20 Contos de Terror (Pior que a Morte)

A Criatura das Sombras

Ninguém acredita em mim.
Nem a polícia, nem meus amigos, nem meu namorado e nem mesmo minha própria mãe.

Todos acham que estou louca.
E talvez eu esteja mesmo. O desespero faz isso com a gente.

Acho que a única pessoa que acreditaria em mim agora é meu pai.
Quando eu era pequena, ele costumava contar histórias de terror para eu dormir.

Minha mãe sempre dizia que isso ia me causar pesadelos, mas meu pai respondia que estava criando uma garota forte e corajosa que podia lidar com um pouco de medo.

Acho que ele estava errado sobre isso.

De qualquer forma, ele morreu alguns dias antes do meu aniversário de sete anos por causa de um tumor no cérebro e agora estou sozinha lutando contra algo que não posso ver ou provar que existe.

Tudo começou com uma brincadeira. Eu e algumas amigas tínhamos o costume de passar a noite juntas nos finais de semana. Às vezes íamos a festas, mas também era comum ficarmos em casa jogando videogame e jogos de tabuleiro e fazendo outras brincadeiras típicas de festas do pijama.

Um sábado, após uma maratona de filmes de terror, jogamos verdade ou desafio. Desafiei uma das minhas amigas, Belle, a invocar a loira do banheiro. Entramos no banheiro, ela jogou um fio de seu cabelo loiro no vaso, deu descarga três vezes e esperou.

Eu fui uma amiga ruim. Apaguei a luz do banheiro, sai e tranquei a porta por uns três minutos. Quando ela saiu, estava muito chateada, mas eu e Sophie a chamamos de covarde, zombando.

Continuamos jogando. Só que o karma chegou rápido. Após umas duas rodadas foi a vez de Belle me fazer um desafio. Ela me desafiou a tentar invocar um espírito com um tabuleiro Ouija. Eu disse que não tinha um, mas não podia deixar de fazer o que ela queria depois do que eu tinha feito alguns minutos antes. Comprei um tabuleiro pela internet e disse as meninas que assim que chegasse em minha casa, eu cumpriria o desafio.

Minha encomenda chegou três dias depois, mas esperei até o sábado seguinte, pra usar na frente delas. A reunião foi na minha casa.

Eu não estava com medo. Sempre me considerei cética sobre a existência do sobrenatural. As garotas e eu colocamos o tabuleiro no centro do quarto e formamos um círculo ao redor dele. Apagamos as luzes e acendemos algumas velas para criar um clima de suspense.

Então eu segurei o ponteiro e fiz a clássica pergunta dos filmes de terror:
"Tem algum espírito nesse lugar?"

Se passou um minuto, dois, três... Nada. Nenhuma resposta. Tentei novamente:
"Se tem algum espírito nesse lugar, se manifeste agora!"

Nada ainda. Minhas amigas começaram a rir.

Mas, de repente, eu senti um calafrio.
E eu juro por Deus que senti uma força invisível mover minha mão até a palavra "Sim".

Eu estava em choque e com medo.
Minhas amigas pensaram que eu estava apenas brincando, e me mandaram parar.
Eu também fiquei em negação. Achei que tinha sido apenas minha imaginação.

Guardei o tabuleiro Ouija e convidei as meninas pra fazer um lanche na cozinha.
Após algumas horas ninguém lembrava mais do que tinha acontecido. Fomos dormir cedo, porque íamos ao shopping no dia seguinte.

Tive um pesadelo horrível onde eu era perseguida por sombras que não possuíam corpos. Elas se escondiam na escuridão e me cercavam por todos os cantos.

Acordei de madrugada com o barulho da porta do quarto se abrindo e de passos no corredor. Minhas amigas continuavam dormindo.

Segui o som e vi as sombras de três pessoas vindas da cozinha. Me aproximei lentamente com medo da casa ter sido invadida por ladrões.

Quando cheguei a porta da cozinha, fiquei muito surpresa ao não encontrar ninguém. Mas as sombras continuavam lá, paradas, como se me observassem.

Voltei pro meu quarto rapidamente, quase correndo de volta pelo corredor escuro.

Minhas amigas continuavam dormindo tranquilamente em meu quarto. Fechei a porta e deitei em minha cama, assustada e pensativa.

Será que eu estava imaginando coisas?
O que eram aquelas sombras?

E mais uma coisa me incomodava. Depois de refletir um pouco, cheguei a conclusão de que já tinha visto aquelas sombras antes. Os cabelos, os corpos, as alturas... Aquelas sombras eram mais do que familiares.
Uma delas era minha. As outras duas eram de Belle e Sophie.

No dia seguinte fomos todas ao maior shopping da cidade. Tentei me divertir, mas não conseguia tirar a noite anterior da minha cabeça. Cada sombra que eu via me deixava tensa.

Eu estava ficando paranóica. Contei tudo as minhas amigas quando sentamos na praça de alimentação. Achei que iriam zombar de mim, mas elas não fizeram isso. Disseram ter tido o mesmo pesadelo, em que sombras as perseguiam. Belle jurou ter visto sua própria sombra se mexer sozinha.

Depois dessa conversa ninguém estava muito animado pra continuar o passeio. Cada uma foi pra sua própria casa descansar.

Nós nos encontraríamos no próximo final de semana. Pelo menos, pensamos que sim.

Só que isso não aconteceu. Três dias depois, Belle foi encontrada morta em seu quarto. Segundo os médicos, a causa da morte foi parada cardíaca. Eu tentei contar a verdade à polícia, aos médicos, aos nossos pais... Mas todos pensaram que eu estava em estado de choque pela perda de minha amiga de infância. Fui medicada e mandada pra casa.

O efeito do calmante não durou muito. Eu estava apavorada. Tinha a sensação de estar sendo vigiada e não conseguia parar de observar minha própria sombra. Passei a dormir com a luz acessa, com medo da escuridão.

Mantive contato com Sophie. Ela parecia pior que eu. Disse que sua sombra não obedecia seus movimentos. Também disse que, quando estava sozinha, sua sombra tentava lhe matar sufocada.

Ela apareceu morta alguns dias depois. Seu corpo azul, as mãos em volta do pescoço como se tentasse respirar.

E agora, eu sou a próxima.

Acho que invocamos algo ruim com o tabuleiro Ouija. A culpa é toda minha. Eu nunca devia ter comprado ele, em primeiro lugar. Mas não sei o que fazer para reverter isso.

Eu estou desesperada.
Por favor, acredite em mim!
Eu não sei mais o que fazer.
Elas estão sempre ao meu redor. Já nem se preocupam em disfarçar sua presença. Aquele pesadelo, em que as sombras me perseguiam, se tornou realidade. A escuridão vai me engolir!

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