"I'm gonna hold you, like i'm saying goodbye."

646 147 85
                                    

Ficar sentada na sala de espera do hospital era de longe a coisa mais agoniante que eu já havia passado. Meu pé mexia inquieto, eu devia estar lá fazia cerca de duas horas, mas parecia que uma semana havia passado. Enfermeiras passavam de um lado para o outro, mas tudo que eu queria saber era se Jenna estava bem. Com as informações do jornal, vim até o hospital e perguntei se o nome da paciente era Jenna Marie Ortega. Tive que mentir, dizendo que era minha namorada, para a mulher me colocar na lista de visitas. Minhas mãos tremiam. Por sorte, Georgie conseguiu ir lá para casa cuidar dos gêmeos. Ele e o Hall eram ótimos padrinhos, eu tinha que admitir isso. Me levantei, pela milésima vez, para buscar água. Enquanto enchia o copo, uma enfermeira chegou até mim.

- Com licença, você é a Emma Myers? — perguntou.

- Sim! - Respondi, eufórica. Por favor, enfermeira, diga que eu já posso ver minha garota. Por favor.

- Me acompanhe. - Ela pediu, notando minha ansiedade. - Ela está bem, tivemos medo de ser algo sério, fizemos alguns exames, mas ela é muito sortuda. Ela deslocou o ombro e quebrou uma costela. Levou uma pancada forte na cabeça com a queda, mas só conseguiu um pequeno corte na testa, levou 4 pontos. Fizemos exames, tivemos medo de ter algum dano maior. Ela está desacordada desde que chegou, achamos que agora é por causa dos remédios, ela pode acordar a qualquer momento. — Me apressei para caminhar ao lado dela, ouvindo cada palavra e registrando. Pelo menos ela estava bem. — Fique à vontade, qualquer coisa nos chame.

Entrei no quarto, com a enfermeira fechando a porta atrás de mim. Me aproximei com passos lentos, com medo de como veria ela naquela maca e qual seria minha reação. Aos poucos, tomei coragem. Ela estava deitada, vestindo a roupa típica de hospital. Tinha a cabeça enfaixada e tomava soro, acho que perdeu certa quantidade de sangue porque a faixa na testa já mostrava certa quantidade de sangue. Mas já havia sido suturado, pelo que a enfermeira disse. Respirei fundo, me sentando ao lado dela. A pele estava ainda mais branco - apesar de eu achar que isso fosse impossível - e parecia num sono tão profundo. O ombro esquerdo estava imobilizado. Peguei a mão direita dela e segurei. Estava gelada... Será que ela estava com frio? o ar condicionado da sala estava deixado a sala bem fresca.

- Oi, Jenny. — Falei, sem saber se ela iria me escutar. - Como você está? Eu tive que mentir para o hospital dizendo que você era minha namorada para eles me deixarem te ver.... São cinco da manhã, eu teria que voltar no horário de visita se quisesse te ver... Então eu disse que era sua namorada, e eles acreditaram porque eu estava desesperada com a possibilidade de te perder. - Suspirei, rindo de leve. — Eu nunca senti tanto medo quanto na hora que cheguei nesse hospital e perguntei por você. Sabe, Jenny, eu devia ter sido mais sincera com você. Fiz carinho na mão dela, as palavras simplesmente saiam. Eu devia ter te contado sobre tudo a respeito dos gêmeos, é só que... Você passou muito tempo fora da minha vida e eu tenho medo que saia dela de novo.

Respirei fundo, sentindo uma vontade repentina de chorar. Já que estava sozinha, me permiti derramar lágrimas. Eu sentia que tinha muita coisa para chorar. Eu amei aquela garota minha vida toda. Eu mal me lembrava de um tempo antes de amá-la. Ela sempre esteve presente na minha vida, sempre, sempre... Sempre foi ela. Por que nós ainda tínhamos tanto problemas? Naquele segundo, segurando a mão de Jenna, eu acreditei em destino como nunca antes. Eu acreditei em alma gêmeas, acreditei em todos aqueles poemas de amor que me fizeram pensar que ninguém seria capaz de amar tanto assim. Mas era. Era porque eu amava uma garota naquela intensidade e me sentia uma tola por só me dar conta disso quando quase a perdi de novo. Jenna era o amor da minha vida, Ortega era o nome que eu queria junto ao meu. Ela parecia uma adolescente irresponsável, mas era a minha adolescente irresponsável. Eu gostava, do jeito irritante, do riso fácil, das cantadas o tempo todo, das provocações... Gostava de como ela sempre levava uma blusa extra quando íamos no cinema porque sabia que eu sentiria frio. Gostava como sempre separava a pipoca dela da minha, porque eu gostava de muita manteiga e ela nem tanto. Gostava como ela ainda sabia tanto sobre mim.

- Por favor, acorda. - Pedi. - Eu quero te dizer tanta coisa. Eu amo você, Jenna. Amo tanto. Eu amei você a minha vida toda. Eu te amo desde que você salvou o Timão, 18 anos atrás. Eu sou apaixonada pelos seus olhos de gato de rua. Eu sou apaixonada pelo teu perfume que nunca muda de essência, sou apaixonada pelo sua mania de sempre mascar chiclete. — Beijei, levemente sua mão. - Eu te amo.

Dizer aquelas palavras foi mais terapêutico que o esperado. Pensei em todas as vezes que eu devia ter dito isso para ela. Na minha festa de quinze anos. Quando ela dançou comigo e eu tive medo pelo meu pai... Eu tive medo de tanto. O medo me afastou dela. Eu não ter coragem de ser feliz com ela me fez criar uma vida falsa, casar com meu melhor amigo e achar que eu podia ser plenamente feliz sem ela. Claro, minha felicidade não se baseava em Jenna... Não era como se eu precisasse dela para existir. O amor é algo tão confuso... Não como se faltasse uma parte de mim sem ela, mas como se o mundo fosse maior com ela perto. Eu era uma galáxia inteira, completa, e Jenna é outra galáxia inteira. Mas era como se... se eu quisesse ser com ela. Eu querer tão grande que se tornava necessidade. Eu gostava da forma que ela sempre complementava o meu ser. Ela era onde eu não era. Ela não era minha metade, porque eu já estava inteira... Tentar explicar o que Jenna era para mim era tão estranho. Era para eu ser com ela. Sempre. Como se fosse escrito no livro do destino... Naquele segundo, tocando a mão dela, eu me vi fazendo a mesma coisa em tantas épocas diferentes. Eu sempre acreditei que o amor fosse para me completar, mas... Jenna era para me fazer transbordar.

- Quem diria que eu ia precisar cair de moto para você admitir. — Ela riu, abrindo os olhos de levinho. Meu peito se aliviou de uma maneira incrível.

- Quanto ouviu?

- Tudo, finge que tava dormindo para não ter que falar com a enfermeira. — Jenna respondeu.

- Você é terrível! — Não acreditei que ela seria tão cara de pau assim. Meu rosto ficou vermelho... Ela havia escutado tudo.

- Sabe, Emy... Já passou da hora da gente aceitar que somos almas gêmeas. — Ela me encarou, séria. - Eu amo você. Desde que eu tinha oito anos. Você fez eu querer sair de casa, brincar na rua, dormir fora de casa. Você me deu vontade de viver fora da função de ser uma filha perfeita que eu sempre achei que devia ser. — Jenna apertou minha mão. — Mas eu odeio mentiras, sabia? Então, só para não ter mentido para o hospital, quer namorar comigo?

- Você é idiota. - Falei, rindo. Espera, ela não riu. - Você está falando sério?

- Sério demais.

- Jenna, eu...

- Tem filhos, uma vida agitada, trabalha grande parte do tempo e é divorciada? - Ela comentou. — Eu cansei, Emma. Já passou da hora de eu e você ser nós.

Sorri, meu peito agitado. Me inclinei sobre ela e a beijei, levinho, sussurrando um "eu aceito". Era isso. Eu e Jenna finalmente estávamos namorando. Era quase um sonho, lembrando do tempo que tudo isso levou. Queria voltar no tempo, abraçar aquela Emma que chorava na cama quando Ortega havia saído da minha vida - por pedido meu - e dizer que tudo ficaria bem. Agora eu entendia. Entendia porque não deu certo antes: Porque não era para ter dado. Eu era imatura, Jenna era imatura, nós não conseguimos lidar com nossos problemas, muito menos com o que sentíamos. Apesar de termos brigado na noite passada, era diferente. Eu estava com medo... Mas ele havia sumido agora. Aquele vestígio de insegurança finalmente ficou na minha adolescência. Agora eu namorava. Era estranho dizer isso, mas namorávamos. Aquela era minha garota, a com o corpo tatuado, sorrisos convencidos, sotaque francês, perfume amadeirado, hálito de menta e um imenso gosto por músicas antigas. Aquela motoqueira sem juízo era a minha motoqueira sem juízo. Não como propriedade, longe disso. Estava mais para minha peça complementar. Era a galáxia que fazia a minha ser ainda maior. Eu era a garota dela. O som dessas palavras era tão doce na minha boca. Eu me sentia tão livre sendo agora parte dela, sendo parte daquela individualidade. Eu era parte do furacão Ortega. Minutos depois, tive que sair da sala, com o peito cheio de felicidade, transbordando de amores. Rapidamente, fiz o que Jenna havia me pedido: ligar para os pais dela e avisar do acidente, mas já dizer que não foi nada sério e que ela sairia dali logo pela manhã.

E, claro, já contar que eu era a nora deles.

P.S: Eles disseram "finalmente!!" quando contei. Fingi que não entendi.

kairós Onde histórias criam vida. Descubra agora