Naruto

236 42 15
                                    

A aranha é enorme e quer me machucar.

Seu corpo deve ser do tamanho da minha cabeça, com pernas fortes e peludas lutando tão rapidamente quanto as de Kurama. Está fazendo um barulho assustador de outro mundo, começo a gritar no topo da minha voz, mais alto a cada decibel que sai do meu corpo. Meus olhos se abrem e vejo o teto do meu quarto. Há um par de olhos lá. Olhos tão escuros quanto o céu a noite, eles me encaram com uma intensidade quase dolorosa. Eu reconheço esses olhos, já os vi alguns dias antes.

Um pesadelo. Foi apenas um pesadelo.

Estou encharcado de suor, coberto por ele. Meu edredom está pesado em cima de mim e eu gemo, me levanto e arrumo minha bolsa, Kurama e Matatabi, miam em desgosto. Os silencio suavemente e vou ao banheiro. Faltam duas horas para o meu alarme disparar, mas isso não é novidade. Eu tenho problemas para dormir desde que era criança.

Jogo água fria no rosto e noto que meus dedos estão tremendo enquanto me seco. E assim, outro dia da rotina começa. É uma rotina bem estabelecida até agora. Escovo os dentes, tomo um banho rápido, seco o cabelo, aplico quantidades mínimas de maquiagem e faço um café da manhã rápido. Alimento meus gatos, suas caudas e narizes rosados esfregam contra meus pés. O tempo todo, luto contra o pensamento do estranho que me olhou há alguns dias no hospital. Eu sei o quanto isso é ridículo, nem deveria ainda pensar ou lembrar disso. Mas todas as vezes que minha mente relaxa, aqueles olhos escuros aparecem e me tragam, como se pudessem ver além de mim. Isso não é normal, devo está paranoico.

__ Vamos lá! - Conduzo os gatos para longe da porta, pegando minhas chaves. __ Vejo vocês dois mais tarde. Se comportem!

Dou-lhes beijos, corando quando encontro os olhos da minha vizinha no corredor. Ela deve pensar que estou enlouquecendo aos 28 anos, conversando com meus gatos assim. Mas eles são a única família que tenho, e se minha vizinha quiser me julgar por isso, que assim seja. Dou-lhe um sorriso superficial antes de subir as escadas, para não precisar falar com ela em nosso elevador de merda. Ele continua quebrando, de qualquer maneira. Uso a matemática ao andar para trabalhar, está na palma da mão. Eu sei qual rota me levará até lá mais rápido. Sei qual a rota que demora mais três minutos, aquela que me faz passar por um gato de rua que chamei de Son, a alguns quarteirões de distância. Sigo esse caminho agora, segurando minha bolsa, onde uma lata de atum fechada está esperando por Son. Não é muito, mas me asseguro que é melhor que nada. O gato de pelos acinzentados mia de prazer quando me vê chegando até ele.

Dou um pequeno sorriso ao meu novo amigo, colocando a lata de atum na calçada para ele antes de lhe dar alguns tapinhas na cabeça. E então, corro para o hospital para outro dia de miséria. Não é como se eu odiasse meu trabalho.

Eu odeio as pessoas.

Trabalhando como enfermeiro no pronto-socorro, você vê tudo, desde disputas domésticas a abuso infantil. Tudo isso cria uma mistura de memórias que prefiro esquecer. Ainda assim, não é como se nada disso fosse tão ruim quanto minha vida antes do hospital. Crescendo em um colégio interno, sendo jogado de um lar adotivo para outro, até que finalmente cheguei aos 18 anos. Consegui uma bolsa e trabalhei em dois empregos além da faculdade para concluir. Eu não podia pagar um diploma de medicina, então me formei em enfermagem. O salário é melhor que a média, as horas são horríveis, e no entanto, oferece o tipo de segurança que desejei a vida inteira.

__ Ei, Naruto. - Lee, meu amigo da ala intensiva, bate seu quadril no meu e pisca para mim quando passo por ele no corredor. __ Dr. Hatake está perguntando por você de novo.

__ Sério? Hm...

__ Sem palavras? - Ino ri quando se junta a nós, caminhamos pelo corredor juntos. Formamos um trio de ômegas: Ino, com seu sotaque russo distinto, rosto de boneca, corpo magro e perfeitamente equilibrado. Lee, que tem um corpo definido, resultado de anos de academia. E eu, Naruto, loiro, baixinho e apresentável. 

Meu Perseguidor (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora