Emilly

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A luz da lâmpada estava tão forte que meus olhos doeram imediatamente. Eu precisava sentir algum tipo de dor para que pudesse me lembrar que, apesar de todo o serviço incompleto, eu sou uma humana. Estava pensando em quando tinha 7 anos e tudo parecia mais simples. De repente nos meus pensamentos, me recordo que eu estava sentada na carteira da escola com 2 livros e 1 caderno em cima. As pernas eram cruzadas. Utilizava uma meia calça rosa e o uniforme da escola (fardamento branco com o nome da escola e uma saia azul escuro). Naquele dia, eu havia feito um lindo penteado com direito a 5 laços de cores sortidas. Estava aparentemente tudo bem, não tinha nada fora do comum. Minha única amiga, Clara, me alertava o tempo inteiro que eu tinha que passar mais tempo brincando ao invés de gastar cabeça com atividades escolares o tempo inteiro. Eu me perdi no que ela disse, porque sabia que ela estava totalmente certa. Quando a aula terminou, eu fui para casa e minha mãe estava sentada no sofá com a meia calça branca que eu geralmente utilizava para ir a escola. Ela me chamou para mais perto com uma voz tão cautelosa que logo percebi que se tratava de pauladas...
- por que não utilizou a meia calça? - a meia calça estava ao seu lado. Minhas mãos ficaram suadas e minha voz quase não saía.
- Eu... Quis experimentar a rosa para sair da rotina. - é claro que depois de contrariar a moda idiota da minha mãe, eu levei pauladas. A maioria delas eram com uma espécie de chibata, tipo aquelas que as professoras usavam para bater nos alunos. Ela batia especificamente nas costas, pois achava que era o local que eu mais sentiria dor. Meus gritos implorando por perdão ecoavam pela sala, e até mesmo a secretária da minha mãe se emocionou e tentou conter as lágrimas saindo rapidamente da sala. Fujo dos meus pensamentos quando percebo que estou atrasada para ir a escola.

Na escola.

Não tenho muito o que dizer da escola, mas sinto que todos aqui são patéticos comparados a mim. Não é querendo ser arrogante, porém é a verdade. Eu sou a melhor aluna da turma, sendo até mesmo presidente do Grêmio estudantil, tenho minha própria sala de reforço escolar e sou meio que uma "secretária" da diretora. Apesar de tudo, ainda sinto muito cansaço por ter tudo isso nas minhas costas, mas é melhor o cansaço do que ser expulsa de casa por cometer um erro bobo na escola.
O alarme da escola toca indicando que deveríamos sair da sala para um recreio de 10 minutos para pegar mais livros no armário. Existia uma espécie de "liderança" até mesmo nos armários pessoais de cada estudante, e obviamente eu era a líder. Alunos considerados "burros" que não estudavam e eram um Zé ninguém na escola automaticamente recebiam suas provas coladas com o número 0 enorme e tinha alguns gore de burros sangrando. Um desses burros foi um tal de Pierre, que tirou 2,5 na prova de geografia e, quando viu seu armário coberto de papeladas com suas provas zeradas ou com péssimas notas e várias imagens de gore, vomitou sem parar e sem pensar nas consequências de ser alvo de bullying. De qualquer modo, é realmente nojento e grotesco que isso seja feito por um cara chamado "Tiago". Só pelo nome já dá pra ver que ele não presta. O Tiago era um cara com 1,80. Tinha um corpo atlético com músculos bem trabalhados e cabelo loiro com olhos claros. Típico, certo? Claro que ele gostava de futebol e seria um dos melhores jogadores da escola. Outro tópico interessante sobre esse idiota é que ele claramente é um cafajeste. A última garota que ficou com ele, a Pâmela, ficou grávida dele e ele gritou com ela (ou até mesmo espancou, nunca saberemos) e ela teve um aborto instantâneo. Só sei disso porque foi ela que correu diretamente para mim quando viu o sangue escorrer pelas pernas. Ela não pretendia abortar, mas esse sempre foi o plano do Tiago. Por fim, vejo minha única amiga, Clara, chegar até mim para abrir seu armário e pegar um novo livro. Quando pegou, ela fecha o armário com tanta força que faz um barulho forte, logo me olhando com um sorrisinho malicioso.
- o que foi agora? - eu disse fechando a porta do armário e encarando ela com a expressão vazia de sempre agarrando os livros.
- já te disseram que você fica sexy com o cabelo desarrumado? - meu cabelo era cacheado, mas a minha mãe alisava ele desde pequena. Essa é uma das poucas chances que tenho de ter meu cabelo natural exposto, embora já esteja com partes lisas na raiz do cabelo. Eu sempre achei feio essa parte dos fios lisos na raíz, então sempre fazia penteados que pudessem disfarçar isso. Hoje estou utilizando um coque simples.
- o quê? - eu sempre quis isso. Que alguém me elogiasse pelo meu cabelo. Achei que não iria acontecer enquanto eu não alisasse.
- Ah, você ficou sabendo do Thomas? - Thomas era um garoto misterioso, mas muito lindo. Tinha olhos acinzentados e cabelos castanhos com alguns cachos. Seu cabelo tinha um degradê em baixo e vários cachinhos definidos em cima, o contraste perfeito que combina com ele. Ao contrário de Tiago, Thomas era desejado pelas meninas por ser habilidoso com os dedos. Aparentemente, ele era um gamer de sucesso, o qual até fazia live na Twitch e tinha uma quantidade relevante de pessoas que o acompanhavam. Geralmente, eu assistia ele jogar com um perfil chamado "amoras2076" junto com Clara lá em casa quando minha mãe não estava. Mesmo que não tenha o mesmo físico do corpo atlético de Tiago, ele era lindo sendo um branquelo magro sem músculos.
- o que aconteceu com ele?
- ouvi dizer que ele está namorando. - e realmente estava. Clara e eu ficamos boquiaberta quando vimos que ele estava chegando na escola de mãos dadas com uma garota qualquer que não conhecíamos. Ela era uma garota negra de pele dark skin, tinha lábios carnudos que davam inveja e um lindo cabelo cacheado com bastante volume e ao mesmo tempo definido. Parecia estar utilizando um gloss brilhoso com glitter nos lábios e tinha curvaturas salientes. Até eu questionei minha sexualidade por 2 minutos.
- bom dia, Emilly. Bom dia, Clara. - ele dizia no mesmo tom seco. Eu sinto que não deveria dizer isso porque agora ele é comprometido, mas se ele me desse uma brecha bem pequenininha, eu juro que eu teria dado para ele.
- Bom, se ele era virgem antes, agora não é mais. - Clara havia dito. Era curioso o motivo de todos acharem que ele era virgem. Talvez tenha sido por causa de Pâmela que já tentou se envolver com ele. Ela havia dito que ele era virgem, mas não é surpresa para ninguém que ela sempre dizia coisas ruins para os garotos que recusavam ficar com ela. Eu tranco meu armário com o pequeno cadeado com um adesivo ✅ desse tipo (igual ao emoji) e seguro o braço de Clara para me retirar do corredor junto com ela.

Sem rumo.Where stories live. Discover now