Sou a Vítima ou a Assassina?

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Sobrevivente.
É assim que todos me chamam.
Também é o que está escrito na manchete de todos os jornais do país.
Estranho como passar por uma experiência de quase morte faz todos simpatizarem com você.
É claro, eles não sabem de toda a verdade. Se soubessem, talvez não sentissem tanta pena de mim.

Estou sob o efeito de fortes sedativos desde que fui resgatada daquele sótão imundo.
Só que não é o suficiente pra me fazer esquecer o que passei. E eu não consigo suportar as lembranças de tudo o que aconteceu.
Já tentei me matar cinco vezes desde o resgate, de diferentes formas e estou internada em uma casa de saúde mental.

Ninguém, além de mim, e daquele monstro, sabe o que realmente aconteceu na semana em que eu e meu filho fomos sequestrados.
A polícia deve pensar que sou cúmplice, por não falar nada pra ajudá-los a encontrar o criminoso.
Mas, lembrar dói demais e, mesmo que ele seja preso, isso não vai trazer meu filho de volta.
Mesmo assim, vou tentar contar agora. Nunca será um bom momento pra falar sobre isso, então porque não hoje?

Naquela noite, eu dormia tranquilamente em meu quarto quando fui acordada pelo barulho de vidro quebrando. Fui em direção ao som e vi uma pedra e estilhaços de vidro espalhados pelo chão. Pensei ser um ato de vandalismo. Quem me dera, que a única coisa destruída naquele dia fosse uma janela.
Fechei as cortinas e voltei para o meu quarto pelo corredor, mas antes, decidi passar no quarto de Arthur, meu filho, para ver se também acordou com o barulho. Quando eu abri a porta, vi uma mulher desconhecida segurando ele. Corri em sua direção, mas ela soltou Arthur e me deu um soco no rosto me deixando desacordada.

Acordei numa sala escura e fria, amarrada a uma parede. Pelo pouco de luz que entrava por uma fresta no teto, eu conseguia ver facas, bisturis, agulhas e outros instrumentos cortantes empilhados em uma mesa antiga. E no outro canto do cômodo, dentro de uma jaula enferrujada, estava meu filho. Seus olhos estavam vendados e a boca tapada. Sua testa sangrava um pouco e suas mãos estavam machucadas de tanto empurrar as grades. Senti meu coração apertar e tentei desesperadamente correr até ele, mas as cordas que me prendiam eram mais fortes do que eu.

De repente, ouço um ruído no corredor. Alguém estava se aproximando. As luzes se ascenderam, a porta se abriu e pude reconhecer a mulher que me bateu. Ela era ruiva e parecia ter uns quarenta e cinco anos.
Ela estava sorrindo e eu apavorada, implorei pra que soltasse meu filho e eu, mas ela apenas me mandou calar a boca.
"Pode me chamar de Ísis. Eu vou ser clara com você. Seu filho não vai sair daqui vivo. Agora se ele vai ter uma morte rápida ou um sofrimento prolongado é sua escolha."
"Por favor, não machuque o meu filho, ele é só uma criança!"
"Você me entendeu mal, eu não pretendo matar seu bebê. Você vai matar ele."
"Que? Você é louca! Eu nunca vou fazer isso, prefiro morrer a encostar um dedo no Arthur!"
"Não tenha tanta certeza. Vou te provar que qualquer um é capaz de matar com o incentivo certo."

Ela caminhou até a jaula do meu filho.
Tirou uma chave do bolso da calça e abriu a porta. Puxou meu menino que tentou lutar. Eu gritava sem parar.
"Solte ele. Solte!"
"Silêncio, vadia! E você fique bem paradinho ou eu dou um tiro na cabeça da sua mãe."
Arthur obedeceu e aquela louca tirou sua mordaça, pegou uma faca, segurou a mão direita dele e cortou seu dedo indicador.
O seu grito de dor ecoou pela pequena sala sem janelas. Senti uma humidade descer pelo meu rosto, e tentei não soluçar.
"Vai ficar tudo bem, filho. Mamãe tá aqui" falei entre as lágrimas.
Ísis pegou uma garrafa de álcool, jogou na mão dele, limpando o sangue. Pegou agulha e linha, costurou a ferida e enfaixou a mão do Arthur, antes de empurrar ele de volta pra jaula e trancar a porta.

"Eu vou cortar um dedo por dia. Primeiro os das mãos, depois os dos pés. Em seguida, vou arrancar os dentes, os olhos e as orelhas dele. E também a língua. Você vai assistir a dor dele, sem poder fazer nada. E ele vai desejar estar morto o tempo inteiro."
Ela caminhou até onde eu estava ficando a menos de um passo de distância de mim.
"Por que não poupa ele de todo esse sofrimento? Mate ele agora."
Eu comecei a soluçar alto em completo desespero.
"Eu não consigo."
"A escolha é sua."
Ela saiu da sala e tudo ficou escuro novamente.

20 Contos de Terror (Pior que a Morte)Where stories live. Discover now