Capítulo Cinco

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Cecília não é muito chegada em lagostas, mas fingir que as garfadas que dá em seu prato são mais interessantes do que as cantadas baratas que recebe de Joaquim Brandão não lhe é esforço algum, porque de fato são.

Ela não vê a hora dessa maldita festa chegar ao fim. Os últimos dois dias giraram em torno dessa confraternização. Do casarão lotado por risadas altas, perfume caro e rostos desconhecidos. Ou melhor, alguns. Já que, infelizmente, outros nem tanto.

— Soube que a próxima língua que pretendes aprender é o alemão — o sujeito continua impassível, ela apenas assente. — Pois eu já o falo fluentemente e será um imenso prazer te ensinar.

— Dispenso. Sou deveras apegada aos meus professores.

— Ora, mas seria bom para nós dois essa aproximação.

— Discordo.

Joaquim estreita os olhos por um instante. A paciência finalmente parece ter chegado ao fim.

— A senhorita não tem a menor ideia, não é?

— Sobre?

— Sobre do que se trata esta reunião.

Quem agora estreita os olhos é ela.

— O que queres dizer?

— Se tivesses me tratado melhor nas últimas horas, eu lhe explicaria de bom grado. Como não o fizeste, descubras por si só.

Embora de repente curiosa, não se importa com ele, portanto apenas dá de ombros e beberica o resto de espumante em sua taça.

— Só para deixar claro, senhorita Cecília, de minhas parceiras eu espero doçura — ele sibila.

Ela ri alto, finalmente esboçando uma reação verdadeira em horas.

— E eu, de homens como o senhor, exijo distância.

Joaquim agora sorri de forma traiçoeira.

— Não cabe a senhorita exigir coisa alguma, apenas obedecer. E eu confesso que anseio pelo momento em que serei eu a lhe dar ordens.

— Pois acordes. Estás sonhando.

Ele ri breve, sem humor algum, e olhando por cima do ombro dela, diz:

— Já a senhorita, está prestes a viver um pesadelo caso não passes a se comportar.

Cecília se levanta num solavanco, chamando a atenção de todos os presentes.

— Se me dão licença — pede.

— Um minuto, Cecília — é impedida pelo pai. — Quero aproveitar que todos já estão presentes para fazer um comunicado.

As cenas a seguir ocorrem através de um borrão de informações, que a deixa num estado mórbido, visto que a moça perde noção de tempo e espaço após a seguinte frase advinda da boca do barão:

"Estamos aqui reunidos esta noite para comemorar a aliança dos Fonseca com os Brandão, através da união de minha caçula com o unigênito de meu amigo de longa data, Gregório. Este matrimônio será de muita alegria para nós."

Cecília sabe que está de boca aberta e de olhos arregalados encarando o pai, também sabe que todos ali têm os olhos postos sobre ela e sobre o desgraçado de Joaquim, que tem a audácia de lhe abraçar pelos ombros.

Mas não consegue fazer nada. Está tão grogue e afundada na dormência de estar sendo vendida às claras, que não se vê o empurrando para longe. Ao contrário, se deixa estar e presenciar os aplausos, os assobios e as felicitações.

Filhos do Ouro Preto (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now