Trip to the past

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Religiosamente, todo santo dia, após deixar o serviço, ele parava no boteco do Seu Zé,  na esquina da avenida principal com a rua da empresa de sua  família, onde trabalhava como coordenador de projetos.

Não era um bar  luxuoso, como os que costumava frequentar com os amigos nas longas noites de sexta-feira, muito pelo contrário, o lugar fedia a óleo de fritura, as mesas e cadeiras de plástico vermelhas, eram um atentado à vida dos clientes, quase todas faltando algum pedaço, os insetos passeavam livremente como verdadeiros habitantes do local e a cerveja dificilmente era servida em algum copo limpo.

Mas, para Boruto, nada daquilo importava, desde quando, dias atrás, ele havia descoberto que ali,  naquele lugar fétido e sujo,  existia uma verdadeira máquina do tempo.

Escondida bem lá nos  fundos do local, perto da porta que levava aos banheiros, empoeirada esperando por algum corajoso para  ligá-la na tomada e alimentá-la com fichas, estava a máquina mais incrível que o loiro já vira em toda a sua vida.

À primeira vista, assim que colocou seus olhos azuis ávidos por examinar cada detalhe, cada botão, o Uzumaki sentiu seu coração errar uma batida ao se recordar daqueles velhos  tempos.

Eufórico, como se fosse um molequinho que acabara de ganhar seu presente na noite de natal, o loiro passou seus dedos trêmulos por toda a lateral do equipamento, como se estivesse o acariciando até chegar na parte de trás, por onde saía um longo fio preto.

— Zé...Seu...Seu Zé!!! Zé!! Mas que porra!! Cadê você?

Ele berrou diversas vezes, tentando conter a emoção que sentia mas falhando miseravelmente, chamando pelo dono do boteco que estava ocupado fritando linguiças para um cliente que acabara de chegar.

— ZÉÉÉÉ!! Droga... eu posso ligar isso daqui??

Boruto fez uma nova tentativa, desta vez gritando a plenos pulmões, a fim de que o velho barrigudo de boné azul o escutasse, mesmo  diante do barulho das linguiças sendo torturadas no óleo quente.

— Huh? Ligar o que garoto?

O idoso resmungou coçando os poucos fios grisalhos existentes na parte de trás da cabeça.

Já sem paciência, entusiasmado demais com a sua recém descoberta, para esperar o aval do mais velho, Boruto conectou o cabo de energia na tomada e imediatamente se posicionou na frente da máquina.

NADA! Simplesmente nada aconteceu. Nem uma luzinha acesa, apenas o breu da tela preta. Tudo apagado, sem vida.

— Puta que pariu! Máquina dos infernos!

Enraivecido, ele esbravejou dando um chute na lateral do equipamento, que parecendo sentir todo o seu desespero, começou a funcionar na mesma hora, talvez até por medo de sofrer nova violência.

Luzes piscando, aquela típica  musiquinha do início e desenhos coloridos que ele
reconheceria em qualquer lugar, mesmo depois de tanto tempo, surgiram na tela fazendo com que o coração do loiro quase saísse pela boca.

"Funciona!!! Ainda funciona!!"

Rápido como um raio, ele correu até o caixa do bar, e tirou  a carteira do bolso todo atrapalhado, derrubando o celular de última geração no chão.

— Fichas! Eu quero cem reais em fi... fichas! Por favor!

Boruto falou com a voz falha, estendendo o braço  por um buraco no vidro do caixa, com o dinheiro em mãos.

Diante daquela cena inusitada, o velho piscou algumas e esfregou os olhos com a manga da camiseta cinza, certificando-se do que estava vendo não era fruto de sua mente cansada.

Coletânea Soul Mate BoruSaraOnde histórias criam vida. Descubra agora