kairós

"Me diz o que fazer com todo esse amor."

Sabe, a reação dela está viva aqui mesmo horas depois. A cara ficando mais branca que tudo, a fala gaguejada, o desespero aparente até eu falar que eram adotados. Aí ela pareceu relaxar um pouco, mas mesmo assim foi embora meio desnorteada, nem insistou para sairmos. Enquanto eu me revirava na cama, ansiosa pelo resultado do concurso, fiquei lembrando da reação dela. Ri, fraco, tinha sido engraçado na hora, mas agora me preocupava. Será que eu devia ter contado antes? Não sei, nunca vi a necessidade de falar, não parecia ser algo tão importante. Balancei a cabeça, deixando isso para lá e finalmente tomando coragem para pegar meu notebook (no meu celular deveria ter mensagens sobre o resultado, eu queria surpresa) e digitei o site do concurso. Meu peito se encheu de felicidade com uma matéria sobre nosso grupo, falando da vitória merecida e com uma foto incrível de Jenna escorada na moto, mascando o chiclete com a luz alaranjada banhando o corpo dela. Mordi a boca. Ela ainda era tão linda.

Tudo bem, não tinha nada a ver com a Jenna que eu costumava conhecer. Era uma garota cheia de lábia, que amava uma atenção, que sabia muito bem conseguir o que queria. Eu fantasiava mais vezes do que gostaria como seria vê-la em Bordéus, andando em uma moto antiga, com jaqueta e o sotaque francês... Me derretia só de pensar. Aos poucos aceitei que sim, eu estava apaixonada pela nova Jenna Ortega. Tanto - senão mais - do que estava antes pela antiga Jenna. Me revirei na cama, mordendo a boca. É, eu estava gostando dela, de novo.

Mas agora eu não queria negar isso.

XXX

Os gêmeos fariam um ano dia 8 de outubro. Logo no começo desse mês recebi a ligação que informava que meu divórcio iria atrapalhar o processo de adoção, mas meu advogado, Lucas Koka, estava resolvendo tudo para que eu não perdesse a guarda dos gêmeos. Tendo a certeza que tudo continuaria bem, mantive os planos de que no aniversário deles, eles estariam comigo. Pensando nisso, me joguei em São Paulo com toda minha turma: íamos comemorar o aniversário deles no apartamento do meu avô, onde por muitos anos comemorei o meu. A lista de convidados não era grande: Moosa e Talita, Georgie e Hall (eles estavam namorando!), Matheus e Gabi (dá para acreditar que eles estão juntos??), Naomi e Johnna (essas ainda não se assumiram), Mika e Joy e seu marido, que eu nunca lembro o nome. Estava reunindo a turma toda. Hunter ainda estava viajando e disse que não poderia ir, mas estava tão empolgado com o mochilão... Pablo, filho da Joy, também vinha pra festinha. Chamei a Helena para ir comigo, já que o avô estava passando um tempo com uma tia dela. Ele estava tendo umas complicações mais sérias de saúde e Lena precisava de ajuda para cuidar dele. Estava tão sobrecarregada que a convenci de fazer a viagem até São paulo comigo, seria apenas um final de semana. E, claro, convidei Jenna.

O clima todo por lá era nostálgico. Havíamos decorado o lugar com balões, no mesmo salão onde anos atrás todos nós éramos crianças ajudando meu avô a fazer pizza. Hoje, Pablo com seus quatro aninhos já enchia ele de perguntas como nós um dia fizemos. Minha mãe ainda morava ali, na mesma casa. Tudo estava no mesmo lugar. Naomi, Johnna, Georgie, Joy, Moosa e eu estávamos ao redor do meu avô na cozinha, falando sobre inúmeros assuntos, como sempre fazíamos. Poucas diferenças existiam: Pablo sentando no balcão como Georgie costumava ficar, Hall num canto acompanhando tudo...

- Então, Hunter não vem? - Bartolo perguntou, fazendo a massa das pizzas. O sotaque italiano havia se perdido ao longo dos anos... nunca entendi porque ele o manteve por tanto tempo e parou de usar agora. Talvez, falando com tanta gente no Brasil todo sobre seu restaurante, a coisa havia mudado.

- Está na Europa, todo chique. — Naomi respondeu, desviando da mão suja de farinha do Moosa.

- Vocês estão grandes demais, sabia? — Meu avô riu. - Menos você, Georgie. - Brincou ele falando com o Pablo. — Você continua igual.