Capítulo 48

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              MELINDA OLIVEIRA

Eu me solto de Mia e olho para as três mulheres mais importantes da minha vida. Sei que elas erraram, me negligenciaram, foram omissas em alguns momentos da minha vida. Mas não quero levar ressentimentos pela vida toda. Não quero criar minha filha longe da família. Não quero cultivar o ódio, a dor e a desesperança. Não quero odiar minha família. Apesar dos pesares, elas são minha família. Carla sofreu tanto para deixar que eu pudesse vir ao mundo. Ela lutou contra tudo e todos apenas para que eu pudesse nascer. Ela chorou ao narrar toda a minha história, uma história que eu nem tinha ideia que existia. Se eu já a amava, eu a amo ainda mais. Minha mãe Cassia, mesmo com toda sua amargura, cuidou de mim, me deu um lar, abrigo e me criou como filha. Mia, ela foi uma verdadeira irmã mais velha, me defendeu, enfrentou minhas brigas e me acolheu sempre que precisei.

— Eu preciso confessar que quando li o dossiê e descobri tudo através daquelas folhas, me destruiu. Ler que minha mãe não era minha mãe, que minha tia não era minha tia, que eu não tinha uma irmã, que eu vivi uma mentira... — Eu olhei para as três, que choravam inconsolavelmente.

— Me senti traída, eu era uma mentira. Eu me senti o ser humano mais rejeitado do universo. Fui abandonada pela minha verdadeira mãe e fui vendida pelos meus pais falsos. Fui rejeitada incontáveis vezes. E eu não era culpada, eu não fiz nada para merecer isso. Eu lembro que sempre quis ser uma excelente filha, só para ter aprovação dos meus pais. Quando me casei, foi para servir Ricardo e tentar ter sua aprovação. Eu sempre busquei agradar as pessoas. — Eu paro e olho para Anthony, que agora estava mais próximo a mim.

— Até que conheci uma pessoa que me mostrou que eu não precisava agradar ninguém. Eu precisava me agradar. Eu precisava me amar, eu precisava me impor. Não vou dizer que não dói, que eu não tenho ressentimento, pois estaria mentindo. Essas perguntas do porquê do abandono da minha mãe, do porquê meus pais me venderam, me acompanharam, o medo de saber que fui rejeitada por você não me querer como filha esteve comigo por todos esses meses. Eu nunca rejeitaria minha filha. — Eu sorrio em meio às lágrimas.

— Eu terei uma menina, acredito que nossa família tem sorte. Por termos mulheres guerreiras e fortes. Sim, eu acho que nós somos fortes e guerreiras, cada uma de nós teve que lutar nossas próprias batalhas e guerras, seja internas ou com o mundo lá fora. Eu entendo cada motivo de vocês, mas perdoar será com o tempo. Mais uma coisa é certa. — Eu paro de falar e abro os braços para um abraço triplo e chorando e sorrindo eu digo:

— Eu e a Maria Alice queremos vocês em nossas vidas. Ela precisa das avós e da tia Mia. E eu preciso de vocês também. — E as 3 nos acolheram em um abraço tão especial que eu me sentia completa. Aquela dor e vazio foram embora. Eu percebi que precisava tê-las por perto, ou não conseguiria viver em paz, não conseguiria seguir em frente. Sei que vai demorar para eu esquecer. Isso, se eu conseguir tal proeza, mas preciso tê-las na vida da minha filha. E eu amo elas. E mesmo me ferindo, me machucando, sei que cada uma me ama à sua maneira.
— Ah, meu anjo, minha menina, minha princesa... eu te amo tanto, Melinda. Eu sonhei com o dia em que você descobriria que eu sou sua mãe. Você foi muito desejada por mim. E muito amada. Nunca duvide disso. Eu nunca rejeitei você. As circunstâncias me fizeram deixá-la nas mãos da sua mãe, mas você nunca saiu daqui. — Ela pega minha mão e coloca em seu peito, chorando. E depois ela leva a mão para sua cabeça.
— E nem daqui. Nunca... — Ela toca em minha barriga e faz carinho.
— Agora você vai conhecer esse amor. O amor mais sublime que existe. — Eu concordo com a cabeça. Ela tem razão, eu já conheço esse amor. E acredito que por isso eu as quero por perto. Eu abraço a minha mãe Carla forte e ficamos assim por um tempo. Depois abraço minha mãe Cassia.
— Eu estou pensando em me separar do seu pai, Linda. — Ela diz.
— Por que, mãe?
— Seu pai e eu nos desentendemos, para vir aqui, travei uma grande guerra. Eu nunca mais vou deixá-la, Melinda. Quero redimir meus erros e, se você aceitar, quero fazer parte da vida da minha netinha.
— Claro, mãe. A senhora, a tia Carla... — Eu paro. Será difícil vê-la como mãe, mas vou tentar.
— E a Mia sempre serão bem-vindas em nossas vidas. — Eu paro de falar e vou até Anthony e ele me abraça e beija meus cabelos.
— Não é mesmo, amor? — Eu pergunto, e ele coloca as duas mãos em minha barriga e sorri.
— Tudo por vocês, as mulheres da minha vida. — E eu sorrio, a felicidade fazendo morada em meu coração. Minha família estava completa. Eu tinha tudo, e dessa vez eu podia ser eu mesma.

Um Anjo Na Escuridão Where stories live. Discover now