parada à sua frente, do outro lado do vidro.

— Eu posso entrar? — ele finalmente perguntou. Sua voz saiu abafada por conta do vidro que nos separava.

— Para que? Acho que a cota de insultos por hoje chegou no limite. — eu disparei. A nova ferida que James abriu em mim ainda estava muito recente, e eu não sabia se queria ele aqui.

— Por favor. — a voz dele se quebrou. O nó que demorou tanto para se desmanchar voltou à minha garganta. Os olhos dele estavam cobertos como se houvesse uma espécie de névoa por isso eu não conseguia decifrar o que se passava com ele.

Acabei por ceder e destranquei a porta para que ele pudesse entrar. James passou por mim e levou sua a mão ao cabelo enquanto adentrava mais o quarto. Ele se sentou no fim da cama e tinha as suas mãos no rosto, e eu continuei perto da sacada, não queria muita proximidade com ele. Mantive os braços cruzados, sentia que se permanecesse dessa forma conseguiria me proteger das palavras que estavam por vir, mas a visão que tive a seguir me surpreendeu. Quando James levantou a cabeça de novo estava totalmente desarmado.

— Eu... — ele procurava as palavras certas, não sabia por onde começar o que quer que tivesse vindo me dizer. Nunca o vi daquele jeito, tão vulnerável. Eu conhecia todos os lados de James, do pior ao melhor, mas esse, esse era novo para mim, e já era o meu favorito. — Eu sei que falei merda e... a verdade é que eu não queria dizer aquelas coisas.

— Então por que disse? — eu tentava manter a postura. Se ele continuasse a agir assim diante dos meus olhos a minha armadura também cairia e isso não seria nada bom.

— Eu estava com raiva. Não pensei na hora, apenas disse. — eu via o esforço que fazia para ser sincero, mas ainda não entendi o porquê de tudo isso. Fazer essas coisas não era do James.

— Então confessa que só falou aquilo para me magoar? — eu precisava ouvir ele dizer, eu precisava da confissão dele.

— Me desculpa. — pela primeira vez desde que chegou ele me olhou nos olhos.

— Diz! — exigi. Se não fosse agora eu jamais teria algo como aquilo novamente, e então, eu nunca poderia encerrar essa questão dentro de mim.

— Eu só disse aquilo para te magoar, não te acho uma vadia. E, não é verdade que não me importo com o que aconteceu. Eu me importo.

Escutar isso me tirou um peso que eu nem sabia que carregava. Era muito estranho para mim como fomos do baixo ao alto em questão de horas. Ter James aqui, dentro do meu quarto no meio da noite me falando essas coisas deixava tudo muito confuso para mim. Quando eu pedi que ele me dissesse a verdade me referia apenas ao insulto que me dirigiu no parque, só que isso foi mais, muito além do que eu podia esperar. E eu não sabia como me sentia sobre isso.