Capítulo 1

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Benny — 16 anos

"Você só está aqui pois precisamos de mais soldados com o talento de seu pai, vamos ter que descobrir a força se você tem as habilidades necessárias para poder sobreviver nesse reino, caso contrário, você morrerá de fome e sede pois eu não me importarei mais com a filha de uma sem honra."

Foi o que eu ouvi, quando tinha 08 anos, a mulher de cabelo rosa e o seu general me tratando como uma soldado, mesmo sabendo que eu tinha sangue de humano puro em minhas veias. Agora eu torço para conseguir sobreviver por conta própria nesse reino após eles perceberem que eu nunca serei capaz de controlar uma mínima chama sequer.

Desde então eu treino sem parar, em escolas, em casa, sozinha em meu quarto na frente do espelho e em qualquer outro lugar que se possa imaginar. Marshall, um vampiro que conheci um pouco depois de vir para cá, me ajuda e me apoia com absolutamente tudo, agindo mais como um pai do que o que diz ser meu progenitor, ele é muito mais velho que eu mas acompanhou meu crescimento mudando de forma, para que eu não me sinta muito desconfortável e agora estamos andando até a escola enquanto olhamos a floresta colorida.

— Tem certeza de que quer ir hoje? Você ainda não está 100%... — olho para ele, dizia isso pois no último treinamento, eu havia ganhado um belo corte na costela e ainda não estava totalmente cicatrizado.

— Sim, eu consigo treinar mesmo estando machucada — Sorrio e volto a olhar ao redor.

— Espero que não se machuque dessa vez, Bennyboo — Sinto suas mãos grandes e pálidas afagarem meu cabelo

Mesmo estando em um corpo de 16 anos, espécies de vampiros são muito altas, Marshall tem 1,78 enquanto eu tenho em base de 1,56. Desvio o olhar levemente para ele, entendo bem o porquê dele sempre estar com alguém, sua pele extremamente branca e seus cabelos pretos se destacavam junto de sua altura, olhos escuros como a noite e presas bem afiadas, talvez ele pareça um típico vampiro do reino humano mas aqui...

Apenas consigo rir com o pensamento, Marshall é meu melhor amigo desde sempre, ele me apresentou todo mundo que conhecia e isso melhorou muito minha estádia nesse lugar.

— Tá afim de ir no cinema depois das aulas? — seu sorriso era notável, mas logo o mesmo ficou sério ao ver que havíamos chegado a escola — Putz, não vou entrar hoje não.

— Vai me deixar sozinha!? — digo com uma falsa indignação, era raro o dia que Marshall entrava naquele local feito de pedras que todos chamam de escola.

— Sozinha é o caralho! A Mad tá lá dentro.

— Ela é sociável demais pra ficar comigo, vai vazar.

— Vai não, confia — ele me abraça fortemente e sai andando — até Boo.

— Até Mallow.

Eu sorri e entrei na escola, indo diretamente para uma sala que estava praticamente... Vazia!? Maddie veio correndo até mim enquanto seu rabo balançava pra lá e pra cá, seu cabelo vermelho estava amarrado em um mini coque. Olho levemente para cima tendo que a garota possuía mais de 1,70 e encaro seus olhos bicolor, um roxo e o outro em cor de mel.

— Onde estão todos?

— Estão lá fora! Estudando a natureza e tals...

— Por que está aqui? Achei que gostasse dessas aulas.

— Eu te conheço, sabia que ia chegar atrasada e não encontrar ninguém!

Sorrio fraco e dou a mão para Mad, ela segura de maneira animada e me puxa para fora da pequena cabana que parecia ser maior por dentro do que por fora, ao chegarmos onde todos estão, me sento no chão com leve dor na cintura por conta do corte. Ao redor só tem alguns elfos e feiticeiros rindo, colhendo folhas e brincando com os bichos das árvores. O professor, vulgo um elfo de cabelo branco e pele clara que eu até hoje não faço ideia o nome apenas anotava algumas coisas em seu pergaminho enquanto alguns elfos lhe mostravam coisas sem importância.
Por mais que aqui seja horrível, é simplesmente lindo. As árvores são de vários tipos de cores imagináveis, rosa, vinho, azul... Um verdadeiro arco íris em tons claros. A grama é verde pastel, sempre verde, sempre baixa e macia. Céu limpo, completamente azul e ar puro, esse país é cheio de florestas, não possue prédios ou fabricas poluentes e o melhor de tudo: é separado do mundo humano, nada que eles façam pode afetar esse lugar e isso é completamente relaxante.

Eu não pude admirar o local por nem meia hora pois Marshall apareceu literalmente do nada em meio a algumas árvores em tons escuros e me chamou, eu fiz cara feia mas me levantei e andei até ele de forma que o professor não visse.

— Marshall, não faz nem uma hora que a gente se despediu — digo baixo olhando o redor, o maior me puxa para trás da árvore assim que o professor vira o rosto.

— Foda-se? Cara, o filme é daqui uns minutos.

— Eu nem concordei em ir...

— Mas vai! — o sorriso em seu lábios deixava uma coisa óbvia, ou eu ia por boa vontade ou ele me arrastaria até lá.

Eu suspiro e estendo a mão para que o mesmo segure, assim que ele toca em minha pele todo o local muda. Um sofá e uma parede de concreto, é literalmente a primeira coisa que vejo ao aparecermos no apartamento que Marshall possuía no mundo humano.

— Minhas roupas ainda estão aqui?

— Obviamente! Tá lá no quarto de sempre — ele sai andando após dizer e se fecha em um dos quartos que havia ali.

Admiro todo o local, bem simples, até demais para alguém como o Mallow. Saio andando até o quarto que deveria ser "meu", abro a porta e sinto um forte cheiro de morango, um forte perfume do mundo humano. Entro lentamente e reviro o guarda roupa atrás de algo, retiro um short jeans e um cropped em tom de marrom escuro, coloco tudo e me encaro no espelho, essa definitivamente sou eu, não aquela garota que usa vestidos camponeses e roupas de couro, eu sou a típica menina que usa as roupas mais simples possível e mesmo assim tem um bom estilo. Amarro os cachos rebeldes de meu cabelo em um coque alto, marrons e compridos demais para o meu próprio gosto, mas o que eu poderia fazer? Valkyria prefere assim.
Saio do quarto e Marshall me encara e logo começa a rir.

— O quê? Simples demais..?

— Você... Colocou as botas de couro.

Rapidamente olho para meus pés vendo as grandes e pesadas botas, olho para Marshall novamente que ainda ria e volto para o quarto na busca de um par de tênis comuns. Ao vestir o tênis saio e encaro o garoto, ele estende a mão e eu nego com a cabeça.

— Vamos andando.

— Nem fodendo.

— Vai, é bom andar! Exercitar as pernas — Sorrio e vou andando até a porta.

— Não vai dar tempo — Olho para Marshall e vejo uma expressão triste em seu rosto, mas logo ele vem atrás de mim e abre a porta — Quer apostar corrida?

— Não vale, você é mais alto que eu, mais atlético e ainda é um vampiro — Cruzo os braços — Tu é obviamente mais rápido

— Prometo que vou correr na velocidade de um humano comum! Ou pelo menos tentar...

Sorrio e saio rapidamente, o maior vem atrás de mim e em menos de segundos me alcança, olho para ele com as sobrancelhas cerradas mas logo caio na risada. Olho para o elevador e imediatamente paro, quase batendo de cara com a grande porta de ferro.

— Eu sempre esqueço!

— Quer ir pela escada? — olho para ele e balanço a cabeça novamente, o elevador se abre e ambos entramos.

Bastou sairmos do prédio e eu senti a grande diferença de ar, era mais pesado e se tentasse inspirar bem, poderia até ser capaz de sentir o cheiro de queimado. Olho ao redor vendo diversos prédios, não tão grandes mas incômodos ao olhar, é... Bem vindos a Sakirnova.

— Certeza de que quer ir andando?

— Tenho, vamos.

Nós andamos de forma calma, eu não conseguia parar de analisar a cidade, era simplesmente muito estranho ver tantos humanos de sangue puro, sem características muito marcantes como olhos completamente brancos ou fortes marcas de nascença. Se bem que tem algumas pessoas assim, pessoas que tatuam símbolos não humanos e usam lentes coloridas mas por mais que eu esteja totalmente acostumada com isso desde sempre, pessoas aqui além de achar estranho ainda criticam e dizem coisas totalmente desnecessárias e isso dói de se ver.
Nós chegamos no shopping e o filme não estava nem perto de começar, olho para Marshall confusa e ele sorri novamente.

— Nós estamos esperando alguém?

Assim que digo, olho para frente e vejo duas pessoas familiares, acho que seria impossível de esquecer esse olhar de tédio ao lado da pessoa mais alegre existente, mesmo que use o maior feitiço do mundo para parecer humana, eu sempre vou te reconhecer Ghost. 

The soldier Where stories live. Discover now