Sina

2.1K 261 897
                                    

19 – Sina

Algumas pessoas poderiam afirmar que Andrew Minyard tinha um leve problema com autoridade.

Todas as figuras que, de alguma forma, se tornavam responsáveis por ele ou alguma de suas atitudes, costumavam não apreciar muito o cargo. Ele havia se acostumado a ser alguém que ninguém queria precisar responder sobre as atitudes, e estava bem com isso.

David Wymack era alguém que tinha facilidade em se tornar responsável por merdinhas irritantes, segundo o próprio.

O primeiro de todos, o campeão dos merdinhas e dos irritantes em sua lista, sempre foi o próprio filho. Kevin havia nascido e crescido nas asas de um pai que jamais deixou de se perguntar como havia feito um menino tão completamente sem noção.

Ele sempre foi uma criança reclamona e um pouco irritada demais. David achou que seria uma boa ideia colocá-lo em algum esporte quando era pequeno, para ajudá-lo a desestressar e aliviar um pouco a sobrecarga.

Hoje em dia, amaldiçoava o dia em que segurou a mão daquele menino e o levou até a liga mirim de exy da cidade, vestindo um uniforme azul e segurando uma raquete que tinha duas vezes o próprio tamanho.

Ele sempre gostou do esporte, mas havia se desligado do mesmo na vida adulta. Kevin queria ser o melhor jogador do time das crianças, e isso fez David precisar treiná-lo para parar de dar crises e chiliques sobre o assunto. Muitos pais achavam que ele era bom isso e ele se tornou treinador de muitos pirralhos, até aceitar a estabilidade que ser treinador de um colégio traria para sua vida.

Kevin havia empurrado muitas coisas para ele, e uma dessas indiscutivelmente foi o garoto Minyard.

Aquilo começou no dia em que Kevin quis entrar para uma competição de exy da cidade, mas as regras foram contra isso porque eram apenas para times mirins formados por jovens em condições de vulnerabilidade. Ele simplesmente entrava na internet e saia se inscrevendo para competições aleatórias, e em uma dessas foi barrado.

Naquele dia, eles ao menos foram assistir o jogo juntos. Alguma porcaria do tipo 'pai e filho'.

No fim da partida, ele havia parado de reclamar e resmungando que se não houvesse sido o pai para cuidar dele e lhe apoiar desde pequeno, talvez fosse usar o esporte para se sentir melhor.

Wymack nunca soube se deveria entender aquilo como um elogio, porque achava impossível Kevin não saber que ele era viciado no jogo além do saudável.

Mas isso não diminuía o jeito que se sentiu depois do comentário. Ele não seria o homem que era hoje, se não fosse por Kevin. Naquela noite, ele se inscreveu para ser monitor e treinador de um desses times de crianças, e por algum motivo escolheu cuidar daquelas que não tinham pais.

No dia que Kevin foi assistir um treino deles, em um domingo à tarde, passou pelo menos duas semanas inteiras falando sem parar sobre o goleiro que havia ameaçado fazê-lo engolir a raquete pelo traseiro, se tentasse falar com ele de novo.

Andrew sempre foi um talento espetacular. Wymack se perguntava o que havia acontecido com ele quando se afastou do time, e ficou surpreso quando ele foi colocado de volta no mesmo por uma decisão judicial para lidar com seus problemas de raiva.

Ele se rendeu aos pedidos de Kevin para conseguir uma vaga para ele na escola, mas também e talvez principalmente, se rendeu para o que poderia ter sido um filho que talvez fosse o dele, se não estivesse lá para lhe dar uns bons tapas se ousasse ser tão mal educado.

Agora o homem se questionava de cada pequeno detalhe em sua trajetória, sentado no escritório pequeno que tinha na escola, até suspirar e se inclinar para o microfone, apertando o botão para falar.

Canção da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora