Chapter 434 A pior das confissões, vindo de você são as palavras mais doces

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Capítulo 434 A pior das confissões, vindo de você são as palavras mais doces

Dia dezenove de maio

Ano do Dragão – horas mais cedo

Quando Fu Sheng despertou no final da tarde, a morada praiana da família Shu estava silenciosa.

Jun Wu e nem Huan Shui estavam no quarto e nas proximidades, Qing Song ainda estava adormecido após a noite de pesca com seu pai e ao espiar o aposento de Shu Rong, o cultivador de Zhen Yan encontrou a cama dele vazia, intocada.

Não era possível que Shu Rong suportasse tanto tempo sem dormir, seria uma capacidade inumana!

Perambulando pelos cômodos, acabou espiando da porta da parte da casa onde ficava a biblioteca particular do pescador e para seu assombro, deparou-se com o pescador dormindo de mau jeito sentado na cadeira, seu corpo parcialmente debruçado sobre a mesa, seus braços servindo de travesseiro enquanto parte de seu cabelo caía mal distribuído sobre seu rosto, a mesa e suas costas, as pontas ainda úmidas.

Fu Sheng observou por um pouco da entrada e depois não conseguiu se conter e entrou sem fazer barulho, aproximando-se cada vez mais com as mãos atrás de si.

Shu Rong devia estar completamente exausto, pois ele mal se moveu e nem mesmo percebeu a aproximação.

E desviando o olhar para o entorno do aposento, Fu Sheng viu uma espécie de manta de chita sobre um divã antigo no canto e se apossou dela, cobrindo com o tecido da manta as costas desprotegidas e um pouco úmidas pelo cabelo que antes estava molhado.

Foi nesse instante que colocou a manta sobre ele que Fu Sheng se debruçou devagarinho e fechou os olhos, aspirando o aroma da pele e do cabelo, bem de perto... Detectando um cheiro levemente doce, suave.

Ele sentiu uma imensa vontade de abraçar Shu Rong, seus dedos formigando ao desejar e sorriu para si mesmo, de olhos fechados, sentindo o cheiro da pele limpa, do cabelo recém lavado, um aroma desconhecido e tão envolvente.

Um calor se alastrou por seu corpo apenas com essa pequena proximidade e no instante que abriu os olhos, é que percebeu o caderno costurado a mão que comprou para poder conversar com Shu Rong, esquecido sobre a mesa.

Perto do caderno estava a pena e o nanquim e assim lhe ocorreu que Shu Rong não tinha dormido na biblioteca por acaso.

Se afastando um pouco, Fu Sheng se moveu furtivo e segurou no caderno, querendo espiar seu conteúdo.

Nas primeiras páginas manchadas de carvão encontrou as sentenças escritas por Shu Rong, quando estavam na traineira He Tun.

“Do que você está arrependido afinal?”

“Você não me conhece e não ia gostar de mim se tivesse me conhecido antes.

Acha que uma pessoa realmente boa teria cicatrizes tão medonhas nas costas?”

“Eu tirei a barba porque ela me fazia pensar na última madrugada, o que você estava pensando quando usou o vinho para criar uma situação ao seu favor?”

“Por que eu?”

Poucas afirmações, demasiadas dúvidas.

Começava a escurecer parcialmente lá fora, a luminosidade dentro do cômodo diminuta e Fu Sheng avançou algumas páginas sem ler... Arregalando por segundos o olhar.

Pedaços de sua conversa com ele no convés da traineira reacenderam em sua mente, mas o caso é que havia algo novo, escrito em páginas limpas, com uma caligrafia cursiva elegante feita com a pena de bambu e nanquim.

Fu Sheng se aproximou da janela, aproveitando o resquício de claridade e se colocou a ler, decifrar os ideogramas desenhados.

“Há muito sangue em minhas mãos, eu não sou uma pessoa boa.

Eu fui traído duas vezes e eu também fui traidor do meu clã.

Não importa que eu esteja vivendo os últimos dez anos de forma pacífica.

Nada do que eu fiz pode ser apagado, é uma extensão dessa pessoa que eu sou.

É bom que saiba de tudo isso, porque há um equívoco no seu gostar.

Direcione seu afeto para uma pessoa que valha a pena.”

Assim que terminou de ler pela primeira vez, Fu Sheng continuou debruçado no parapeito, mas voltou seu olhar para Shu Rong ainda adormecido sobre a mesa.

O cultivador de Zhen Yan estava admirado.

Depois de Shu Rong provavelmente ficar acordado por mais de vinte e quatro horas, ele terminou por adormecer numa posição tão ruim, por ter tido o trabalho de escrever o que sentia no caderno?

E Fu Sheng nem mesmo esperava por isso, por essa razão se sentia feliz.

Era algo que definitivamente podia esperar, afinal.

Mas, Shu Rong usou seu último pedaço de lucidez, antes de apagar levado pela exaustão, preocupado em lhe dizer o que sentia, nitidamente angustiado por não se julgar a pessoa certa.

Fechou o caderno costurado à mão num ruído baixo, breve e abafado e olhando em torno, se concentrou em acender algumas velas algo gastas num castiçal sobre um móvel antigo, trazendo uma luminosidade pálida e reconfortante para a biblioteca.

Passou por sua cabeça acordar Shu Rong para levá-lo para cama, contudo, Fu Sheng hesitou.

O pescador parecia ser do tipo que ficava muito mal humorado quando tinha o sono interrompido.

Então, Fu Sheng puxou devagar a cadeira e se sentou de frente ao Shu Rong adormecido, tornou a abrir o caderno, dizendo que era justo deixar uma resposta para o que ele tinha escrito.

Com movimentos pensativos, Fu Sheng usou a pena de bambu, molhando na tinta negra e encarou o espaço em branco abaixo.

Ele podia responder cada linha e argumentar mil razões, porque quem estava equivocado era seu silencioso pescador.

No entanto, apoiando o cotovelo no tampo da mesa de madeira escura, Fu Sheng mirou-se mais uma vez nele, na verdade... Ele nunca se cansava.

Seu pomo de adão subiu e desceu ao pensar no que escreveria.

E Fu Sheng chegou mesmo a morder os lábios, a carne macia do lábio inferior empalideceu por segundos com a mordida.

Pensando que sua caligrafia não era tão bonita e nem tão legível, o cultivador escreveu devagar e logo a sentença se formou.

“Shu Rong-shi... Podemos tomar banho juntos?”

Fu Sheng sorriu sem mostrar os dentes para as palavras no caderno e o virou de volta para o pescador, o caderno aberto do jeito que tinha deixado.

Ele nem mesmo se importaria de se deitar ali no tampo e observá-lo até acordar, mas o caso é que pouco depois, ouviu a voz de Qing Song procurando por alguém acordado na casa.

O cultivador deixou a cadeira, as velas acesas iluminando placidamente a biblioteca...

O cultivador deixou a cadeira, as velas acesas iluminando placidamente a biblioteca

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Where stories live. Discover now