capítulo 16

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                ANTHONY FERRAZ

             DUAS SEMANAS DEPOIS

Já se passaram quase duas semanas e não tenho notícias de Melinda, e estou extremamente nervoso. Todo esse caos tem afetado meu trabalho. Eu sei que não tínhamos nada e que nem poderíamos, já que ela é casada com um sujeito desprezível, mas isso não diminui minhas preocupações por ela, apenas as aumenta. Sinto-me responsável por ela, embora saiba que não deveria.

Se eu fosse inteligente, daria isso por encerrado e seguiria em frente sem olhar para trás.

Mas como posso esquecer aquele sorriso inocente? Aquele olhar triste e desolado. Como posso deixar uma garota tão boa sofrer sozinha? Não consigo. Não sou capaz de permitir que ela sofra sem fazer algo para que ela sinta, no mínimo, que tem alguém ao seu lado.

Eu sei que hoje é o dia da consulta dela com a psicóloga, e aqui estou eu, no estacionamento da clínica, sentindo-me como um maldito perseguidor. Mas não consigo deixar de querer saber se ela está bem e por que parou de me responder. Vejo um carro se aproximando e uma senhora saindo com Melinda. Elas se despedem e a mulher vai embora. Saio do carro antes que ela entre no elevador e vou em direção a ela.

— Melinda. — Ela vira na direção em que estou e sua expressão de surpresa e culpa me atinge.

— Oi, Anthony. — Ela fala, olhando para os pés.

— Eu quero falar com você. Ou vai evitar minha presença também?

— Me desculpe, Anthony, eu... — Ela começa com seu discurso, que provavelmente é o mesmo que ela usa com o marido.

— Não quero saber das desculpas que você provavelmente dá para o seu marido, Melinda. — Eu já estava extremamente irritado, e para não me exaltar e assustá-la, respiro fundo, passo a mão pelos cabelos e olho para todos os cantos do estacionamento. Quando me sinto mais controlado, volto a encará-la.

— Houve algum motivo para você não me atender ou para não responder às minhas mensagens? — Ela nega com a cabeça.

— Não. — Ela sussurra.

— Certo. Então você me ignorou porque quis? Não houve nenhum problema com a internet, nem alguém pegou seu celular?

— Não. — Ela continua em seu monólogo.

— É só isso que tem para me dizer depois de todos esses dias em que você me deixou no vácuo? — Ela não diz nada.

— Você tem ideia dos milhares de cenários catastróficos que imaginei que poderiam estar acontecendo com você, Melinda? Você tem alguma noção do que você fez comigo? — Ela continua olhando para o chão. Não consigo mais lidar com isso, com ela, então saio de lá sem olhar para trás. Eu sou mesmo um idiota. Talvez ela tenha voltado para o marido, e eu aqui, pensando que ela estava sofrendo.
Pego meu carro e saio rapidamente daquele lugar, me afastando também de Melinda.
Espero que ela fique bem, pois minhas preocupações com ela acabam aqui.
Precisando clarear minha mente, sigo para casa e tomo um banho antes de me jogar na cama sem me importar com a posição.
Não faço ideia de como acabei me apegando tanto a Melinda. Cheguei ao ponto de considerar ir até a casa dela nos últimos 12 dias, disposto a derrubar aquela fazenda para encontrá-la, imaginando o pior. E quando a vi hoje, o alívio que senti foi indescritível, mas também decepcionante, saber que ela não falou comigo porque não quis. Isso me magoou. Talvez tudo o que tivemos não tenha significado nada para ela.
Saio de casa, preciso voltar ao trabalho que negligenciei por tempo demais.
Assim que chego ao meu escritório, sou surpreendido por Brianna. Ethan tinha me dito que ela tinha voltado, mas não imaginava que ela me procuraria tão cedo. Passo direto para minha sala, na esperança de que ela entenda que não quero dialogar com ela de jeito nenhum.
Mas acho que ela não compreende ou não se importa, e continua me seguindo.
— Boa tarde, Toninho. — Ela fala com uma voz esganiçada e irritante.
— Por favor, Brianna, você não me pegou em meu melhor dia. Então, se tiver um pouco de bom senso, se retire da minha sala.
— Nossa, é assim que você trata sua namorada? — Sorrio ironicamente, olhando para ela com uma sobrancelha arqueada.
— Você está falando sério, Brianna? Está com amnésia?
— Claro que não, meu Love. Só vim tentar reparar os danos.
— Acontece, Brianna, que não há mais nada para você aqui. Acabamos. Terminamos. Não existe mais "Love", não existe mais "Toninho". Entendeu?
— Não seja tão duro assim, Toninho. Nós podemos resolver isso. — Sem paciência, pego o telefone da minha mesa e a encaro, praguejando.
— Se você não sair voluntariamente, serei obrigado a chamar os seguranças. Você escolhe. — Estava prestes a discar o número da minha secretária, Regina, quando ela suspira e coloca a bolsa no ombro.
— Não vai ficar assim, Toninho. Eu vou te reconquistar. Você é meu.
E ela sai rebolando da minha sala, achando que esse tipo de comportamento me atrai. Coitada, tão superficial.
Se meu dia já estava ruim, piorou 100% porque, além de tudo, ainda terei que lidar com os jogos de Brianna, e a diaba não joga limpo. Me jogo na cadeira e passo as mãos pelos cabelos, deixando-os em completa desordem, e dane-se.
Tento me concentrar no trabalho, mas pouco adianta. Estou um caos por dentro. Quando estava prestes a encerrar o expediente, Eduardo bate na porta do meu escritório e entra.
— Vamos a um barzinho?
— Acho que não fará mal, não é mesmo?
— Vejo que você precisa de distração.
— Você viu meu pesadelo disfarçado de mulher? — ele confirma com a cabeça.
— É meu amigo, temo que tempos difíceis estejam por vir para você.
— Me conta algo que eu não saiba? — Desliguei o notebook, guardei os documentos no cofre, apaguei as luzes e saímos para fora. Já passava das 21:00. Saio em silêncio e seguimos juntos até o estacionamento. Decidimos ir ao tal "barzinho" como Eduardo insiste em chamar, mas que na verdade é um clube restrito para pessoas de alto escalão, digamos que seja uma fachada para as atividades obscenas que acontecem nos bastidores. Claro que nunca vou dizer isso para o William.
A noite foi interessante, Eduardo subiu para o nível 4, onde ficam os quartos. Acho que ele encontrou alguém.
Eu voltei para casa sozinho, e não adiantou nada beber ou ver pessoas quando minha mente está em outro lugar. Meu celular estava desligado e nem me importei, Brianna não vai me deixar em paz mesmo. Apenas o conecto no carregador e vou para o banho e, em seguida, para a cama.


Um Anjo Na Escuridão Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt