Capítulo 19

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Benny — 17 anos

Pela primeira vez em muitos anos, não consegui dormir a noite inteira. Fiquei me revirando na grande cama de Ghost. Eu ainda não consegui processar tudo o que aconteceu, sempre acabava me levantando, indo até a cozinha e voltando para o quarto. Estava inquieta, pensando demais. Em um momento, senti uma angústia sem tamanho. Em outro, uma raiva avassaladora, e por fim, uma tristeza que mal cabia no meu peito.
Retirei o quadro acima da cama, ver ele estava me dando ânsias. Mas acabei reparando em uma porta, estava trancada, não consegui abrir. Em um suspiro, fui até a cozinha e procurei por algo que pudesse ajudar, não tinha nada. Minha maior vontade é de pegar um pedaço de ferro e bater naquela porta até que ela se quebre. Volto para o quarto correndo e pego Atena, o presente dela... Cerro as sobrancelhas e a bato contra a portinha de madeira, diversas vezes.
Quando ela se rompe, eu termino de quebrar com o pé e entro sem pensar muito, era um... Ateliê? É horrível. A visão é horrível. Os quadros são medonhos, se o de Sebastian dava agonia, esses misturavam tudo de ruim dentro de si.
Ando mais para dentro, é um quartinho bem iluminado, velas em tons azuladas iluminavam o local, meus olhos doeram.
Me lembro de quando Lott me disse que os quadros de Ghost eram ruins... Agora, sei que é verdade. Fecho os olhos e saio do quartinho, pego o quadro e o coloco no lugar rapidamente. Ela pinta suas vítimas? Vi o invejoso que ela assassinou, uma pintura horrenda. Como as outras, mal focada, confusa.

Eu saio andando pelo quarto, é tão grande e tão apertado, eu preciso sair daqui. Preciso de respostas, eu vou atrás das minhas respostas.
Quando abro o guarda roupa, cerro as sobrancelhas em desgosto. Essas roupas dela... Suspiro e pego qualquer coisa, preciso pedir para Lú me trazer outras depois. Noto que é uma blusa de botões e uma calça, isso não vai servir em mim nem em mil anos. A blusa até foi, ficou bem larga até. Já a calça... Mal passou das minhas coxas, Ghost é mais alta que eu e por mais que possua um quadril consideravelmente largo, suas calças ainda apertam em mim.
Desisto e procuro qualquer outra coisa, pego uma saia que estava costurada em um corsete. O tamanho era ajustável e a saia larga, serviria em mim.
A visto e amarro rapidamente e pego minhas botas. Ao me encarar no espelho, não reconheço a mim mesma. Não estou acostumada a me ver usando tantas peças escuras... Mas, não tenho outra opção por agora.
Eu ando pela floresta a passos lentos, não sei onde Lú deixou Hannah. Bato em minha própria testa quando me lembro que não trouxe Atena, ou qualquer outra arma que pudesse ajudar. Então, pego uma grande pedra e a carrego, não é uma arma tão boa mas é melhor que nada.
Ao ver os castelos, engulo em seco. Ando pelas pontes até o palácio principal com o coração na mão. Ouço os gritos de cada alma penada lá dentro, todas agonizantes. Eu consigo entrar no castelo de Lúcifer sem muita dificuldade, isso até me assusta, não me viram entrar e eu não sou tão discreta.
Subo as escadas rápido, tentando não fazer barulho e assim que chego ao quarto de Lúcifer, vejo um vaso encima de uma mesa ao lado da porta, me aproximo lentamente e vejo a porta entre aberta, me enfio atrás do vaso e aproveito o pano que estava sobre a mesa para me esconder, ali, abaixada, tento escutar a conversa deles.

— Provavelmente pensam que o casamento já foi consumado.  — a voz de Lúcifer, engulo em seco ao ver sua silhueta andando pelo quarto.

— Para eles, o casamento foi consumado antes de houver de fato uma união entre nós dois. — Ghost rebate.

— Não entendo como esse boato começou, eu sequer me interesso por coisas assim, nego qualquer tipo de amante.

— Começou com o boato de que todos os sete cederam aos meus encantos — sua voz saiu histérica, puro deboche. — Incrivelmente, eu que sempre cedo aos encantos deles. Afinal, nenhum deles insistiria em mim! Aaaah coitada de mim, ter um corpo bonito é minha maior maldição!

The soldier Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt