História que eu fiz para um trabalho da escola!

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O celular vibrou em cima da mesa de cabeceira, fazendo um barulho alto. Não demorou muito para ele vibrar novamente. Um alarme? Não. A luz do Sol não passava pelos buracos da janela, coisa que normalmente acontecia depois de um certo horário da manhã. Uma ligação? Talvez. Mas quem iria ligar numa madrugada chuvosa daquelas?

Depois da sétima vez vibrando, um resmungo saiu dos lábios ressecados do corpo cansado na cama. Sua mão magra alcançou o celular e o colocou em frente ao rosto. Ah, óbvio que a luz estava forte, tinha ficado até meia-noite escrevendo sobre CNSMPTS - sigla que inventou para a frase: Crimes Não Solucionados Mas que Poderiam Ter Sido.

Olhou para a tela brilhante e viu que um número bastante conhecido ligava.

Após atender, abriu a boca e sua voz saiu com dificuldade:

— Anders, qual é o seu problema?

— Ora essa! — resmungou longe do telefone — Desculpe se o importante delegado Porter estava dormindo, acho que vou ter que ligar para outra pessoa mais interessada em crimes para resolver este problema.

Porter quase pulou da cama. Não perderia caso nenhum para aqueles inúteis da delegacia.

— Pare de bancar a má menina, Anders. Ambos sabemos que você não faria isso nem se fosse louca — disse e ouviu um bufar do outro lado da linha — agora desembucha, foi o Boby que roubou leite do bar de novo?

— Não é isso, mas bem que eu queria que fosse.

Anders disse e fez um minuto exato de silêncio. Porter não entendeu o motivo desse suspense todo e quase gritou com a garota, mas ela tomou coragem e suspirou.

Quando Anders terminou, Porter achou que tudo aquilo não passava de uma brincadeira de mau gosto.

— Anders, não acredito que você me ligou... — olhou a hora no celular — três e quarenta da manhã só pra fazer uma brincadeira dessas.

— Eu estou falando sério. — a garota suspirou pesado e murmurou um xingamento — Olha, se você não quiser ir, nós temos o Robin. Caso tire essa ignorância do seu rabo e decida vir, os oficiais estão na rua São Sebastião, número 12.

Não houve tempo para responder. Anders desligou e Porter rolou os olhos, soltando um resmungo. Ele colocou o celular de volta na cabeceira e se sentou na ponta da cama. Os pés tocavam firmemente o chão gelado o que, hora ou outra, lhe causava arrepios.

Porter passou a mão no rosto enrugado e coçou os olhos, ele se levantou e alongou os braços. Sabia que essa seria uma longa madrugada. Ele abriu o armário, pegou um sobretudo e colocou por cima do pijama que aparentava ser uma roupa social. Porter pegou seus óculos de leitura e o colocou sobre o nariz achatado, e por fim colocou seu tênis marrom claro super discreto para não chamar a atenção.

Como morava sozinho em uma casa afastada das demais não tinha perigo de fazer barulhos altos e vizinhos idiotas aparecerem para reclamar. Aliás, escolheu esta casa justamente por isso. Ele foi até a garagem, tirou as chaves do sobretudo - as deixava guardadas no bolso para não se atrasar ou eventualmente esquecer onde as colocou - e entrou no carro.

Chamava-o de diversos nomes, mas seu preferido - digo preferido pois é o mais usado -, era 'Lata-Velha'. Sempre que saía para trabalhar, entrava em seu Galaxie 500, colocava a chave, girava-a e começava a reclamar e gritar para que a Lata-Velha funcionasse. Não foi diferente dessa vez. Ele fez todo o processo diário e, depois de cinco longos minutos, Lata-Velha finalmente passou a roncar e tiritar.

Porter abriu o portão automático da garagem e saiu junto de seu carro preto que, mesmo acidentalmente, se camuflava nas ruas escuras e sem postes. Como morava em um bairro mais afastado do centro da cidade, as casas eram muito longe umas das outras e dificilmente eram instalados postes de luz. Os vizinhos de Porter gostam de dizer que, nestas ruas, você dirige com Deus ao seu lado - coisa que, para Porter, é totalmente ridículo.

Aquilo que me der vontade.Where stories live. Discover now