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Respirei fundo olhando fixamente para frente,onde o Doutor falava alguma coisa sobre um projeto revolucionário do futuro. Eu observava sua boca se mexer e suas mãos articularem,entretanto não conseguia ouvir uma palavra do que ele dizia.
Minha cabeça estava em outro lugar,desviei meu olhar pra uma das inúmeras janelas lá fora. O tempo estava fechando. E isso não era bom,pisquei meus olhos algumas vezes após escutar meu nome ser repetido algumas vezes. Olhei pra cima vendo meus amigos falarem alguma coisa sobre sair dali e eu só concordei com a cabeça. Peguei minhas coisas e os acompanhei pra fora da sala.

-Ta fazendo aquilo outra vez.-Mônica colocou a mão no meu ombro automaticamente ganhando minha atenção.-Tem certeza que está tudo bem?-eu balancei a cabeça. Não queria entrar no assunto dos meus sentimentos naquele momento.

-Vai sair com a gente essa noite?-Luke muda de assunto percebendo a tensão.

-É óbvio que ela vai. Não sai com a gente já séculos Bruna! Sério.-Eu franzi o cenho de forma irônica.

-Obrigar alguém a fazer algo que não quer é crime sabia?-

-Você vai. Inaugurou uma balada nova e você,vai pra minha casa,eu vou te deixar linda e maravilhosa,e você vai beijar a boca de alguns caras beleza?-ela cruzou os braços com um sorriso maroto.
Eu ergui os braços em forma de rendição enquanto ria.

Dei carona pra Mônica,e quando chegamos na casa dela. Ela começou a falar sobre o novo cara que ela estava saindo e como ele era incrível,e algumas outras baboseiras que eu realmente não tava afim de prestar atenção. Não sou o tipo de mulher que gosta de encontros,ou de ficar beijando pessoas por ai. Gosto de ser uma pessoa tranquila.
Tive um namorado durante meus lindos 19 anos,por livre e espontânea pressão. Ficamos 2 anos juntos,e sinceramente,não quero repetir a dose tão cedo.

-Eu tenho mesmo que ir Nica? Sei lá,eu posso ir te buscar depois-falei enquanto observava ela tentar achar alguma roupa no closet dela.
Ela olhou brevemente pra trás,com aquele olhar sarcástico dela.

-Bru,já faz décadas que você não sai pra se divertir. Você se cobra demais. Eu nem lembro a última vez que você usou uma roupa que valorizasse esse seu corpinho-ela sorriu pra mim.
Abaixei o olhar tendo a consciência de que aquilo era verdade. Iria fazer praticamente cinco anos que eu já não sabia o que era viver a vida de uma pessoa normal. Principalmente depois do acidente.
Mônica se acomodou ao meu lado e me mostrou algo que pensei que tinha se perdido no tempo. A tira de fotos um pouco desbotada fez a minha atenção se prender completamente.
Era eu e Mônica numa cabine de fotos no meu aniversário de 16 anos. As fantasias exageradas me fizeram rir. Enquanto ela era uma diabinha sexy,lá estava eu como uma blasfêmia ambulante fantasiada de freira praticamente semi-nua. Os dedos do meio erguidos e as poses ousadas,nos sentimos incríveis e poderosas.

-Preciso da minha melhor amiga de volta Bruna.-o tom de sua voz era fraco,ela não me olhou,apenas encostou sua cabeça em meu ombro,e ficamos ali alguns momentos apreciando aquele instante eternizado,quando tudo parecia ser possível. A vida era tão fácil.
Eu conti a tentativa falha do meu corpo de chorar. E respirei fundo exibindo um sorriso.

-Ainda tem aquelas roupas completamente comprometedoras?-ela levantou num salto e deu um mini-grito que me fez levar as mãos para os ouvidos.

-Essa é minha garota!!-

Ela me puxou para dentro da imensidão do closet dela. Era extremamente organizado,o que me deixava intrigada pois nada na vida de Mônica era organizada. Ela conversava mais sozinha do que comigo,falando sobre possibilidades de look's enquanto eu observava as milhares de maquiagens sobre a penteadeira,acessórios todos separadinhos com meticulosidade.
Os vestidos separados por tonalidade e os sapatos perfeitamente alinhados. Se ela tivesse a mesma cautela com a faculdade dela,como ela tem com todas as roupas,Deus que prepare o mundo pra receber essa maluca.
Mônica cursava Medicina,não por escolha,mas sim para seguir o legado da família. A mãe é uma neurologista renomada,e o pai um dos maiores cirurgiões plásticos do país. As tias eram enfermeiras,e o único irmão do pai dela,era instrumentador cirúrgico. Os pais da mãe dela também tinham feito parte dessa história,entretanto o avô era Médico Militar,e a Avó socorrista.
Já pode imaginar a pressão né?.

Ela queria cursar moda em Paris. Ganhou até bolsa numa das melhores universidades de moda,porém,não era isso que a família dela queria. Na época tentei convencê-la que era loucura largar os sonhos dela pra se matar em 6 anos só de faculdade para fazer algo que ela não queria,porém ela não me escutou.
Contudo,ao ver ela falar do assunto,ela brilhava. Seus olhos transmitiam tal interesse naquilo que até quem não gosta do assunto se prende só pela maneira que ela fala.

-Iai qual você escolhe?-virou pra mim com várias peças de roupa na mão. Eu pisquei algumas vezes tentando me lembrar de quanto tempo eu fiquei paralisada sem prestar atenção no que ela falava.
Tentei me fazer de boba pedindo pra ela repetir. Ela revirou os olhos e resmungou que eu nunca prestava atenção no que ela falava,o que era meio verdade. Mas em minha defesa. Ela fala muito de várias coisas diferentes e eu acabo me perdendo então acabo deixando ela falar sozinha.

Ela me mostrou várias peças de roupa. Entretanto assim que bati os meus olhos em uma roupa específica,meu olhos brilharam e um sorriso maroto se formou em meus lábios.

-Sério. Se você não ficar parada. Eu vou furar seu olho-
Mônica prometeu mais uma ameaça enquanto tentava me maquiar. Eu ia resmungar,porém o medo de ela realmente furar o meu olho falou bem mais alto. Luke ria enquanto observava tudo,ele havia chegado a pouco tempo ali,já que o combinado era de nós encontrarmos lá,mas minha lembrancinha do céu-vulgo minha melhor amiga,fez o imenso favor de nos atrasar.
Luke estava lindo,com uma calça cargo preta e uma camiseta duas vezes do tamanho dele também preta escrita "Brooklyn" em branco. O perfume exalava por todo o lugar o que me deixava enjoada. Por que será que perfume de homem fica impregnado enquanto o da mulher passa 10 segundos já era? Machismo isso aí.

Mônica já estava pronta. A maquiagem perfeita que combinava com sua roupa meticulosamente escolhida. Seus saltos pretos a faziam ficar mais alta do que já era. Ela usava um vestido longo e colado ombro a ombro preto com detalhes brilhantes,e com certeza não podia falta os inúmeros acessórios e o cabelo num penteado perfeitamente alinhado.
Ela soltou um suspiro aliviado quando finalmente terminou o reboco que ela estava fazendo na minha pele.

-Ja posso me mexer? Minha bunda tá ficando quadrada.-falei um pouco com medo de ela surtar e me matar,mas ela só confirmou com a cabeça colocando algumas coisas dentro da bolsa dela.

Me levantei agradecendo a Deus por ela ter deixado eu ir de tenis depois de horas brigando. Levantei o meu olhar pro espelho e a primeira coisa que veio em minha mente foi:"Mamãe e papai fizeram bem feito,por que minha nossa senhora da bicicletinha sem freio eu sou muito linda".
Passei a mão de forma delicada em meu cabelo que eu havia feito lindos cachinhos com babyliss-o que por sinal demorou pois meu cabelo estava enorme. E admirei a roupa qual eu havia escolhido. Um body ombro a ombro de manga longa preto,uma saia curta da mesma cor de couro com uma leve fenda na coxa,e uma correntinha prateada na cintura pra quebrar um pouco o preto.

Sim,eu,Luke e Mônica decidimos que iríamos todos de preto,de luto pelas invejosas(arrasei).
Fomos todos rindo e conversando,tinha me esquecido como era bom ter esses momentos com meus amigos.

Cartas Para Uma Traficante Where stories live. Discover now