Festa - Emilly.

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As festas que eu ia sempre foram detestaveis. Tantos adolescentes gastando saúde e energia se baseando em sexo, drogas, pegação e alcool. Diferente do que Clara e Pâmela pensavam, isso era deprimente para mim. A única coisa boa eram as fofocas que rolavam e as brigas aleatorias que tinham na festa enquanto ninguém notava. Estavam ocupados demais tentando beijar alguém. Pâmela e Clara estavam dançando agarradas com alguns rebolados. Na maioria das vezes, isso é somente para chamar a atenção de Tiago o namorado de Pâmela. Eles nunca tiveram um relacionamento estavel, sempre brigavam e terminavam. As vezes, ela me ligava chorando de soluçar porque encontrou nudes na galeria do seu namorado. Clara era o tipo de amiga sincera e direta, que não gostava de enrolar nas conversas. Sempre deixava bem claro:

- ele não presta.

- cala a boca, Clara. Desde quando você tem autoridade para dizer uma coisa dessas? - Pâmela aparentava estar abatida. Seu rosto estava pálido e suas olheiras haviam aumentado.

- Ah, esqueci que tambem fico com um cara merda, me desculpe. - Clara disse ironizando a frase e deu uma revirada nos olhos. Eu apenas permanecia observando tudo. Sempre ficava pensando em voltar mais cedo da festa, mesmo que as meninas sempre me dissessem que eu deveria ficar para curtir melhor (na maioria das vezes, eu apenas fico sentada observando as pessoas dançarem) porque tinha medo de levar uma surra da minha mãe. Quando eu estava em festas, eu sempre mentia para minha mãe dizendo que ia procurar algo interessante para ler na biblioteca. Ela sempre dizia "ler uma hora dessas?" e eu sempre dizia "todo mundo faz isso, mãe. Até o Albert Einstein."

- Emilly, tem alguém te olhando bem ali. - Pâmela havia dito sussurrando e apontando discretamente na direção do garoto. Diferente da reação de Pâmela e Clara, que estavam sussurrando entre si tramando algum plano para me fazer perder o bvl enquanto davam risadas extravagantes, eu só pensava em uma coisa: minha mãe.

*Flashback*

Quando eu tinha 5 anos, eu estava na escolinha de mãos dadas com um garotinho muito simpatico que vivia com as bochechas rosadas. Tinha uma certa timidez com as pessoas, e talvez isso tenha feito eu gostar dele até nos dias de hoje. Ele era uma fofurinha; estava sempre me oferecendo um pedaço do seu lanche (geralmente era um sanduiche com geleia de morango) e me acompanhava até em casa todos os dias. Esse acompanhamento era inutil, porque no final das contas, nossos pais sempre iam até a escolinha nos buscar novamente, então depois de chegar em frente a minha residencia, nós voltamos. Minha mãe havia chegado repentinamente quando eu ainda estava sendo cortejada por esse garoto, sentada em uma cadeira de plastico estampada com figuras de animais fofos. Ela claramente ficou irritada demais, mas preferiu apenas me chamar para longe do garoto e ter uma simples "conversa" no carro. Ela nunca me batia ou gritava comigo em publico, então sempre esperamos até eu chegar em casa. Quando chegamos, ela pegou um cinto de couro marrom que tinha no seu guarda roupa e bateu nas minhas pernas, que eram o local mais seguro para esconder as marcas por conta da meia calça. Eu tentava não gritar, porque se eu gritasse, ela iria bater nas minhas costas. Isso era terrivel e lembro como se fosse hoje!! Eu chorava de me acabar ao ponto dos meus olhos estarem terrivelmente inchados. A minha perna estava trêmula e a única coisa que conseguia sair da minha boca eram soluços e problema para respirar por causa da minha ansiedade. Desde esse dia, nunca mais tive interesse em falar com minha mãe sobre garotos ou relacionamentos amorosos.

*flashback off*

- Eu não tô afim, foi mal. - eu disse tentando esconder minhas lágrimas. Vocês não tem noção do quanto é dificil. Tive vontade de contar, contar toda a minha infancia para elas saberem quem minha mãe é de verdade. Simplesmente não consigo fazer isso. Me sentiria indefesa demais para conviver com elas. A única coisa que elas sabem; é que minha mãe costuma ser possessiva. Talvez só isso que elas sabem. Ou... Talvez saibam de mais coisa e não querem me contar? Bom, contanto que não contem a ninguém, gratidão.

- Emilly... Ta tudo bem?

- sim. Vou pegar mais uma bebida. - me levantei da cadeira que estava. Pâmela e Clara estavam em pé me observando sair. Eu ouvi cochichos delas falando, mas tentei ignorar. Talvez soubessem que meu plano era ir embora. Elas não são idiotas, tipo, eu não bebo alcool e só tem alcool nessa merda de festa. Concluí meus pensamentos sobre minha mãe enquanto eu saía pela porta de saída. Havia alguns adolescentes fumando algo que não vi ao certo, mas julgando pelo cheiro, era cigarro. Eu tossi forte perto deles afim de constranger, e foi claramente o que aconteceu. Eles se afastaram do local rapidamente junto com uma sacolinha de algumas coisas que também não sei dizer o que eram. Me senti constrangida vendo isso. Apenas fui embora rapidamente.

Minha mãe estava meio indisposta hoje, então achei que fosse passar um bom tempo dormindo. Infelizmente, ela não estava. Mas felizmente, eu cheguei em casa na hora certa: 21h.

- Que tipo de biblioteca fecha de 21h? - ela disse levantando da cadeira. Não estava usando pijama como sempre, mas sim uma roupa elegante. Uma blusa de setim vermelha com mangas longas e uma saia preta que ia até o joelho bem justa. Misteriosamente, minha mãe não tinha aparencia de ser mais velha, o que é até chocante para eu mesma, que tenho algumas espinhas e pele oleosa e sou confundida com uma pessoa mais velha. O cabelo da minha mãe era bem liso, loiro e estava com um penteado, um coque especificamente muito bem feito. Seus olhos eram acinzentados. Todos diziam que eu era parecida com ela, então talvez eu seja. A única diferença é que sou uma garota com cabelos castanhos e com cabelos muiiito cheios. É legal ter o cabelo cheio. Me sinto menos parecida com a minha mãe que tem pouco cabelo. Ser menos parecida com ela é ótimo, seja fisicamente ou na personalidade. Eu só tinha os olhos dela; acinzentados.

- Eu fui em uma outra biblioteca. Aquela que é uma cafeteria e uma biblioteca ao mesmo tempo. - eu não sabia que tinha essa cafeteria. Apenas disse porque sabia que ela também não saberia, então apenas iria se calar. Estava passando no corredor para ir no meu quarto, quando de repente avisto a cama da minha mãe bagunçada. Será que ela está tão doente ao ponto de deixar a cama bagunçada? É a primeira vez que isso acontece.

Sem rumo.Where stories live. Discover now