Capítulo X

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Prólogo.


Querido diário, eu simplesmente amo clichês!

Eu os vejo em todos os lugares, não posso evitar. É automático. Parece que tudo e todos a minha volta podem ser moldados para se tornarem clichês!

O lugar onde isso mais acontece é na minha escola. E adivinha só? É onde estou neste exato momento.

Olhando para a direita, saindo do laboratório de matemática, vemos Júlia. Uma clássica garota branca, loira de olhos azuis, com cabelos ondulados e volumosos, usando sombra de olho cor de rosa, gloss com glitter de marca duvidosa mas com sabor incrível, salto alto estilo Barbie e uma bolsa da Gucci - claramente falsificada.

Ao seu lado está o apaixonado João Pedro - ou JP, para os mais íntimos -, o nerd. Eu realmente não gosto de usar essa palavra para me referir as pessoas pois esse conceito de nerd dos anos 90 é muito pejorativo, mas vamos lá. João Pedro tem a pele mais morena, usa óculos quebrados colados com fita crepe, está com um moletom preto amarrado na cintura e seu cabelo que deveria ser cacheado e volumoso, está liso e colado na cara, como se a vaca tivesse lambido e depois passado gel para fixar aqueles cachinhos. Ele aparentemente não cuida muito da pele, seu roto está cheio de espinhas e cravos que são possíveis de ver de longe.

É engraçado ver esses dois lado a lado. Se não fosse pelos saltos de Júlia, o JP e ela teriam quase a mesma altura. Bom, eu não posso falar nada, eu sou menor que os dois...

De qualquer forma, eu até queria chegar chegando e dar oi para os dois, mas aparentemente JP está se declarando - clássico clichê de nerd e garota popular! -, e eu realmente não quero atrapalhar, então ficar olhando é a melhor opção.

Andando pelo corredor todo cinza e sem graça, é possível ver alunos de diferentes séries correndo para conseguirem pegar um bom lugar no ônibus e, mais a frente, posso ver a Maria Fernanda, a "bad girl" do colégio.

Eu acho ela incrível, por mais que eu não consigo conversar com ela por mais de 5 minutos. Ela é uma ruiva cacheada, cheia de sardas que vão até os ombros na pele clara. Seus olhos são verdes e brilham até quando não tem luz na sala ou no cômodo onde ela está. Os cabelos com belos cachinhos vão até a bunda - isso quando não estão presos em um rabo de cavalo desajeitado. A Mafe sempre usa luvas sem-dedo que tem um cheiro insuportável de metal por causa do sangue das pessoas que ela briga. Seus dedos estão sempre machucados e ralados, sabiam que ela treina todo tipo de artes marciais e lutas em casa?

Passo por ela com um sorriso sincero, e ela me retribui com um aceno irritado. Como esperado da Mafe, nada de mais amigável. Eu escuto uma pequena muvuca na minha esquerda, perto do banheiro feminino - meu atual destino. Ao olhar, vejo Enzo e seu grupo de amigos o provocando. Aparentemente o garoto estava admirando os cabelos ruivos da Maria. Por mais que esse nome seja, aqui no Brasil, clássico para se referir a algum garoto que parece ter o satanás enfiado entre as pernas, esse Enzo é um soft boy completo.

Sua aparência não é aquela coisa especial, mas ele se diferencia dos outros garotos justamente por ser mais carinhoso e "afeminado". Ele usa seu cabelo em um penteado alinhado, sem nenhum fio pra fora do lugar e seu guarda roupa é cheio de coisas fofas em tons pastéis. Seu rosto também não o ajuda, todos os anos os professores acham que ele é de uma das salas dos mais novos por conta de seu "rosto jovial" - como a mãe dele diz.

Sigo em direção ao banheiro, passando pela muvuca e cumprimentando o grupo de amigos de Enzo. Eles acenam e sorriem de volta e eu entro no banheiro.

Péssima ideia.

Assim que entro posso avistar, em frente ao espelho, o famoso trio de fofoqueiras que toda escola tem. Bianca, Ana Paula e Vanessa, esse são os nomes das garotas que sabem mais sobre você do que você mesmo. Detalhe, essas três NUNCA estão separadas, nem quando uma delas está doente! De qualquer forma, eu fechei a porta do banheiro para ter mais privacidade e não ser atrapalhada por algum garoto pervertido idiota, mas aparentemente não terei a a tal privacidade que buscava. Logo depois da porta se fechar, as três param de falar sobre Enzo e Maria Fernanda e voltam seus olhares para mim.

Em menos de dois segundos, elas já estavam em volta de mim falando e perguntando milhares de coisas e fofocas. Eu não estava entendendo nada, até Ana Paula começar a pular e a me mostrar uma foto onde eu estou de mãos dadas com Antônio, o garoto mais barraqueiro da sala. Ele é meu amigo sim, mas é tipo JP e Enzo, o único amor que posso considerar ter pelo Antônio é um amor fraternal. 

Eu espero aquela confusão se acalmar para tentar responder algumas perguntas, inclusive sobre o Antônio, mas a gritaria não iria parar tão cedo. Resolvo toma r a atitude mais sensata que consigo e conto até três...

Logo depois, saí correndo do banheiro.

... o que foi? Eu não sei lidar com esse tipo de coisa. Principalmente quando tem muita gente e muito barulho em volta de mim.

Ah, agora que eu percebi! Eu nem falei de mim, não é mesmo?

Eu me chamo Aline e estou no nono ano. Eu amo clichês e gosto de escrever fanfics com eles - eu também gosto de desenhar, mas não o faço tão bem quanto escrevo histórias. Eu tenho cabelos cacheados castanho escuros, quase pretos e eles vão até o queixo. Não tenho algo muito interessante para falar sobre mim, eu sou uma aluna mediana. Minhas matérias favoritas são Espanhol e Produção Textual, eu não gosto muito de matemática e estou deixando o trabalho de geografia pra última hora porque quero continuar escrevendo no diário.

Eu disse, nada de tão interessante.

Enfim, por enquanto é só porque agora minha mãe me chamou para jantar e logo depois eu vou ter que dormir. Espero que tenha achado esse relato interessante, diário.

Até a próxima!

Aquilo que me der vontade.Where stories live. Discover now