20 Contos de Terror (Pior que a Morte)

A culpa é do médico

Vocês não podem me prender!
A culpa é toda do médico, aquele filho da puta disse que eu ia morrer em três dias!
Eu vou contar como tudo aconteceu, tenho certeza que vocês poderão compreender a situação:

Fazia semanas que eu estava com fortes dores de cabeça e resolvi ir ao médico. Marquei uma consulta e compareci ao hospital no dia combinado. O doutor me examinou, me fez perguntas e me recomendou uma tomografia. Fiz o exame e alguns dias depois os resultados ficaram prontos. Voltei ao consultório e aquele médico infeliz disse que eu tinha tantos tumores no meu cérebro que era um milagre ainda estar de pé. Me deu no máximo uma semana de vida e até perguntou se eu queria ser internado ou preferia morrer em casa.

Eu estava em choque!

Saí do consultório questionando todas as minhas escolhas.

Eu estava infeliz, senti que tinha desperdiçado toda a minha vida cumprindo as expectativas das pessoas ao meu redor. Foi quando eu decidi fazer tudo o que sempre desejei antes de morrer.

E a primeira coisa que fiz foi ir pra casa dizer a minha mulher que queria o divórcio. Ela podia ficar com a casa, o carro, e todo o resto, contanto, que eu nunca mais visse a cara dela.

Fui embora só com a roupa do corpo em direção ao Banco para resgatar todas as minhas economias. Quando estava lá, decidi que uma vez na vida eu merecia viver como um rei.

Peguei um empréstimo enorme, o maior que o banco me ofereceu e me hospedei em um hotel de luxo. Pedi o vinho mais caro deles e entrei na banheira de hidromassagem.

De lá, eu liguei pro meu chefe e pedi demissão.

Eu disse pra ele tudo o que nunca tive coragem.

Eu odiava o emprego. Meu patrão me obrigava a fazer horas extras não remuneradas. Aquele cretino nunca estava no escritório, mas se alguém faltava por estar doente, ele fazia um discurso sobre profissionalismo. Atrasava os salários e favorecia quem puxava seu saco.

E também aproveitei pra ofender metade dos colegas de trabalho. Aquela empresa é uma matilha de lobos, todos querem o mal um do outro. Quando terminei ainda desliguei a ligação na cara do infeliz.

E continuei tomando meu vinho tranquilamente.

A noite, fui no bordel mais famoso da cidade.

Dormi com várias garotas, sem nem me preocupar em usar proteção. Estaria morto em pouco tempo, então não me importava com nada.

Depois passei num bar e bebi até não aguentar mais. Eu não lembro de muita coisa depois disso...

Só de ouvir um cara dizendo que a razão pra eu beber tanto devia ser chifre.

Eu parti pra cima dele e, a próxima coisa que vi foi ele caído no chão inconsciente e sangrando muito. Alguém se aproximou e disse que ele não estava respirando.

Eu só fui embora. Não por estar em pânico. Eu não tinha muito a perder. Mas, decidi que seria melhor não passar meus últimos dias na prisão.

Resolvi agir rápido. Fiz check-out no hotel em que estava hospedado e comprei passagens pra Paris.

Estava amanhecendo quando cheguei ao resort de luxo em que me hospedei. No dia seguinte, aproveitei a oportunidade para conhecer todos os principais pontos turísticos da capital francesa, como a Torre Eiffel, o Arco do triunfo, o rio sena e o Museu do Louvre.

Ouso dizer que, a essa altura, a morte já não me assustava mais. Eu estava vivendo a minha melhor vida.

Tomei algumas atitudes questionáveis e admito que não sentia a menor culpa por isso.

Eu não me preocupava com a justiça, seja a da terra ou a divina. Nunca fui muito religioso e eu estaria morto muito antes de descobrirem meus crimes. E, mesmo se, por algum acaso, conseguissem me prender vivo, eu não ficaria preso por muito tempo. Pegariam meu corpo, mas minha alma escaparia.

E, pra ser sincero, eu gostei da sensação de ficar impune. Sentia que tinha descoberto uma forma de quebrar o sistema. Eu ia ficar livre das consequências dos meus atos.

Minha alegria durou até eu descobrir que não vou morrer.

Eu estava na piscina do resort quando recebi a ligação daquele médico desgraçado.

Ele disse que trocou o resultado dos meus exames com o de outro paciente. E só descobriram o erro agora.

Por isso, eu digo que é ele que merece ser punido, não eu!
Eu estava fora de mim, o erro foi dele.
A culpa é toda do médico!

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