Jungkook tinha suas pernas cruzadas, enquanto seu braço esquerdo se apoiava na porta do carro, próximo à janela. Seus olhos encaravam o lado de fora, como se sua atenção estivesse sendo drenada pelos passos apressados de outros, pelas conversas altas ao telefone e pelas luzes da cidade, ainda que fosse de manhã.
— Por que você não contou para Min-gyu antes? — indagou. Por estarmos sem conversar há bons minutos dentro do táxi, a voz de Jungkook era grave e abafada.
— Não queria preocupá-lo.
— E o que ele te disse?
Mordi o inferior ao olhar para o lado e ver uma criança com sua mãe, correndo logo na frente da mais velha e parecia contar-lhe boas histórias dado o enorme sorriso.
— Nada muito importante. — respondi em um tom baixo. Jungkook não disse mais nada, apenas suspirou e, quando o motorista estacionou ao lado do local em que seria a audiência, foi o primeiro a sair.
Acompanhei Jungkook até a avenida, que ele esperava o semáforo tornar-se vermelho para que pudesse atravessar. Seu semblante era sério, Jungkook não olhou uma vez para trás. Isso o fazia parecer ainda mais inalcançável.
Ao entrarmos no prédio, Jungkook foi imediatamente reconhecido e eu cobri a região dos olhos para o caso de alguém conhecer Park Jimin. Quase tropecei duas vezes nos próprios pés, só de pensar que alguém pudesse falar comigo e eu não soubesse o que responder. Jungkook, que antes andava na frente, sempre impérvio, girou os calcanhares e caminhou até mim — meio impaciente e apressado eu diria —, o advogado me fez andar mais rápido ao me guiar com sua mão esquerda. Um toque que me surpreendeu, mas era estranhamente confortável ter a ponta de seus dedos tocando o tecido de minha blusa.
Quando entramos na sala de audiência, ela já havia começado. O promotor apresentava seus argumentos e a ré, uma mulher que beirava seus quarenta anos, estava sentada, ao lado de seu advogado, cabisbaixa. Dei passos para a direita, porém, Jungkook me puxou, nada cauteloso como havia sido minutos antes, para que eu o acompanhasse para a parte esquerda da sala.
— A ré matou cruelmente seu marido na noite de ontem, na própria casa. — essa fala do promotor tomou toda minha atenção. Porque fiquei em pé quando Jungkook se sentou, o advogado me puxou para baixo, para que eu me sentasse logo, lhe olhei feio, mas ele pareceu não se importar. — E a criança de 11 anos testemunhou tudo.
Olhei para Jungkook, assustado. Eu sabia que o mundo não era lá essas coisas, mas não deixava de ser surpreendido pela falta de humanidade que se alastrava por todo lugar. O promotor mostrou a arma usada para o crime, uma faca de cozinha, e continuou a ressaltar que uma família é o único núcleo que vai se proteger, é em quem se deve confiar de olhos fechados. Aposto que se esse promotor conhecesse meu pai, mudaria de pensamento imediatamente.
Como era o turno do advogado, este se levantou, ajeitou os botões do paletó e suspirou.
— Você vê essas marcas pelo corpo da ré? Não são marcas que se ganham ao simplesmente cair no chão. O marido a agredia todos os dias, e até mesmo teve passagem pela polícia três vezes por apresentar comportamento agressivo. — o advogado colocou as mãos nos bolsos da calça social acinzentada e suspirou. — Imagine você ser uma mulher, casada com um homem que te machuca e maltrata todos os dias? Chega em um ponto que é muito difícil aguentar. Por isso, digo que a ré agiu em legítima defesa.
Turno vai, turno vem, a audiência teve um fim. O juiz avaliou os autos com cautela, ora olhava para o advogado, ora para o promotor. Após um minuto inteiro em silêncio, o juiz decretou que a ré era culpada por seu crime, mas que a pena seria reduzida.
— Conseguiu entender alguma coisa? — Jungkook indagou.
— Muitas palavras difíceis. — confessei. Jeon deu uma risadinha e me olhou.
— Lembra de algumas? — assenti. — Então as pesquise. Busque um exemplo de cada uma e como podem ser usadas.
— Obrigado por estar me ajudando. — murmurei. Jungkook, que antes olhava para a ré, que abraçava seu filho, tornou a me observar.
— Não confunda as coisas. — quando franzi o cenho, ele se levantou. — Eu estou sendo pago, é natural te passar essas instruções. — Jungkook colocou as mãos nos bolsos e caminhou pela fileira de cadeiras até que saísse da que estávamos. Revirei os olhos. Francamente, Jungkook, que coração impermeável.
⋆⋆⋆
Durante o caminho de voltar para a firma, Jungkook me deu exemplos de casos e como eles foram resolvidos. Uns, bem simples, outros, nem tanto. Chegamos ao entardecer, devido ao trânsito em massa, já que era final de expediente para muitos trabalhadores.— Você tem meu número, qualquer coisa é só... — Jungkook foi interrompido por um grito, que veio da entrada da firma. Acompanhei seu olhar e vi Min-gyu, com um sorriso de criança em seus lábios macios. Ele acenava para nós, encostado em seu carro. Com cuidado, atravessei a avenida e caminhei até o Kim.
— Por que está aqui? — questionei.
— Pensei em te levar para comer naquele restaurante que você gosta. — meus olhos brilhavam de felicidade. — Jungkook te deu muito trabalho? — Jeon passou por nós, com as mãos nos bolsos e uma expressão de poucos amigos, nos ignorando por completo. Porque eu estava confuso, Min-gyu deu uma gargalhada e afagou meus fios. — Ele é assim mesmo, não se preocupe.
Mordi o interior da bochecha e contornei o carro, sendo possível ver Jungkook se aproximando da entrada da firma.
— Ei, Jungkook! — o gritei. Nesse momento, ele parou de andar e inclinou a cabeça para o lado, me olhando por cima do ombro e esperando que eu prosseguisse. — Você quer vir com a gente?
Jimin, você está convidando o próprio satã para uma refeição?
Tudo o que Jungkook fez foi assentir silenciosamente e caminhou de volta para o carro. No segundo em que ele se aproximou e Min-gyu o olhou, eu soube que havia cometido o primeiro erro daquele fim de tarde.
CONTINUA...
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𝗔 𝗟𝗲𝗶 𝗱𝗼 𝗔𝗺𝗼𝗿
Fanfiction𝗰𝗼𝗻𝗰𝗹𝘂𝗶𝗱𝗮 › 𝗮𝗱𝗮𝗽𝘁𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 ☑ ║❝Jeon Jungkook, além de ser um homem excêntrico, materialista e calculista, é um advogado renomado que trabalha na firma mais reconhecida na Coreia do Sul. Jeon é do tipo que não acredita em amor, diz ser...