35: escolha

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Lorena Castro

Eu jamais me imaginaria nessa situação, olhando para o homem que eu amo com um pesar no coração. Agora eu entendo, entendo com todo o meu coração quando o Guilherme disse diversas vezes que não queria que eu visse o lado feio da coisa. Até então eu nunca tinha conhecido esse lado, o chefe do Complexo da Maré, o perigoso e procurado traficante Marechal. Nunca tinha caído a real ficha pra mim que eu realmente estava tendo uma família com alguém envolvido no crime, até porque eu sempre vi o Guilherme e não o Marechal.

E eu sei que provavelmente a cabeça dele vai estar a mais de mil por eu ter pedido para ele ir embora, não fiz isso por sentir medo dele ou por sentir pena do Dedé. Eu não sei o que fez ele agir assim, como posso julgar? Guilherme nunca se descontrolou na minha frente e sei que em sã consciência ele nunca faria isso na minha frente, principalmente comigo grávida. Então, como posso julgar ele? Principalmente por alguém que eu não consigo depositar minha confiança.

Apenas disse para ele ir assim que ouvi a enfermeira falar para a outra chamar a polícia. Como eu poderia manter ele aqui? Pedir explicações? Mas minha cabeça não deixa de martelar me fazendo pensar que ele pode estar se sentindo traído. Eu não esperei pra nós dois um romance de novela, onde tudo é sempre muito bonito, chega a ser irreal. Eu só quero poder ficar, nós dois juntos ainda é e sempre vai ser a melhor opção. E nem mesmo se o Guilherme me mostrar seu pior lado como Marechal, isso jamais me faria ir embora. Ele pode ser o pior da porta de casa para fora, mas do lado de dentro ele é o Guilherme.

O homem que me amou, me abraçou, me tocou e cicatrizou a minha alma. Esse é ele. Mesmo que o nosso lance seja perigoso, eu não me importo mais. A partir do momento que ele me escolheu e eu escolhi ele, eu não soltaria a mão dele jamais. Por que essa também é quem eu sou. Enfim eu descobri o meu lado que eu jamais pensei que descobriria, o meu lado capaz de amar e de retribuir o amor de alguém. Mas o que mais me impressiona é ele, sobre como ele foi capaz de me amar no meu pior, como se tornou pai de uma criança que não tem o sangue dele... Amor... É realmente amor.

—Lorena! —Escutei alguém me gritar me agarrando pelos braços, só então percebi o par de olhos castanhos arregalados me encarando. —Cadê o Marechal?

—Eu não sei... —Hari me soltou passando a mão pelo cabelo e logo em seguida indo em direção ao Dedé.

—Porra... —Ele pronunciou olhando pra todo aquele sangue. —Que merda que ele fez?

—Liga para o VT e descobre onde ele tá. —Continuei observando o Dedé sendo colocado em uma maca enquanto a minha mãe chorava ao lado dele, só então me aproximei. —Não tenho ideia do que você fez, Dedé... Mas pode ter certeza que a nossa chance de se aproximar acabou aqui, não vem atrás de mim se isso for machucar o Marechal.

—Lorena! —Minha mãe gritou meu nome me repreendendo.

—Não vou te dizer pra escolher um lado, mãe. A única coisa que eu posso te pedir é pra não me pedir escolher um lado também. —Com os olhos marejados ela se aproximou segurando meus braços.

—Por quê? Não me escolheria, filha? —Senti meu coração sendo cortado em mil pedaços.

—Ele, sempre vou escolher o Guilherme. —Ela me soltou logo acompanhando o Dedé com o médico, mas ainda pude ver seu olhar decepcionado.

Me escorei na parede sentindo um calafrio passar por todo o meu corpo, fazendo um enjoou sem fim predominar meu estômago. Não demorou para o Hari perceber e vir na minha direção me segurando e me levando até a cama. Me sentei pegando a minha bolsa e o celular esperando que tivesse uma ligação sequer do Guilherme, mas não tinha absolutamente nada.

UM LANCE PERIGOSO (MORRO)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora