20. Περίμενε

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O meu coração, se é que ainda encontra-se inteiro, parte outra vez. Os milhares de pedaços cortam e a dor transborda em mim e como nos últimos seis anos eu sofro sozinha. Não como um sentimento que só corresponde a mim, mas deixada para sentir desacompanhada. 

Eu queria ser forte e enquanto pude realmente fui. Por mim, pelas pessoas que me rodeavam, fui forte para que elas não precisassem ser, engoli minhas próprias esperanças e tristezas e aguentei. E, apesar das minhas melhores percepções, não houve reciprocidade. Ninguém me deu colo, ninguém me disse que eu precisava parar e deixar ir, não me foi dito nada sobre a cura e como um carro a toda velocidade, eu bato.

Como se estivesse revivendo aquele acidente. 

Nenhuma quantidade de amor é significativa para dissipar ou curar os danos de dores distintas, ela torna-se menos incômoda, escondida por anos no canto mais remoto e inabitado da mente, na prateleira que ninguém alcança, mas a marca permanece. Porque apesar da vida seguir, algo sempre é roubado ou maculado. 

Algumas noites, quando a falta sufoca, pergunto-me quantas coisas de mim foram roubadas e quantas mais deixaram de ser intocadas. Eu ainda seria aquela garota esperançosa se meu irmão não tivesse morrido? Será que meu pai ainda estaria conosco? 

Mas, quando deixo-me levar pelas minhas próprias noções de falta, lembro-me da minha mãe, perdemos o mesmo, embora eu sempre sinta que ela perdeu mais do que posso mensurar.

A questão é que eu a perdi, enquanto ela ainda me tem aqui, esperando.

Isso explica porquê não continuo a mesma.

Seus olhos fixos em mim, dando-me atenção, mas a parte que importa, aquela fração de si mesma que guarda as belezas da existência, nunca se encontra presente. Como se estivessem em planos diferentes, e nesta realidade tudo que se permitiu permanecer dela é apenas um receptáculo vazio. 

Alheia ao mundo, as pessoas e os momentos que cruzam seu caminho, vagamente registrando o tempo mudar. Não me importaria essa rejeita ao mundo, exceto que eu estou nele, e como tudo que aqui habita, ela permanece alheia a mim. A conclusão machuca mais no começo do que quando o seu cérebro aceita, na estrada da aceitação eu encontro o ressentimento. 

Compreender o sofrimento tornou-me mais tolerante. Eu enxergo a dor pulsando em seus olhos, sugando toda fagulha, tenho assistido o declínio de sua vida a olho nú.

Não sei o porquê, ainda esperava que fossemos compartilhar esse fardo juntas. Somente ela poderia entender as palavras que desejava falar em voz alta, somente ela compreenderia quais detalhes mais causavam saudade e quais me faziam mais grata pelos anos que vivemos ao lado do meu irmão. Eu não quero desabafar sozinha, quero ser compreendida na minha dor, quero alguém que saiba e sinta na carne a perda. A empatia é bela, mas eu sempre preferi conversar com pessoas que tivessem a vivência do sentimento. 

Às vezes é preciso alguém que saiba como é a sensação e não apenas imagine como ela é. 

E, essa pessoa para mim, é a minha mãe. 

Então, eu espero sentada na cadeira com os olhos mirando a porta fechada e as mãos torcendo pelo nervosismo que ela apareça. Espero que a mesmice deprimente, hoje, possa ser a diferença que tanto busco; a diferença que não me permite desistir dela.

Eu a amo. 

Mas, às vezes, eu a odeio.

Oliver me diria para não ser tão dura, sorria para mim genuinamente como sempre fazia e tornaria a minha dor vista e reconhecida, ele tinha esse dom. Transformava minhas reservas dignas de serem ouvidas, falaria para mim ver de uma perspectiva mais longe para vislumbrar o amplo.

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