Capítulo Três

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Dizem que não há nada tão ruim que não possa piorar. É um ditado que aprendeu há algum tempo com Florência e que faz todo sentido agora, já que, ao enfim alcançar o celeiro do casarão, acaba apertando mais do que devia as rédeas do animal, o que gera uma parada brusca do cavalo, acompanhada de um relincho alto, que a assusta e a faz cair de bunda no chão.

Está de olhos arregalados, encarando o teto e digerindo a situação enquanto sente a dor se espalhar pela lombar, no instante em que uma gargalhada farta preenche o ambiente.

Uhhh! Que bela entrada a tua, hein! — escuta da última pessoa que gostaria de ver no momento e sente vontade de ser enterrada viva.

Ouch! — resmunga, sentindo o baque do tombo em forma de dores musculares. E por cima de seus breves gemidos, ela o ouve caçoar: "Goffa".

Ora, que sujeito insuportável! Tudo bem que ela é de fato desajeitada às vezes, mas ele não tem que falar nada. De bico formado, ainda que estirada no chão, não perde a oportunidade de chutar a canela dele, retrucando:

Ragazzo irritante! Io parlo italiano!

Dante então arregala os olhos por alguns segundos. É claro que a filha do barão saberia falar sua língua materna... Lei è fastidiosa! Dando de ombros e voltando a rir, ele estende a mão para ela, provocando:

— Aqui, deixe-me te ajudar, donzela!

Cecília escolhe ignorar a provação, visto que realmente uma mãozinha agora é muito bem-vinda. Por isso, segurando-se nele, a moça se coloca de pé.

Porém, não consegue se firmar e acaba torcendo o pé e tombando para frente, o que inevitavelmente a faz ter que se sustentar nele.

— Maldição! — pragueja, apoiando-se nos ombros do rapaz e levantando a barra do vestido apenas para confirmar que acaba de quebrar o salto de seu sapato favorito. — Ah, não, não, não! Por favor, não!

— É só um sapato.

O tom rouco está muito próximo de si.

— Não fales assim! — pede conforme levanta o olhar e se arrepende logo em seguida. Está face a face com ele. Os olhos azuis encaram os seus e, antes que se deixe perder na cor bonita deles, se afasta. — Tu não entenderias.

Dante rola os olhos.

— O quê? A falta que um entre os teus diversos sapatos caros irá fazer?

— Céus! És de fato um encrenqueiro!

— E a senhorita, uma burguesinha!

— Enganas-te! Não passo de uma palerma. Uma palerma que acaba de estragar uma das poucas lembranças que tinha da avó materna. — suspira e se rende ao cansaço. Foi um dia longo em diversos aspectos e o que menos quer é terminá-lo implicando com este rapaz de novo. Com isso, agacha-se para se livrar do calçado e, uma vez descalça, começa a se afastar. — Peço, por gentileza, que guardes o cavalo — solicita.

Porém, antes que consiga deixar o celeiro, sente um toque gentil em seu pulso.

— Se for tão importante para a senhorita, posso consertá-los.

Ceci o encara de novo com olhos brilhantes, ainda que de cenho franzido.

— Podes?

— Sim. Não tenho habilidade para restaurá-los por completo, mas conseguiria alguma coisa... então poderias usá-los de novo.

— Farias mesmo isso por mim?

— Ora, estou me dispondo, não? E se quiseres posso...

— Obrigada! — ela o interrompe e o prende num abraço apertado. — Serei eternamente grata, sequer podes imaginar o quanto isso me deixa contente!

Filhos do Ouro Preto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora