036; Árvore Envenenada

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ZAYA TORETTO

Braga. Sim, ele estava bem na nossa frente com as mãos no bolso da jaqueta enquanto Hobbs averiguava o estado da sua liberdade para ter certeza se era legal, vejo o policial respirar fundo colocando o tablet em cima do monitor da sala de operações e balançar a cabeça de forma positiva. 

Meu coração se despedaçou naquele momento sem um motivo, apoiei minhas mãos no monitor, e senti minhas lágrimas escorrerem por meu rosto. A mão de minha mãe iniciou uma massagem em minhas costas, e, de repente a imagem de meu pai morrendo naquele barco invadiu a minha mente, me fazendo lembrar de tudo, de nossos raros momentos como pai e filha, e todos os dias que ele demonstrava pequenos afetos em nossa relação.

Apoio minha testa no monitor me abaixando parcialmente, e sinto a massagem de minha mãe aumentar enquanto ela falava que tudo ia ficar bem, alguém colocou meu cabelo para trás da orelha e pelo toque suave pude identificar a dona do gesto —, Letty.

Ela beijou o topo da minha cabeça, enquanto meu choro era derramado em minha face de forma extensa, fechei os olhos com mais força e solto um leve soluço. 

— Meu pai, mãe... — digo, respirando fundo. — Eu quero o meu pai... Por favor, eu sei que não era perfeita... Mas estou com saudade do meu pai.

— Meu amor, fica calma. Estou aqui com você. — ela falou. — Vai ficar tudo bem. 

Meu corpo iria cair no chão, se alguma figura masculina não tivesse me segurado, logo reconheci Hobbs como a pessoa que segurou minha estrutura óssea com cuidado, me retirando da sala. 

Quando eu tinha dez anos, cai no parque da escolinha, cortei a cabeça e muito sangue escorreu, meus pais me levaram correndo para o hospital, e lá, a médica me pediu para levantar a quantidade de dedos que significavam o tamanho da dor que eu sentia naquele momento, ergui nove dedos —, nos três dias que fiquei de observação, ela sempre me perguntava, e eu levantava o mesmo número. 

Hoje, veio o dez. A dor me consumia de uma forma tão violenta, que certamente eu levantaria os dez se a mesma médica me perguntasse, quando Hobbs me colocou deitada no sofá da sua sala, e minha mãe se abaixou ao meu lado, tomei coragem, e levantei todos os dedos das minhas mãos. 

— Eu sei, meu amor. — passou a mão em meu rosto. — Eu sei, minha princesa. 

— Eu quero o meu pai, mãe... Por favor, tira essa dor de mim. 

— Vai ficar tudo bem, Zaya. Te prometo isso. — beijou a minha testa, sentando-se no chão. — Mas eu preciso que seja forte, princesa. Eu preciso muito da sua força... Eu preciso de você.

Segurei em sua mão, e ela beijou meus dedos, deixei apenas meu corpo relaxar e o sono que não veio a noite toda, me consumiu de maneira extensa em poucos segundos.

NARRADOR

Hobbs retornou à sala de operações, ele passou as mãos no rosto parando perto do pessoal que parou de falar por estar preocupado com a situação de Zaya. O homem cruzou os braços na altura do peito e soltou um longo suspiro.

— Ela está bem. — disse, e todos suspiraram aliviados. — A Arya está vendo ela dormir.

— O Brian... Está mesmo morto? — indaga Braga.

ENTRE PESADELOS ; velozes e furiosos.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora