19. XIX (dezenove)

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Pouco mais de um mês se passou desde a última vez que Sana e Dahyun se viram. Nesse meio tempo, trocaram pouquíssimas mensagens entre si. Logo, as férias de verão teriam seu fim marcando assim o início dos ensaios oficiais para o musical do Conselho Estudantil. O Festival Cultural estava cada vez mais próximo, era incrível como a segunda parte do ano sempre passava mais rapidamente. Agosto só tinha mais sete dias pela frente e Sana havia voltado do Japão já fazia uns três, mas ainda não tinha entrado em contato com ninguém na Coreia. Manteve-se em silêncio sobre seu retorno, pensando sobre todas as coisas que tiravam seu sono.

Esteve quase o tempo inteiro sozinha. Ensaiando e ensaiando todo santo dia desde o acampamento, de maneira nada saudável. Sabia recitar o roteiro todinho de cabeça. Cada descrição, cada verso de música, cada fala – inclusive das outras. Fez questão de aperfeiçoar seus passos de dança, sua entonação, seu canto, suas expressões. Não deixaria o menor erro passar, tudo sairia como foi idealizado. Mesmo que nada disso tivesse tanta importância quanto antes, a japonesa ainda sentia que precisava deixar algo relevante para trás. Ela tinha que deixar alguma coisa.

De preferência, memorável.

Algo que fizesse as pessoas sentirem orgulho dela. Algo que fizesse todo o seu esforço valer a pena e que não refletisse seu desgosto por si mesma, mas sim: sua busca por aprendizado, conhecimento, aprimoramento e o mínimo sorriso que conseguisse deixar no rosto das pessoas no fim do dia. É assim que gostaria de ser lembrada. E era assim que seria lembrada, não importa quão mentirosa fosse aquela sua máscara de perfeita. Sempre seria a aluna exemplar, feliz, segura de si, que não tinha medo de nada e que queria conquistar o mundo aos olhos dos outros. Sempre. Não importa quão cansada estivesse de tudo e todos, iria até o fim com aquilo.

— Queria tanto que você me dissesse o que eu deveria fazer agora. Como eu deveria me sentir, o que eu deveria gostar, o que eu deveria comer... Qualquer coisa. Porque eu não tenho pra quem perguntar nada disso. Eu só tinha você. Você era tudo pra mim. E até hoje eu não aprendi a viver num mundo sem você. — Sana disse, olhando para a lápide de Haru no cemitério que há tempos não pisava. — Mas, eu nunca cheguei a te conhecer de verdade... Cheguei? Vim seguindo cada um dos seus passos durante todos esses anos porque pra mim: você era perfeita. Mas, não faço a menor ideia do que você realmente gostava ou o que planejava fazer da vida ou como agia fora de casa... Nunca vou saber.

Ela suspirou, deixando uma flor sobre o túmulo da irmã.

— Você não é quem eu pensava que era. P-Pelo menos, não cem por cento do tempo. E eu odiei descobrir a forma que você tratava seus colegas.... Odiei mesmo. Mas, eu continuo te amando mais que tudo. E vou te amar pra sempre. Isso nunca vai mudar. Todo dia eu sinto sua falta, onee-chan. Sabe, eu estive lá na nossa cidade natal como fazemos todo ano... Mas, dessa vez, eu lembrei de você o tempo todo e isso me dói tanto que nem sei te dizer... Eu tô exausta, sinto que minhas energias foram embora. Não sei mais como é dormir bem, não sei se algum dia eu consegui desde que você foi embora.

Sana abraçou a si mesma, sentindo um vento frio bater em seu rosto.

— Eu faria qualquer coisa pra ter você aqui comigo agora, junto com a mamãe e o papai. Eles também sentem sua falta, dá pra ver. Às vezes eles me chamam de Haru. Isso já me irritou bastante, mas sei que eles não fazem por querer... De qualquer forma, prometo que vou dar o meu melhor nesse musical. Por você e por eles. Quero deixar pelo menos uma coisa boa pra trás, vou honrar nosso nome em sua memória. E depois... Talvez... T-Talvez, nós possamos nos reencontrar. Desculpa não ser tão forte quanto você, Haru. Eu tentei. Mas, nós sabemos que era pra ter sido eu, não você.

§

Dahyun passou todas aquelas semanas modificando o roteiro do musical ao lado de Tzuyu, o que resultou a ela mais falas e um solo de uma música que havia composto no piano sozinha. É verdade que no começo de tudo aquilo ela não queria fazer parte da peça, ela não queria falas, ela não queria cantar, dançar, atuar ou ter relação alguma com tanta exposição, pois odiava ter que lidar com multidões. Mas, tudo mudou no minuto que ela entendeu que isso era importante para Sana. Ela precisava disso. Então, a menina Kim se utilizaria do musical para que a japonesa abrisse os olhos e aprendesse a amar a si mesma.

Bloom Me - SaiDaWhere stories live. Discover now