Prólogo

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Olá! Não acredito que finalmente estou compartilhando a degustação de "Filhos do Ouro Preto" com vocês. Não parece real!!!

Espero que gostem. A história foi escrita com muito carinho. xx

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Sendo agraciada pela forma zelosa como Florência penteia suas longas madeixas castanhas, Cecília ronrona baixinho, satisfeita. Enquanto do outro lado de seu quarto Dandara, sua melhor amiga, termina de organizar suas muitas bonecas, Ceci permite que uma sonolência gostosa envolva seu corpo. Mas isso não dura muito, já que minutos depois é possível ouvir o trote dos cavalos a certa distância e, reconhecendo de quem se trata, a menina logo corre para a varanda.

Da imensa construção amarela, Cecília observa o pai. Com olhinhos brilhantes e atentos, a criança admira o barão, que conversa com o irmão mais velho, provavelmente acerca da próxima colheita, já que Francisco gesticula bastante para suas terras e para a abastada plantação de café. A fazenda é rodeada pela frutinha vermelha. Aliás, Ceci cresceu cercada por ela, em todos os seus estágios.

Ainda focada no pai, Ceci o vê seguir para longe, rumo à ala de seus escravos. Estreita os olhos o máximo que pode até perdê-lo de vista. Então suspira pesado, voltando sua atenção para as outras duas.

— Papai passa a semana toda longe de casa e quando volta, a primeira coisa que faz é cuidar dos negócios, sendo que quando esteve fora, estava justamente cuidando de negócios! Crês ser isso algo justo, Flor? — A menina questiona com um biquinho infantil nos lábios. O que faz a negra ajeitar os fios rebeldes da pequena atrás da orelha com um sorriso doce.

— Ora, criança, o barão acabou de chegar, logo mais vem vê-la. Agora pares quieta! O dia está muito quente, me deixes prender o seu cabelo.

— Tá, mas não quero lacinhos.

Florência bate as mãos na saia do vestido branco desgastado que usa e pede:

— Não cries caso, Ceci.

— Não quero, Flor! Eles me incomodam e estarão todos soltos quando for brincar com a Dara daqui a pouco.

Florência coça o rosto, insegura em como abordar o assunto, mas tenta com sutileza:

— Dandara não vai poder brincar hoje, Ceci. Irá me ajudar na cozinha. O jantar de boas-vindas do barão vai requerer muita mão de obra. Sozinha eu não consigo!

De cenho franzido, Cecília encara a mãe de sua amiga, porque mais uma vez não entende o que foi dito. Dara, que é apenas uma criança, sempre é obrigada a ajudar nas tarefas, enquanto seus pais a dizem que crianças não devem trabalhar. O foco deve ser os estudos. Aliás, é por isso que estuda várias línguas, tem aulas de piano, pintura e costura.

"Precisa ser uma moça prendada, Ceci!", é o que a mãe toda vez lhe diz.

Por tal motivo, momentos como este são confusos. Além disso, os filhos dos outros escravos de seus pais também os ajudam nos deveres. Só que toda vez que Cecília tenta fazer o mesmo com os dela, é bruscamente repreendida.

"Só queria ajudar!" sempre devolve, toda miudinha pela repreensão que leva.

— Posso ajudar também? — pergunta, esperançosa de que com Florência a resposta seja diferente, e já sorridente com a possibilidade de aprender a cozinhar.

— Ora, criança! Não digas bobagens! — Florência arranca pela raiz o verdinho de esperança que brotava na terra fértil de seu peito.

— Não estou dizendo bobagens! — Ceci bate o pé. — Uma mão a mais é bem-vinda, não? Acabas de me dizer que necessitas de muita mão de obra. Eu posso ser uma!

Filhos do Ouro Preto (DEGUSTAÇÃO)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt