Capítulo Seis

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No dia seguinte, Cecília só se junta à mesa depois de ter certeza de que o pai já saiu a trabalho. Por isso, não se surpreende ao encontrar apenas a mãe a esperá-la. Mal tem tempo de se sentar e a escuta questionar:

— Bom dia, querida. Dormiste bem?

— Tão bem que preferiria não acordar nunca mais!

— Não fales isso, Ceci!

— Falo o que quiser. Estou vivendo um pesadelo desde a noite passada e perdi a vontade de viver no exato instante em que Francisco fez aquilo comigo!

— Querida, era natural que cedo ou tarde isso acontecesse. É teu destino!

— Ora, que mixaria de destino! E isso é a senhora tentando me consolar?! Não quero viver se não sou responsável pelas escolhas da minha vida.

— Meu bem, já falamos sobre isso.

— Sobre como a senhora continua indiferente a essas regras tolas? Sim, já falamos. Mas pensei que algo mudaria quando fosse tua própria filha em questão.

— Ceci-

— Posso tomar café da manhã sozinha?

— Sim, querida, podes. Mas antes de ir, já lhe disse e repito: teus ideais me deixam admirada. Mas é assim que nossa sociedade é.

Cecília estreita os olhos para a mãe, está a um passo de perder a cabeça, porém respira fundo e pontua com calma:

— Não quero tua admiração, minha mãe, quero tua proteção. Meu pai acaba de dar minha mão a um crápula! Se esperas qualquer compostura da minha parte, estás tão doida quanto ele! Me recuso a ser vendida. Essa merda de sociedade está corrompida.

Vera arregala os olhos.

— Cecília, olhe a boca!

— Ah, perdoe-me, evidente que meu linguajar é o maior de nossos problemas.

Dando-se por vencida com a firmeza da filha, Vera se afasta após acenar com a cabeça. Não demora mais do que dez segundos para Cecília se desmanchar em lágrimas. Ela está soluçando quando Edgar adentra a sala de jantar, com uma cesta de uvas frescas.

— Bom dia flor do dia, como... Ceci?! — o irmão tropeça um passo quando enxerga o estado da irmã e logo se aproxima dela, trazendo-a para si num abraço apertado. — Shhh, não chora! Eu estou aqui.

— E p-pretendes fazer a-algo ou s-só me dizer c-como tudo isso é parte do p-protocolo? — ela questiona, soluçando.

— É sobre o casamento?

S-sobre o que mais seria? Francisco está a-acabando com minha vida!

— Soa dramática.

Cecília o empurra pelos ombros.

— Ah, céus, estou a um fio de te mandar à merda.

— Que boquinha limpa a tua, minha irmã.

— Sim, Ed, sujo vai ser o chute que darei em tuas bolas, meu irmão.

Ele ri breve e, segurando o rosto da irmã entre as mãos e enxugando o canto dos olhos dela com os polegares, diz firme:

— Não haverá casamento, bobona.

— Do que estás falando?

— Estou falando que só por cima do meu cadáver nosso pai irá te obrigar a casar com aquele porco.

Ceci funga uma e duas vezes, olhando o irmão fundo nos olhos, antes de se ajeitar na cadeira e questionar:

— Como assim, Ed?

Filhos do Ouro Preto (DEGUSTAÇÃO)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang