27°CAPÍTULO

564 66 21
                                    

Sempre há um bom enigma dentro de um jogo...

ANY GABRIELLY

Ainda estava preocupada com a última conversa que tive com Joshua. Ele não parecia animado para viajar, até pensei em perguntar diretamente a ele, mas não o fiz.

Algo no rosto dele estava diferente, e nossa convivência me fez perceber que alguma coisa poderia não estar ocorrendo como esperado. Após ele sair da suíte, troquei-me e desci o elevador, começando meu turno. Por duas horas trabalhei com a mesa quase cheia, mas pouco a pouco as pessoas foram indo embora, e agora estava ociosa, com a mesa vazia.

Hoje, também, o movimento estava mais fraco que o habitual, mas era corriqueiro. Terças-feiras, eram os dias mais parados dentro dos cassinos, e aqui não era diferente. O pessoal tirava os finais de semana e a segunda-feira para se aventurar em um jogo de azar, e o peso acabava recaindo nas terças.

Provavelmente hoje eu era a maior contribuidora para o sucesso do cassino, minha sorte estava "terrível", por isso minha mesa estava às moscas. Ainda imersa em pensamentos percebi uma enorme gritaria a três mesas da minha, notei Guzman, meu chefe, gritando com Natália, uma das meninas da nossa seção.

- Você por acaso é burra ou se faz de idiota?!

- Foi sem querer, a carta escorregou, e...

- Sem querer uma ova! Foi proposital, eu faria o blackjack! - um dos homens sentados na respectiva mesa bradou.

- Mas senhor, eu...

- Cale a boca, Natália! Vá até o RH, você está demitida.

- Não vou deixar você fazer isso e nem falar assim com ela! - Não me dei conta do momento que levantei e disse essas palavras olhando diretamente para o meu supervisor. - A Natália está aqui há menos de quinze dias, e é normal isso acontecer. Ela ainda não tem prática.

- Eu não perguntei sua opinião.

- Mas a estou dando mesmo assim. - Bati o pé.

- É melhor voltar agora para a sua mesa, Any Gabrielly. Não vou falar duas vezes.

O clima ficou tenso. Praticamente todas as meninas ao meu redor pararam de dar cartas, e só prestavam atenção em nós. Ninguém bateu de frente com Guzman até hoje, estava sendo a primeira, e confesso estar com receio.

- Ela não fez de propósito. Eu vi quando a carta escorregou de suas adoráveis mãos.

Fui surpreendida por um homem na mesa em questão dizendo essas palavras. Ele estava bem-vestido. Tinha os olhos azuis, e o olhar bem penetrante, e não titubeou enquanto falava. Ele estava ao lado do homem que acusou Natália.

- Estamos aqui para jogar, senhores - continuou. - Um erro não fará diferença na vida de ninguém, muito menos na sua, desde que cheguei à mesa você está ganhando mais do que perdendo, e não há necessidade de gritar com a moça. Sei o quanto elas ganham pouco para darem cartas, isso não é justo da sua parte, cavalheiro.

Foi necessário pouquíssimos segundos para que ele conquistasse a minha admiração. É raro por aqui alguém defender uma crupiê. Ninguém falou nada, mas em seguida o senhor pegou suas fichas e saiu da mesa, deixando somente o homem. Olhei para a Natália e ela estava chorando e tremendo.

- Vá descansar. Eu te substituo - falei, sabendo que meu horário de descanso seria em poucos minutos, e que não teria problema algum em ficar no lugar dela até que ela se recuperasse.

- Acho que esqueceu quem manda aqui! - Guzman esbravejou, e olhei bem nos seus olhos negros.

- Não se preocupe, Natália, pode ir. Eu resolvo isso e vou te cobrir - afirmei, sem tirar os olhos do homem nem por um segundo. Mesmo duvidosa, ela saiu a passos largos da mesa, indo em direção à sala de descanso.

𝘼𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖 𝙁𝙖𝙩𝙖𝙡Où les histoires vivent. Découvrez maintenant