Clara.

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Mais um dia havia se passado. Eu estava deitada sob a cama, e do meu lado estava um líquido fedorento de cor meio esbranquiçada ou seja lá qual era a cor, deduzi que era vômito. Meus cabelos estavam completamente embaraçado e desalinhado. Demorei um tempo para me levantar e abrir meus olhos, por conta da claridade que vinha da janela. Quando pude abrir melhor meus olhos, olhei ao redor e notei alguns posteres de umas bandas de rock monótonas como Kiss e Nirvana nas paredes. Olhei para o lado da cama que eu ainda estava deitada e tinha uma garota que aparentemente tinha 17 anos. Ela estava com o cabelo desarrumado assim como eu, mas tinha um corte de cabelo esquisito, como se algum maluco literalmente tivesse raspado metade da sua cabeça enquanto a outra metade estava com os fios de cabelo ainda longos, mesmo que alguns fios indicassem que uma tesoura cortou eles. Foi aí que senti o cheiro de ovos e fritura. Me levantei com um pouco de dificuldade por estar com uma tremenda dor de cabeça e uma dor nas costas insuportavel. Se eu disser que eu estava com uma regata branca e rasgada, uma cueca box masculina e um par de meias sujas e fedidas, seria previsivel? Dei mais alguns passos até a cozinha, espreitando os olhos tentando me acostumar com a claridade.  Naquela visão, pude perceber Amy de costas mexendo em algumas panelas no fogão, e ao seu lado tinha um pequeno som de JBL que tocava "say my name" de Beyoncé. Por Amy ser estrangeira, ela tinha essa mania de não desapegar das músicas que costumava tocar nas rádios dos EUA. Me aproximei cada vez mais perto dela, mas notei que somente a cozinha era totalmente limpa e organizada, tanto que brilhava. Não conseguia me lembrar de como bagunçamos o quarto de maneira tão exagerada.
- Bom dia, Amy. - Me encostei em uma das bancadas de um armário qualquer e cruzei meus braços.
— Até que fim você acordou. Como passou a noite? - Ela desligou o fogão, pegou a frigideira e se guiou até um prato de porcelana, logo depositando os ovos e bacon no prato. Eu olhei para essa refeição e fiquei tipo: "preferia pão com ovo", mas ignorei isso, até porque eu nem sei se essa refeição é para mim.
- Essa refeição é inteiramente sua. - Ela sorriu para mim com um sorriso perfeito, que aparentemente não tem nenhum defeito. Por um momento, me senti no mundo da lua. Comecei a pensar no tempo que desperdicei nos meus proprios problemas e nem tive tempo de rir verdadeiramente. Se bem que eu só ria verdadeiramente com Pâmela...
- Obrigada, Amy, mas você sabe que não me sinto confortavel para comer na casa de outras pessoas. Eu nunca vim na sua casa e isso é estranho para mim. - Dei um sorriso de canto e fiquei ao lado de Amy, desviando meu olhar para os olhos de Amy e para o prato algumas vezes.
- Aí é que você se engana... Essa casa não é minha. Lembra quando eu te falei que estava morando em uma kitnet barata com apenas dois cômodos? Ainda não tenho uma qualidade financeira muito boa no Brasil e tudo mais... - Ela articulava alguns gestos com as mãos enquanto falava, parecendo bem tagarela sobre o assunto, mas me equivoquei assim que ela disse "Essa casa não é minha." e acabei interrompendo ela.
- Espera, como assim essa casa não é sua? Onde eu estou e por que uma estranha dormiu comigo em um quarto nojento? - Franzi as sobrancelhas e sobressaltei a voz. 
- Pois é, querida. Estamos na casa da Nina. Agora você não lembra dela, mas quando estava bêbada, foi com ela que você caiu no soco lá no bar. Você disse que não tinha onde ficar e que ninguém podia ver você naquele estado, então ela permitiu que você ficasse na casa dela. E no quarto dela. Não sei o que aconteceu depois, mas pelo pouco que vi, suas roupas aparentemente foram retiradas por ela ou algo assim... - Amy cruzou os braços e manteve o semblante sério. Eu coloquei minhas mãos na cabeça e fiquei pressionando alguns fios enquanto andava em circulos, tentando me lembrar do ocorrido. Meus lábios tremiam com os pensamentos fantasiosos de que uma estranha briguenta de um bar havia tocado em mim. Meus olhos arregalados e desnorteados observando mil e uma coisas ao mesmo tempo porque estavam confusos. Meus pensamentos se esvaziaram quando levantei a cabeça e notei a presença daquela garota com cabelo raspado. Suas roupas estavam tão estranhas quanto as minhas; rasgadas e imundas. Ela parecia ter algumas cicatrizes estranhas na barriga, e seus cabelos estava totalmente desregulados. O que deixava ela atraente era seus olhos esverdeados, que sinceramente, eram bem bonitos e chamativos. Sua pele pálida tinha algumas coisas vermelhas estranhas, parecidas com aquelas marcas estranhas que temos quando dormimos. Tanto eu quanto Amy observamos a garota se aproximar com cada vez mais lentidão por ter alguma dor que fazia ela andar meio torta. Imediatamente minhas mãos não agarravam mais meus fios.
- E aí? - Ela disse, se apoiando na parede e com uma careta no rosto indicando que estava sentindo dor.
- Você é a Nina? - Engoli a seco, tentando disfarçar meu constrangimento com aquela cena.
- A Nina é minha irmã. Você não lembra do que ela te disse ontem? Ela bebeu tanto que me expôs em diversos momentos nas suas histórias de vida. 
- Na verdade, eu não me lembro de nada. Será que dá pra me explicar o que diabos aconteceu? 
- Vamos para a sala nos sentar, é melhor pra mim. Inclusive, você pretende comer esse prato de ovos com bacon? - Nina disse, apontando para o prato e lambendo os beiços.



A garota estranha que não me disse seu nome até agora, estava sentada no sofá, ainda gemendo de dor. Senti vergonha em perguntar que dores eram aquelas, então preferi apenas me sentar ao seu lado caladinha e em uma postura comportada.
- É o seguinte: Primeiramente que você não transou com ninguém, segundo que minha irmã brigou com você, terceiro que você falou sobre seu namorado agressivo e nos sensibilizamos para trazer você até nossa casa. E por último, eu, você e ela ficamos nesse estado terrível porque compramos mais bebidas para beber aqui e ficamos muito bêbadas. E sim, eu sei sobre o meu cabelo. Na verdade, foi eu mesma que fiz.
- E a Amy? 
- Ela foi a mãe do rolê e cuidou da gente. Eu liguei para ela e mandei a localização.
Eu ia dizer mais alguma coisa, mas antes que pudesse ditar, senti uma vibração no meu celular que estava no meu bolso. Retirei ele e vi uma mensagem de Monique me convidando para uma festa.

Sem rumo.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora