CAPÍTULO 44

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            ANTHONY FERRAZ

        ALGUMAS HORAS DEPOIS

Melinda está acabando de sair de um check-up após vários exames, e eu estou resolvendo a parte burocrática, dando meu depoimento à polícia. Apesar de Carlos e Rogério terem participado de tudo, pouca coisa precisei acrescentar. Melinda está muito abalada, com várias escoriações pelo corpo e machucados na cabeça. Ele a tratou como um objeto, amarrou suas mãos e pés a ponto de causar ferimentos. Maldito seja, se ele não estivesse morto, eu mesmo o mataria. William me disse que Ricardo teve 5 homens o ajudando e que três foram mortos pela primeira equipe, e os outros dois foram mortos por Heitor e William. Assim que saímos de lá, eles colocaram fogo no carro e na casa, esperando que tudo virasse cinza de uma forma que fosse quase impossível reconhecer os corpos ou colher qualquer informação que fosse. O policial que estava presente fará com que o caso seja encerrado o mais rápido possível, pelo que entendi, ele está na folha de pagamento de Ângelo.

É estranho conhecer pessoas com tanto poder nas mãos como Ângelo e William, mas o que presenciei e ouvi lá vou levar para o túmulo comigo. Só tenho que agradecê-los pelo bem que fizeram a mim e a minha mulher. Tenho uma dívida eterna com todos eles. Sei que homens como Ângelo não fazem nada de graça, e sei que a hora deles cobrarem seu preço chegará, e talvez eu não goste nada disso, já que estou envolvido com pessoas que criam suas próprias leis. É assustador e não tem como premeditar o que esperar deles, mas não me arrependo de ter aceitado a ajuda deles. Se não fosse por eles, eu estaria perdido, e minha mulher provavelmente teria sido violentada ou morta. Não quero nem pensar nisso. Então, seja qual for o preço que eu tenha que pagar, eu o farei.

Melinda está no quarto. Tive que me ausentar para pegar algumas roupas que Marlucia trouxe para ela, e agora sigo para lá. Minha mãe está me esperando na sala de espera.
— Oi, filho. — ela me abraça.
— Oi, mãe. Ocorreu tudo bem com a cirurgia do meu pai? Com todos esses problemas, nem tive tempo de perguntar sobre ele. — pergunto, preocupado.
— Sim, filho, ele está bem. Estava na UTI quando saí de lá. Sabe como Sônia me odeia, faltou pouco para me expulsar do hospital, e para não causar alvoroço, eu vim para cá.
— Fez bem, mamãe, e obrigado.
— Como está sua Melinda, filho?
— Ela está bem abalada, mãe. Triste, desolada, apática. Depois que a resgatamos de lá, ela disse poucas palavras. — Eu me sento em uma das cadeiras e coloco minhas mãos em minha cabeça, apoiando meus braços em meus joelhos.
— Estou tão perdido, mãe. Sei que ela passou por todo o momento traumático, que eu não vivi nem um terço do que ela passou, mas afetou diretamente a mim também. Porque era meu dever protegê-la. Me sinto culpado. Foi opressor vê-la tão frágil, com o vestido todo picotado. Foi devastador para o meu psicológico. — Minha mãe vem até onde estou e me puxa para um abraço.

Não digo, mas assistir à tortura de Ricardo também não me ajudou muito, e só tenho que agradecer Ângelo por não ter deixado que eu matasse Ricardo. Os nós dos meus dedos estão todos feridos. Antes de ir até Melinda, tentei me limpar, lavando minhas mãos como pude, tentando tirar o sangue e a mancha da violência da qual participei, mas isso não me faz sentir menos imundo. Sei que vou viver com aquelas cenas em minha mente para sempre, me assombrando e me lembrando do que fiz. Mas, em momento algum, me arrependo. Faria tudo de novo se precisasse.

— Nós nunca temos o controle de tudo, filho. Mesmo quando tentamos resolver as coisas, podemos cometer falhas. Somos humanos, propensos a erros, é assim que aprendemos. Você está sobrecarregado, enfrentou todo esse caos e é normal se sentir assim, perdido e desorientado. Não se cobre tanto. — Eu aceito suas palavras, pois sei que ela está certa. Fico ali com ela por mais um tempo, e depois seguimos os dois para o quarto onde Melinda está. Quando abrimos a porta, vemos ela enrolada em uma bola. Eu corro ao seu encontro, mas ela não se vira para me ver.

Um Anjo Na Escuridão Where stories live. Discover now