O Assassino dos Ninhos

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Eu sinto medo o tempo inteiro.
Não há como superar o que me foi feito e eu realmente não quero falar sobre isso, mas preciso. Gostaria de poder esquecer isso.
Às vezes, sinto vontade de morrer, pra não ter que viver com essas memórias terríveis.
Então, prestem muita atenção, porque eu só vou contar uma vez como tudo aconteceu.

Era madrugada e eu estava voltando de uma festa com uma amiga da faculdade. Ela mal se lembra disso. Tínhamos bebido além da conta, e ela tem bem menos resistência ao álcool do que eu. Não parava de cantar e me abraçar e cambalear pelas ruas. Tivemos que parar em frente a uma lixeira pra que ela pudesse vomitar. Eu não estava em uma situação muito melhor que a dela, por isso, não percebi a aproximação de uma figura encapuzada que me agarrou pelo pescoço colocando um pano banhado em clorofórmio no meu rosto. Só ouvi os gritos de minha amiga antes de tudo escurecer.

Quando recobrei a consciência, me vi amarrada a uma cama de ferro numa sala grande, branca e sem janelas. No canto oposto haviam prateleiras cheias de potes contendo vários tipos de insetos e outros tipos de animais nojentos ou perigosos. Um homem de meia idade com cabelos e bigodes grisalhos me observava em um silêncio contemplativo.

Quando ele percebeu que eu estava acordada, um leve sorriso apareceu em seus lábios.
Eu estava assustada e desesperada e implorei pra ele não me machucar.
Ele apenas se levantou, se apresentou como O Cientista e disse que eu não precisava ter medo, porque tudo o que ele queria era me ajudar.

Como? Ele disse que estudava o medo e seu maior objetivo era ajudar as pessoas a superar fobias. Tinha inventado um novo método, completamente inovador, mas precisava de voluntários para testa-lo.
Então ele me fez uma pergunta, que até hoje assombra meus pesadelos:
"Qual é o seu pior medo?"

Quando eu fiquei em silêncio, ele continuou:
"Não vai me responder? Vai ser mais fácil se você colaborar. É uma pergunta simples, qual é seu maior medo?"
E quando continuei calada, ele suspirou.
"Vai ter que ser do jeito difícil."

Ele foi até uma das prateleiras e pegou uma seringa cheia com um líquido branco.
Entrei em desespero e tentei puxar e arrancar as cordas que me prendiam até sentir meus pulsos e tornozelos sangrarem.
Assisti indefesa, ele se aproximar e injetar aquela substância em meu braço direito.

Continuei lutando e me contorcendo até o tranquilizante fazer efeito.
Senti minha respiração ficar mais fraca e meus olhos pesarem e, por um momento, achei que estava morrendo.

Acordei em outra sala, muito iluminada e, cuja única saída era uma porta de ferro trancada.
Só que a claustrofobia era o menor dos meus problemas. Ouvi os zumbidos, antes mesmo de abrir os olhos.
Baratas. Centenas, talvez, milhares andando e voando no chão e nas paredes ao meu redor. E também em cima de mim.

Levantei num salto e corri em direção a pesada porta, sacudindo minhas roupas e pisando em alguns insetos no caminho. Minhas batidas e gritos ecoavam no pequeno quarto, mas não havia resposta. Eu estava sozinha.

Mas não completamente. No teto, onde voava um enxame dos insetos nojentos pude ver uma câmera. E tive certeza que aquele louco estava me assistindo e analisando. Só que ele não iria me ajudar.

Então subi na cama e tentei respirar fundo. Entrar em pânico não me ajudaria.
As baratas eram assustadoras e nojentas, mas inofensivas. Elas se afastavam de mim por instinto e eu pisava nas que chegavam muito perto. Eu ia ficar bem, ele não podia me manter ali para sempre.

Não sei quanto tempo fiquei naquela sala. Pareceu uma eternidade.
Mas, de repente, a sala ficou completamente escura. Ouvi a porta se abrir, passos de alguém se aproximando e senti uma agulha ser enfiada em meu braço. Senti minha cabeça ficar mais e mais pesada, até apagar completamente caindo na cama com um baque surdo.

Não pude evitar, me sentir aliviada ao abrir meus olhos e ver que estava de volta a primeira sala, onde os animais estavam presos em potes.
As cordas que me prendiam a cama estavam mais apertadas do que antes.

Não demorou muito para a porta se abrir e O Cientista entrar.
Ele só fez uma pergunta:
"Quanto medo você sentiu?"

Eu respondi que nunca senti tanto medo em toda a minha vida.
Pensei que se eu fizesse ele pensar que seu plano estava dando certo, talvez, ele me deixasse ir embora.
Mas não funcionou. Ele disse que estudava a linguagem corporal humana e sabia quando alguém estava mentindo.
Perguntou novamente:
"Qual é o seu maior medo?"

Eu não respondi. Pode parecer estupidez desobedecer um sequestrador, mas eu tinha certeza que, no momento em que contasse a ele minha fobia, ele me trancaria em uma sala com ela.
O Cientista pareceu decepcionado. Pegou outra seringa e eu comecei a gritar e puxar as cordas, sem resultado algum, enquanto ele injetava o tranquilizante em mim novamente.

Acordei em uma sala cheia de aranhas de todos os tamanhos e cores possíveis. As patinhas andando por todos os cantos. As paredes com teias onde moscas desavisadas se prendiam e eram devoradas.
Dessa vez, não senti apenas nojo, mas medo genuíno. Já tinha assistido documentários sobre aranhas venenosas. Tentei ficar o mais longe possível delas, mas não havia pra onde escapar.
Eu gritava pra porta trancada e pra câmera presa ao teto pedindo socorro. Por fim, comecei a chorar me sentindo completamente impotente.

Quando as luzes se apagaram, não tentei lutar. Eu faria qualquer coisa pra sair daquele lugar.

Tranquilizante aplicado. Olhos se fechando.
Esse ciclo se repetiu mais vezes do que consigo contar. Passei dias indo de uma sala a outra. Ficando presa com todo o tipo de animais como lacraias, borboletas, lagartas, ratos, minhocas, cobras, abelhas, maribondos e muitos outros.

Eu oscilava entre implorar por piedade e ofender O Cientista com todos os xingamentos que eu conhecia.
Não suportava mais. Após ser liberada de uma sala cheia de escorpiões, eu perguntei se ele pretendia me matar.

O Cientista negou, como sempre.
Perguntei o que ele queria pra me deixar em paz. Ofereci dinheiro, eu pagaria o quanto ele quisesse e não contaria a polícia. Ele poderia tirar férias em algum lugar paradisíaco pelo resto da vida.
Ele respondeu que nem tudo na vida pode ser comprado. Nem todo o ouro do mundo mudaria seu propósito e que só queria que eu respondesse sua pergunta, então me deixaria ir pra casa.

Com certeza não podia ser tão fácil. Mas o que eu tinha a perder? Eu tinha chegado ao meu limite. Contei a ele que eu tenho fobia de anfíbios. Não sentia apenas medo, mas um pavor incontrolável.

O desgraçado pegou um vidro na estante com duas rãs e trouxe até perto de mim.
Eu senti minha cabeça girar, achei que fosse desmaiar. Acho que essa era toda a confirmação que ele precisava. Ele guardou o vidro e pegou outra injeção. Eu já esperava por isso mas, joguei na cara dele que tinha prometido me deixar ir embora. Ele respondeu que, no dia seguinte, me levaria de volta pra casa. Então senti a agulha no braço e voltei a ficar inconsciente.

Eu esperava tudo, menos acordar na mesma sala, ainda amarrada a cama e sem insetos ou bichos nojentos ao meu redor.
Mas nem tudo estava como antes.

Eu estava sem camisa, e vários curativos cobriam minha barriga inchada.
Eu parecia prestes a explodir e é assim que eu me sentia. Não tenho palavras pra explicar a sensação. Dor, angústia, enjôo. Como se eu tivesse engolido uma dúzia de pedras.

De repente, a porta abriu e O Cientista entrou sorridente. Perguntei o que ele fez comigo.
Tudo o que ele me respondeu foi:
"Agora você e seu medo são um só."

Tudo levava a mesma conclusão, mas eu estava em negação. Meu coração começou a pulsar tão rápido que achei que teria um infarto. E eu desejei que isso acontecesse, pra ter uma morte rápida.

Senti minha cabeça girar e minha visão turvar enquanto perdia lentamente a consciência. A última coisa que me lembro antes de desmaiar completamente foi a sensação de algo pulando dentro de mim.

*Se gostou dessa história, deixe seu voto e comenta aqui em baixo qual é o seu maior medo :)

20 Contos de Terror (Pior que a Morte)Where stories live. Discover now