28°CAPÍTULO

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O impulso nada mais é do que o desejo falando mais alto que a razão...

JOSHUA BEAUCHAMP

— Odeio ser chantageado, e sabe disso mais do que ninguém, Bailey!

Havia acabado de desembarcar em Miami ao lado do meu advogado, e estava mais nervoso que o normal. A última coisa que eu precisava era de mais um problema com a máfia.

— Você sabia onde estava se metendo quando fez um acordo com Noah.

— Sim, eu sabia. A questão é parar tudo que estou fazendo para o meu cassino e resolver um problema em outro estado.

— Sei que vai usar esse tempo aqui para conseguir fundos para o cassino. Toda chantagem tem dois lados, e se te conheço bem, vai usar sua cabeça para ganhar algo em troca, mesmo sendo chantageado.

—  Pode apostar que vou.

Depois que pegamos um táxi fomos até o Four Seasons, um hotel cinco estrelas da cidade. Eu me estabeleci em um dos quartos, e Bailey fez o mesmo. Combinamos de nos encontrar em duas horas no saguão, onde daria fim a toda aquela palhaçada.

— Será que meu dia pode ficar pior?!

Fitei o teto, puto, e fui até o banheiro, ligando o chuveiro, preparando-me para entrar no mesmo. Ao retirar toda a minha roupa e entrar no box, ouvi meu celular tocando e fechei meus olhos. Com extrema má vontade saí do banheiro, pegando meu aparelho em cima da cama. Quando vi que o Clark estava me ligando, fiquei possesso.

— Espero que seja algo importante — bradei ao atender.  — Já passou das 20h e meu voo foi cansativo pra caralho!

— Estamos com um problema. Um dos gerentes da ala do blackjack veio fazer uma reclamação, e...

— Que porra eu tenho a ver com isso?! — o interrompi. — Eu te pago pra quê?! Ah, é, lembrei, resolver a porra dos problemas e não passar eles pra mim! - o antevi.

—  Acontece que o problema envolve a senhorita Any Gabriely.

Puta que pariu. Eu não tinha um segundo de paz. Merda de lei da atração que funcionou logo na pior hora possível!

Durante um minuto, que parecia uma eternidade, ele explicou o problema, e isso só aumentou a minha raiva, principalmente ouvir o motivo da ligação.

—  O que você quer que eu faça, Clark? - Coloque-a no devido lugar! Ela agir assim é prejudicial ao cassino, e...

— Espera - o cortei.  — Vou te dar a chance de repetir isso, mas é melhor pensar bem em como vai colocar essas palavras. O celular ficou mudo, e senti a sua respiração do outro lado da linha.

— Any Gabriely está passando por cima de uma hierarquia que você mesmo estipulou. Bater de frente com o supervisor da seção na frente de clientes e funcionários é extremamente prejudicial, e não passa uma boa visão para quem trabalha lá. Ela precisa se colocar no lugar dela, e...

—  Cale a boca, Clark, e me ouça atentamente. Vou falar só uma vez e não vou repetir: ela vai se colocar no lugar dela sim, e esse lugar é ao meu lado me apoiando, igual estou fazendo com ela. Segundo: Any tem carta branca pra fazer o que quiser na minha ausência, e provavelmente deve ser mais inteligente que nós dois juntos, e terceiro: se tem alguém que sabe o que de errado está acontecendo lá é ela, não você, que nem se dá o trabalho de pisar naquela seção. Se acha que ter um bode expiatório lá te ajuda, saiba que não funciona comigo. Fui claro o suficiente?

Ouvi uma voz diferente do outro lado da linha resmungando algo, mas pouco me importei, desligando o telefone, sem esperar a resposta. Minha palavra era a resposta final.

— Porra de dia que não acaba! - Joguei meu celular na cama, e fui andando nu até o banheiro.

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—  Tomar um belo banho melhorou o seu semblante - Bailey falou, enquanto descíamos o elevador, já chegando no salão principal do hotel.

— Vá à merda, Bailey.

—  É... acho que percebeu que era uma mentira.

Olhei meu Rolex, e se passava das 21h50, e Phillippe não havia chegado.

—  Preparado?!

— Eu já nasci preparado - rebati. — Só quero que essa reunião termine logo.

Ainda esperando Noah chegar, observei meu celular tocando novamente, e quando vi o número, o sangue subiu à minha cabeça. Era um dos telefones diretos do cassino novamente.

— Por que está me ligando de novo, Clark? - esbravejei, ao atender.

—  Senhor, meu nome não é Clark, sou o Guzman Hilt, e...

— Guzman quem?! - o interrompi. — Sou o gerente da ala de blackjack. Sei que Clark te ligou um pouco mais cedo, mas preciso reforçar novamente que Any Gabrielly passou dos limites, e...

—  Puta que pariu! — bradei, atraindo a atenção de várias pessoas, mas nem liguei. — Duas ligações em menos de trinta minutos sobre o mesmo assunto?! Cadê a porra da hierarquia desse cassino?!

— Ela passou por cima de mim e isso é inaceitável. Precisamos resolver essa situação logo para que ela não piore.

—  Que tal eu resolver isso agora! - pontuei, sabendo exatamente o que fazer.

— Como?!

— Apoiando minha futura esposa. Você está demitido! E, se me ligar novamente, vai se arrepender.

—  Mas...

Encerrei a ligação, respirando fundo e fechando os olhos, tentando conter a raiva.

— Futura esposa, hein... Está levando a sério o plano, estou gostando disso.

— E você não encha a porra do meu saco também!

— Prefiro você assim às vezes - rebateu.

—  Todos nós precisamos ser impulsivos durante alguns momentos.

—  Que seja.

Após mais alguns minutos Noah apareceu acompanhado de um dos seus braços direitos.

— Espero que Bailey tenha falado o que eu preciso hoje - pontuou, ao se aproximar.

—  Sim. Da próxima vez me avise antes sobre os seus planos, não trabalho pra você.

—  Mas me deve lealdade.

— Assim como você - ponderei, levantando-me. - Não me trate como uma instituição de caridade, porque não sou. Lembre-se bem disso.

— Você está diferente, Joshua. Gosto dessa postura agressiva.

—  Então vai gostar mais ainda disso... - Fui até o homem, encarando-o. - Você vai me ceder um espaço específico no cassino a partir do mês que vem, já que estou prestes a fazer isso pra uma pessoa que nem conheço em poucos minutos.

—  Isso não é uma negociação, Joshua.

— Acabou de virar uma - expliquei, com ignorância. - É pegar ou largar.

— Ninguém mandou elogiá-lo... - Bailey sibilou, divertindo-se.

— Agora se resolvam.

Noah não moveu um músculo sequer do seu rosto, mas em seguida acenou positivamente.

—  Feito. Agora, vamos aos negócios...

𝘼𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖 𝙁𝙖𝙩𝙖𝙡Where stories live. Discover now