Jogo da Sul-Americana contra o San Lorenzo.
Eu me agitei tanto naquela semana por aquele momento, para ver meu namorado jogar e quem sabe até marcar um gol para mim. Ele vinha me prometendo isso a um bom tempo, desde que insinuou pretender me pedir em casamento em breve.
Jonathan era um namorado atencioso, era engraçado e fazia dos meus dias os melhores. Mas também existia seu lado cabeça-dura que nunca gostava de perder em uma discussão, que era competitivo e levemente manipulador. Eu o amava demais, mas toda vez que ele iniciava uma discussão eu perdia a paciência e colocava pra fora tudo o que precisava ser dito.
A briga da vez era boba, completamente sem nexo. Ele estava pouco a pouco se mudando para a minha casa, sabíamos que um dia aconteceria mas eu queria que ele fosse mais formal e dissesse que queria estar comigo. De repente ele já estava deixando suas roupas no meu guarda roupa, levando seu cachorro pra passar a semana comigo e criando uma rotina.
Era sim tudo o que eu queria, mas eu não gostava da maneira como em alguns momentos eu era "a mulher da sua vida" e eu outros eu era simplesmente "a namorada". Nas apresentações aos amigos eu era tudo para ele, mas quando o assunto era sério eu retornava ao cargo de namorada. Porra! Ele estava dormindo na minha cama, acordando praticamente todos os dias ao meu lado, com suas roupas no meu guarda-roupa, seu cachorro já era meu. Então eu precisava que ele demonstrasse mais.
Porque Calleri para mim era tudo. E eu queria ser tudo para ele também.
Após um jogo difícil a dias antes, ele se exaltou e eu me exaltei. Nós brigamos, gritamos um com o outro, explodimos todos os nossos sentimentos em uma única conversa e deixamos claro que não voltaríamos atrás com nossas opiniões. Desde então não estávamos mais na mesma casa, não dormíamos mais na mesma cama e nossa rotina foi totalmente controversa. Senti falta dele a cada segundinho que passava naquele apartamento, me questionando se não deveríamos conversar como adultos e nos resolver.
Talvez ele pensasse o mesmo já que me enviou um convite para ir assistir seu jogo no Morumbi.
Ele fez um dos gols da partida e por fim nós levamos a melhor, tínhamos vantagem no jogo da volta. Eu estava realmente orgulhosa dele, mesmo com todos os acontecimentos recentes.
Não conversei muito com ele no caminho até a festa de comemoração, na verdade, estávamos em carros diferentes e mal nos vimos. Minha melhor amiga comentava sobre algumas pessoas conhecidas que viu no estádio enquanto eu só esperava pelo momento em que finalmente ficaria sozinha com Calleri. E eu queria tanto!
Peguei minha bebida e caminhei até a sala de jantar da casa. Ajeitei minha saia e me olhei no espelho para ver se a camisa do São Paulo ainda estava perfeitamente alinhada, sorri por perceber que ainda estava arrumada.
Beberiquei o drink e respirei fundo.
Por um motivo óbvio eu esperava que Calleri viesse atrás de mim, em busca de uma conversa madura e decisiva. Que explicasse o que aconteceria com o nosso relacionamento e me desse uma pista do que eu deveria fazer da minha vida.
— Você está linda!— ouvi sua voz tranquila e sorri timidamente.— Muito linda!— ele foi se aproximando e tocou meu ombro para que eu me virasse.
— Boa noite, Jonathan!— olhei-o nos olhos e continuei com a expressão séria.
— Oi!— ele sorriu fraco. Parecia não saber por onde começar, igualzinho a mim.
Ficamos em silêncio por poucos segundos, olhando um para o outro, apreciando aquela companhia mútua e sentindo a maravilha que era estarmos juntos novamente. A saudade fez meu coração disparar, lembrando-me dos dias difíceis sem ele e de como aquela briga havia feito minha mente virar. Eu não sabia mais o que éramos e se ainda existia algum plano para o nosso futuro, isso era horrível.
