Monique. - Você é minha cura.

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Já faz horas que eu mando mensagem para Thomas e ele simplesmente me ignora como se eu tivesse sumido da vida dele. Tipo, que idiota, certo? Eu não sabia de nada do que ele estava passando, e ele ja sabia tudo que eu ja sofri, coisas que ninguém sabia além dele. Ele era um covarde que vivia escondendo seus sentimentos. Eu nem devia pensar nele. 
Depois que eu saí da casa dele, eu simplesmente não olhei para trás. Mesmo que eu tivesse uma linhagem meio estranha de ser "obcecada" por relacionamentos amorosos, depois dessa treta com o Thomas, eu estava tentando ter uma nova fase, onde eu poderia ser totalmente obcecada por eu mesma. Iria hidratar meu cabelo, fazer skincare todos os dias, fazer dieta e academia, todo tipo de coisa. Até fui a uma loja de instrumentos musicais para focar minha mente em um novo hobbie: música. Eu quero ser feliz, me sentir bem comigo mesma e todos esses bagulhos... Estava ouvindo "starboy" de The Weeknd enquanto treinava com o aparelho de glúteo da academia. Estava com roupas justas no corpo, o corpo molhado de suor. Eu sinceramente, estou tentando ignorar o fato de que estou desesperada por Thomas. O esforço mais forte que estou dedicando ao aparelho me faz perder um pouco o foco dos pensamentos e dar um pequeno gemido de dor, que soou mais como uma aprovação para mim. Finalmente havia terminado de utilizar esse aparelho e mais alguns outros, então apenas dei uma palavrinha com o personal treiner antes de finalmente pegar minha bolsa e minha garrafa e sair do local. Estava chegando em casa, cansada da academia. Cansada de pensar em quem eu não devia, mesmo tentando não pensar. Não parava de observar o celular, aguardando alguma coisa do Thomas. De repente, a notificação fez o meu celular vibrar, e eu pude ver pela barra de notificações que se tratava de Emilly. 

Emilly: tá aí?

Eu: O que houve?

Emilly: não me sinto bem.

Eu: o que eu posso fazer por você?

Emilly: posso te ligar?

Não respondi, apertei um botão que ligava diretamente para Emilly. Esperei por alguns segundos que ela atendesse, e logo ouço a voz dela com a sua respiração ofegante.

- Monique?

- Sim?

- Eu... Não me sinto bem. 

- Emilly, o que houve? O que eu posso fazer por você?

- Eu não sei o que aconteceu comigo, Monique... Eu... - o celular fica mudo por alguns segundos. Só consigo ouvir alguns barulhos estranhos de fundo, talvez porque ela moveu seu celular e pousou ele com força em algum lugar. A voz de Emilly não estava com jeitinho de quem estava chorando, pelo contrário, parecia calma até demais. Me preocupei com ela, até porque, eu não a conhecia, como poderia ajudar uma estranha? Suspirei fundo antes de ouvir a voz dela novamente.

- O problema talvez seja as minhas amigas. Ou minha mãe. Ou eu mesma.

- Emilly, você quer vir até aqui em casa?

- Você acha que eu posso?

- Vai com calma. Respira fundo e me fala o que houve.

- Eu planejei meu suicidio em uma ponte que eu tinha costume de visitar depois da escola, mas alguém puxou meu braço. Foi um rapaz, que por sinal, era muito lindo. Me olhou com os olhos arregalados e ainda foi ousado em me dizer para não fazer isso. Ele não esperou que eu saísse da ponte, apenas disse que tinha que ir porque estava atrasado. Antes dele correr para longe, ele me deu um abraço e sussurrou no meu ouvido "você não está sozinha."

Eu quase surtei. Eu nunca lidei com os pensamentos suicidas de outras pessoas sem que fosse os meus. Agora quem estava ofegante era eu, tanto que até demorei para raciocinar e dizer algo para Emilly naquele momento. Apenas me sentei na cama ainda perplexa e paralisada olhando para a parede com o celular na mão. Eu sabia que não poderia dar qualquer resposta, porque ela tentou suicidio e estava pessima mentalmente, então não era dificil que ela tentasse cometer novamente. Eu preferia dizer que tudo ficaria bem e que esse homem foi um anjo na vida dela, mas sinto que isso não é o suficiente. 

- Monique?

- Perdão, Emi. Eu só estava pensando um pouco. Bom, eu me sinto totalmente contente em saber que você continua respirando. E talvez, quem sabe, aquele homem não fosse um sinal para você se manter viva e encontrar sua outra metade?

- Do que você está falando? Eu seria expulsa de casa se isso acontecesse. 

- Apenas viva, Emilly. Se o amor bater na sua porta, não deixe que sua mãe ou qualquer outra pessoa abra a SUA porta. 

Não ouvi mais nada vindo de Emilly. Me desesperei mais ainda percebendo que ela ficou durante um longo tempo quieta. 

- Emilly?

- Você é boa nisso. 

Agora sim, a voz dela estava chorosa. Me senti mal por fazer ela chorar, como se já não bastasse ela chorar demais hoje mais cedo. Não respondi, esperei que ela se acalmasse e dissesse algo, mas ela não disse nada. Ela apenas desligou a ligação. Não consegui entender bem, mas a única coisa que passava na minha cabeça era a capacidade que ela tinha de se suicidar. Engoli a seco e logo peguei meu celular para fazer uma ligação para Thomas. Depois desse papo de morte, fiquei ainda mais angustiada. Esperei alguns minutos com o celular ligando para ele, e quando finalmente ele atendeu, eu suspirei aliviada.

- Thomas, não faça nada.

- Do que está falando, Monique?

- Apenas, viva. Por favor, eu não posso te ver fazendo aquilo e nem deixando de existir.

- Mas eu não estou fazendo nada, relaxa. Inclusive, por que está chorando? Pensou nisso enquanto não tivemos contato?

- Thomas... Tudo que você poderia ter dito era tudo que você mantia em segredo. Por que escondia tudo de mim? Você poderia ter pensado em mim quando mostrou tudo aquilo. Eu te amo, Thomas. Eu...

- Eu já entendi, Monique. Eu também amo você, e por isso estava me desfazendo da minha rotina corrida de tomar remédios e usar objetos cortantes. Perdão por não falar antes, apenas me perdoe. Agora, você já sabe, certo? Você é minha cura.

- Oh, Thomas...

Sem rumo.Where stories live. Discover now